Votação conservadora em Inglaterra
cancelada na Escócia e País de Gales

Terceiro mandato de Blair será curto

Manoel de Lencastre
Como resultado das recentes eleições gerais britânicas, é lícito afirmar que o primeiro-ministro, Tony Blair, ficou na chefia do governo mas não ficou no poder. Na verdade, logo que se conheceu o resultado das eleições, Blair, tentou tomar medidas de reforço da sua posição no Gabinete e no governo em geral, mas certas figuras de peso na hierarquia do Partido Trabalhista (John Prescot, Charles Clarke, principalmente) opuseram-se-lhe de maneira frontal e sem dar lugar a equívocos. Assim, a remodelação governamental deixou os partidários do 'New Labour' longe, muito longe, da situação dominante de que dispunham antes do acto eleitoral. E os 'brownistas ', apoiantes do chanceler do Tesouro, Gordon Brown, sentem-se mais fortes do que nunca.
Partiu-se, portanto, para uma nova era quando a terceira vitória consecutiva dos trabalhistas nas eleições parlamentares britânicas faria supôr terem sido reeleitos para uma política de continuidade. Mas não foi assim. A maioria absoluta foi reduzida de 161 lugares para 67, apenas. Quem votou trabalhista ? Quem votou contra Blair? Fora de dúvida, a imensa massa de povo que, não tendo ligações aos trabalhistas, apoiara o primeiro-ministro em 1967 e 2001, desertou-o quase em massa. Toda a Grã-Bretanha está de acordo em que a guerra no Iraque descredibilizou Blair, destruiu-lhe a integridade.
Nestas circunstâncias, o que se viu foi o Partido Liberal-Democrata aumentar para 62 o número dos seus deputados à Câmara dos Comuns e os conservadores, liderados pelo antigo ministro de Margaret Thatcher, Michael Howard, que já anunciou a sua demissão, quase atingirem os 200 lugares. Estes resultado dos 'Tories' deixa prever que o Partido do patronato e do capitalismo será cedo ou tarde ressuscitado, uma vez mais, devido actos hesitantes e distanciados dos interesses populares praticados pelos governos trabalhistas de direita.
A vitória de Blair veio da Escócia e do País de Gales dado que em Inglaterra os conservadores e os liberais tiveram maioria de votos. Mas o peso que ainda representam aquelas duas nações britânicas na relação de forças políticas no terreno decidiu tudo. Nos dois países em questão conta muito a luta contra o desemprego, a acessibilidade aos serviços sociais, os créditos volumosos que o Orçamento Geral lhes dedica. Os cidadãos, assim, confiam em que os governos trabalhistas continuem a mostrar-se inclinados a dar-lhes a protecção que os conservadores, tradicionalmente, recusam. Por isso, votaram 'Labour', apesar dos partidos nacionais, e esqueceram a comprovada duplicidade de Tony Blair. O mapa dos resultados obtidos pelos conservadores mostra uma Inglaterra transformada numa extensa mancha azul. Mas nas grandes cidades como Londres, Birmingham (apesar do desastre da Rover), Manchester, Liverpool, Newcastle, Leeds, a votação trabalhista manteve-se mais ou menos sólida.

O voto no Ulster (Irlanda do Norte)

Por motivos claros, a eleição de deputados pela Irlanda do Norte ao parlamento de Westminster, era aguardada com particular ansiedade. O voto polarizou-se. Sairam derrotados os moderados do UUP (United Unionist Party) que viu o seu 'leader', David Trimble, ser vencido em Upper Bann, enquanto os partidos mais ligados à tradição religiosa se mantiveram firmes. Com efeito, o Democratic Unionist Party (direita protestante) elegeu 9 deputados e o Sinn Fein (católico, republicano, pró-Irlanda Unida) viu sairem vencedores os seus candidatos em Belfast West, Fermanagh & South Tyrone, Newry & Armagh, Tyrone West. Gerry Adams, o principal dirigente do Sinn Fein, venceu em BelfastWest com 70,48% dos votos.

Pelo menos 46% dos eleitores exigem a demissão de Blair
«Tony, deixa-nos em paz !»


A luta pela substituição de Tony Blair começou logo que foram conhecidos os resultados das eleições. Figuras do 'Labour Party', como Robin Cook, Frank Dobson, Glenda Jackson, lançaram um desafio sem precedentes ao primeiro-ministro intimando-o a declarar, publicamente, que abandonará o lugar que ocupa até ao próximo Congresso do Partido Trabalhista. Gordon Brown, o Chanceler do Tesouro, é visto, cada vez mais, como o sucessor de Blair. Pelo menos 52% dos votantes trabalhistas disseram que a vitória conseguida no dia 5 de Maio, a ele se ficou a dever posto que Blair tinha deixado de merecer a confiança do eleitorado.
Robin Cook, anterior Mnistro do 'Foreign Office' disse ao programa 'Politics Show' da BBC: «Temos de respeitar o primeiro-ministro por ter levado o 'Labour Party' ao terceiro mandato consecutivo. Mas, dada a sua posição perante o país, deve demitir-se antes das eleições regionais da próxima Primavera. Mr. Blair deve aceitar que o Partido Trabalhista necessita de um novo 'leader' que possa reconstruir a unidade.» Frank Dobson, antigo ministro da Saúde, entrevistado pelo programa 'Sunday Programme', da GMTV, afirmou: «Blair tem prejudicado gravemente o nosso partido. Quem nos ganhou as eleições foi Gordon Brown. Tony só nos fez perder lugares».
Por seu lado, a actriz, Glenda Jackson, antiga ministra dos Transportes, afirmou aos jornalistas de uma publicação dominical: «Nas eleições, o povo britânico gritou com toda a força dos seus pulmões: 'Blair, deixa-nos em paz !'». As exigências do povo britânico para que o primeiro-ministro se retire da vida política estão a causar brechas severas na disciplina interna dos trabalhistas. E a grande imprensa conservadora leva-nos a recordar a grande crise no seio dos 'Tories' que levou à demissão de uma Margaret Thatcher orgulhosa mas em lágrimas.
Numa consulta realizada pela agência 'YouGov', nada menos de 46% dos eleitores disseram desejar que Tony Blair saia da vida política dentro de um ano, no máximo. Outros 26% esperam que o faça nos próximos dois anos. Entre o eleitorado trabalhista, 52% disseram que lhes será agradável a entrada de Gordon Brown no No. 10 de Downing Street.
Muitos deputados trabalhistas perderam o respeito ao primeiro-ministro. A vulnerabilidade da sua posição foi claramente expressa logo a 6 de Maio quando se negociava a remodelação ministerial. Nesse processo, com os resultados das eleições em cima da mesa, viu-se que a autoridade de Blair estava em ruínas. Em desespero, recusou-se a participar na cerimónia de comemoração do 60º aniversário da rendição incondicional dos nazis, tal como se furtou a comparecer à parada em Moscovo.
Entretanto, a complexidade dos 'dossiers' em suspenso (Constituição Europeia, Iraque, sistema de reformas, declínio da indústria transformadora, colapso do mercado da propriedade habitacional) podem conduzir a que Blair fuja às suas responsabilidades, uma vez mais! e se refugie algures alegando problemas de saúde.


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