Futebol, défice e cultura
Acabou o campeonato nacional de futebol. Vários candidatos ao título alternaram-se no primeiro lugar. As discussões, em todo o Portugal, sobre assunto tão magno sobrepuseram-se a todas as outras, até ser encontrado o vencedor.
O campeonato foi animado por várias peripécias do mundo do futebol: apitos dourados, indas e vindas de treinadores e jogadores, declarações incendiárias de dirigentes e comentadores desportivos, desmesurado tempo e espaço ocupado nos órgãos de comunicação social, preocupante pelo que revela do muito fumo que espalha sobre o que são os verdadeiros problemas do país e do próprio futebol.
Nos entretantos o défice ia e vinha do banho-maria que preparava o número de furos que iriam apertar ao cinto dos do costume, talvez a alguns mais para conforto espiritual dos apertantes, e o Benfica tropeçava em Penafiel, furava a baliza do Sporting, dava esperanças até ao último minuto ao F.C.Porto, alimentando emoções que atenuavam os sobressaltos que os políticos, encenando espantos e indignações, as luminárias da economia e os múltiplos comentadores (porque será que essa gente, salvo raríssimas excepções, parece ser toda clonada?) iam provocando, lançando avisos à navegação mais preocupada em dobrar o cabo da boa esperança do campeonato.
No caminho dos golos falava-se muito da falta de competitividade da economia nacional, o que é estranho já que, por essa altura, foi publicado um estudo que coloca os gestores portugueses no nono lugar mundial não do saber, não da competência, mas do valor da sua remuneração. Para que será que são tão bem pagos? Mistério. Também a propósito de competitividade soube-se, não é uma grande novidade, não é mesmo novidade nenhuma, que as empresas portuguesas são das que menos investem em investigação e desenvolvimento na Europa e mesmo em Portugal ficam bem para trás do malfadado Estado. Porque será que esses senhores, cheios de prosápia mas nada de correr riscos só investir pelo seguro e podar mais- valias financeiras, são contumazes a falar contra o Estado que tanto os protege? Também no calor do campeonato caí a notícia, prontamente menorizada, que os trabalhadores portugueses em Portugal estavam cotados entre os mais produtivos da Europa! Isto as luminárias&companhia não falam, nem referem. Como não referem quando se trata de falar do Estado gordo que é preciso emagrecer para tornar o défice aceitável aos olhos de Bruxelas, nos investimentos de desperdício em que o estado é useiro e vezeiro e que beneficiam fortemente as empresas, nomeadamente as de construção civil.
No calor do campeonato, e mesmo agora que a fogueira está no rescaldo, ninguém fala dos muitos milhões gastos em estádios de futebol. Seria bom que essas luminárias fizessem umas contitas, muito simples muito primárias, e fossem verificar em cada estádio qual foi o custo, quais são os custos de manutenção e quais foram as receitas, directas e indirectas, arrecadadas nesta época futebolística, para os amortizar. E qual foi o prejuízo do Euro 2004? Em números, desconte-se a orgulho nacional estrafegado pelo défice.
Essas megalomanias tiveram dois responsáveis principais. Um primeiro-ministro, António Guterres (porque será que um medíocre primeiro-ministro vai ser um bom Alto Comissário para os Refugiados? Ter ar de missionário ultra-parlapiante é competência vaga. Tal como a do outro que foi para Bruxelas debitar lugares comuns e ganhar bem. Honra para o país? Só num país medíocre e culturalmente devastado é que eleva esses sucessos a honrarias nacionais!) e um futuro primeiro-ministro, José Sócrates. Ambos deviam ser responsabilizados por se terem construído estádios excedentários, pela derrapagem dos custos das obras, pelo endividamento brutal de autarquias e clubes por via do Euro 2004 que eles promoveram a desígnio nacional. Por maiores que sejam as cambalhotas contabílisticas. no final, será o Estado a pagar esses excessos. Custos a mais que, por exemplo, tornam impossível olhar para uma grande obra de arquitectura e engenharia como o estádio de Braga sem um sobressalto. As obras de arquitectura não são economicamente neutras, como se pode ver pelos despachos que justificam pelo «imprescindível interesse público» para o turismo ou de equipamentos desportivos a aprovação de uma urbanização de luxo ou de uma mega-urbanização em zonas interditas à construção, para não referir os malfadados direitos adquiridos que permitem as maiores tropelias urbanísticas.
Entretanto, no calor do campeonato e das paixões clubísticas o futebol é cada vez mais um negócio, um negócio com um défice brutal que deve merecer a atenção do Estado que deve impor regras nesse chocante desregramento económico.
Um negócio que nos deve indignar por o estar a subtrair ao nosso imaginário cultural. Hoje um golo do Eusébio, que tanto prazer dava pela sua beleza, é uma mais-valia bolsista. Estão a meter-nos a mão nas nossas cabeças.
O campeonato foi animado por várias peripécias do mundo do futebol: apitos dourados, indas e vindas de treinadores e jogadores, declarações incendiárias de dirigentes e comentadores desportivos, desmesurado tempo e espaço ocupado nos órgãos de comunicação social, preocupante pelo que revela do muito fumo que espalha sobre o que são os verdadeiros problemas do país e do próprio futebol.
Nos entretantos o défice ia e vinha do banho-maria que preparava o número de furos que iriam apertar ao cinto dos do costume, talvez a alguns mais para conforto espiritual dos apertantes, e o Benfica tropeçava em Penafiel, furava a baliza do Sporting, dava esperanças até ao último minuto ao F.C.Porto, alimentando emoções que atenuavam os sobressaltos que os políticos, encenando espantos e indignações, as luminárias da economia e os múltiplos comentadores (porque será que essa gente, salvo raríssimas excepções, parece ser toda clonada?) iam provocando, lançando avisos à navegação mais preocupada em dobrar o cabo da boa esperança do campeonato.
No caminho dos golos falava-se muito da falta de competitividade da economia nacional, o que é estranho já que, por essa altura, foi publicado um estudo que coloca os gestores portugueses no nono lugar mundial não do saber, não da competência, mas do valor da sua remuneração. Para que será que são tão bem pagos? Mistério. Também a propósito de competitividade soube-se, não é uma grande novidade, não é mesmo novidade nenhuma, que as empresas portuguesas são das que menos investem em investigação e desenvolvimento na Europa e mesmo em Portugal ficam bem para trás do malfadado Estado. Porque será que esses senhores, cheios de prosápia mas nada de correr riscos só investir pelo seguro e podar mais- valias financeiras, são contumazes a falar contra o Estado que tanto os protege? Também no calor do campeonato caí a notícia, prontamente menorizada, que os trabalhadores portugueses em Portugal estavam cotados entre os mais produtivos da Europa! Isto as luminárias&companhia não falam, nem referem. Como não referem quando se trata de falar do Estado gordo que é preciso emagrecer para tornar o défice aceitável aos olhos de Bruxelas, nos investimentos de desperdício em que o estado é useiro e vezeiro e que beneficiam fortemente as empresas, nomeadamente as de construção civil.
No calor do campeonato, e mesmo agora que a fogueira está no rescaldo, ninguém fala dos muitos milhões gastos em estádios de futebol. Seria bom que essas luminárias fizessem umas contitas, muito simples muito primárias, e fossem verificar em cada estádio qual foi o custo, quais são os custos de manutenção e quais foram as receitas, directas e indirectas, arrecadadas nesta época futebolística, para os amortizar. E qual foi o prejuízo do Euro 2004? Em números, desconte-se a orgulho nacional estrafegado pelo défice.
Essas megalomanias tiveram dois responsáveis principais. Um primeiro-ministro, António Guterres (porque será que um medíocre primeiro-ministro vai ser um bom Alto Comissário para os Refugiados? Ter ar de missionário ultra-parlapiante é competência vaga. Tal como a do outro que foi para Bruxelas debitar lugares comuns e ganhar bem. Honra para o país? Só num país medíocre e culturalmente devastado é que eleva esses sucessos a honrarias nacionais!) e um futuro primeiro-ministro, José Sócrates. Ambos deviam ser responsabilizados por se terem construído estádios excedentários, pela derrapagem dos custos das obras, pelo endividamento brutal de autarquias e clubes por via do Euro 2004 que eles promoveram a desígnio nacional. Por maiores que sejam as cambalhotas contabílisticas. no final, será o Estado a pagar esses excessos. Custos a mais que, por exemplo, tornam impossível olhar para uma grande obra de arquitectura e engenharia como o estádio de Braga sem um sobressalto. As obras de arquitectura não são economicamente neutras, como se pode ver pelos despachos que justificam pelo «imprescindível interesse público» para o turismo ou de equipamentos desportivos a aprovação de uma urbanização de luxo ou de uma mega-urbanização em zonas interditas à construção, para não referir os malfadados direitos adquiridos que permitem as maiores tropelias urbanísticas.
Entretanto, no calor do campeonato e das paixões clubísticas o futebol é cada vez mais um negócio, um negócio com um défice brutal que deve merecer a atenção do Estado que deve impor regras nesse chocante desregramento económico.
Um negócio que nos deve indignar por o estar a subtrair ao nosso imaginário cultural. Hoje um golo do Eusébio, que tanto prazer dava pela sua beleza, é uma mais-valia bolsista. Estão a meter-nos a mão nas nossas cabeças.