Desertar das guerras coloniais
Realizou-se no passado dia 9 de Abril mais uma edição da Taça Herculano Pimentel (torneios individuais de espada feminino e masculino), organizada pelo CDUL nas instalações do Estado Universitário de Lisboa. A primeira edição deste torneio realizara-se em 1967. Nessa edição ainda eu participei… Claro, «menino e moço»!
Sobre a figura do homenageado já escrevi. Treinador emérito, democrata convicto, cidadão ilustre, mas pouco conhecido. A realização de tal torneio pelo CDUL, se outros méritos não lhe coubessem, pelo menos abre a possibilidade de renovar a notícia e o exemplo de Herculano Pimentel junto das novas gerações de esgrimistas.
Um outro mérito de uma realização destas é possibilitar o reencontro de elementos de várias gerações de esgrimistas que muito ficaram a dever aos seus ensinamentos e à sua amizade. No caso vertente, aconteceu que tive a oportunidade de rever o João [Moreira] Freire - João Freire é o nome porque ficou conhecido como Professor Catedrático de Sociologia do Trabalho do ISCTE (Instituto Superior das Ciências do Trabalho e Empresa), agora reformado; Moreira Freire era (é) o seu «nome de guerra» no ambiente da Esgrima, que voltou a frequentar enquanto veterano praticante deste desporto - habitando Vila Nova de Ourém lá se desloca ao Estado Universitário de Lisboa para praticar a sua paixão de sempre.
Há muitos anos que não o via, se bem que fosse sabendo dele. Mas ver, ver, já lá vão uns quase 36 anos. Estava numa cama num hospital em Paris após ter sido operado ao apêndice. Era a semana a seguir à Páscoa de 1969 e aí fomos (o Manso Pinheiro e eu) visitá-lo. Vínhamos de mais uma edição da Taça dos Campeões Europeus de Espada, onde estivéramos integrados no quinteto (incluindo um suplente) do quase crónico campeão nacional, o CDUL. O torneio realizava-se em Heidenheim, na República Federal Alemã, e nós mais uma vez aí estávamos a aproveitar a escala em Paris. Em Lisboa, antes de partir, contactados pela mãe do Moreira Freire, lá fomos a sua casa para receber as suas encomendas e os seus recados de saudades, que entregámos - aquelas - e transmitimos - estes - ao seu filho à data na tal cama do hospital parisiense sito lá para os lados dos Invalides…
Nessa altura, quando fomos a casa da sua mãe receber os pormenores da nossa missão, ainda não se sabia da urgência da operação à apendicite do seu filho. De tal modo, que fomos encaminhados por sua mãe para a recepção de um hotel em Paris onde o Moreira Freire empregava a sua força de trabalho. Aí chegados, o Manso Pinheiro e eu, fomos informados da ocorrência por um colega seu e, senhores dos detalhes fornecidos, apresentámo-nos à beira da tal cama de hospital, situada numa enfermaria imensa - parecia maior que as maiores camaratas que conheci durante o meu internato no Colégio Militar - dentro do horário autorizado para as visitas. O sorriso do acamado abriu-se de ponta a ponta, e o nosso também. Ele a dizer que, chegado a Paris, tinha feito a sua aprendizagem no Quartier Latin em Maio (de 68)! Demos as coisas, demos os recados, acamaradámos, até ao limite de tempo permitido às visitas. Também, em particular, não deixámos de lado as histórias esgrimísticas mais recentes, as do fim-de-semana em Heidenheim, incluindo mexericos…
Moreira Freire, o Professor João Freire, dois anos mais velho do que eu, meu contemporâneo do Colégio Militar, cujo pai, o General Silva Freire foi Comandante-Chefe das Forças Armadas em Angola e pereceu num desastre de aviação em serviço na década de 60, nos ares daquele País, João Freire, oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, já com uma comissão passada em Moçambique, desertara em 1968 para França… no tal famoso ano do Maio de 68 e dos Jogos Olímpicos do México, de entre outra coisas. Moreira Freire foi o capitão da equipa do CDUL em Heidenheim por altura da nossa primeira participação na Taça dos Campeões Europeus em 1965 e, no mesmo ano, fez parte da nossa representação à Universíada de Budapeste. João Freire que, por ocasião dos seus estudos na Faculdade de Ciências Políticas em Paris (Science Po), ainda beneficiou das suas artes esgrimísticas, pois fazendo a Esgrima parte do currículo do seu curso (!), conseguiu uma boa nota que ajudou a sua média de licenciatura.
E, com efeito, quando nos encontrámos agora, passado tanto e tão pouco tempo, depois dos protocolos e cumprimentos habituais, esta foi a primeira de várias histórias que veio à baila, trazida à colação por iniciativa de Moreira Freire.
Sobre a figura do homenageado já escrevi. Treinador emérito, democrata convicto, cidadão ilustre, mas pouco conhecido. A realização de tal torneio pelo CDUL, se outros méritos não lhe coubessem, pelo menos abre a possibilidade de renovar a notícia e o exemplo de Herculano Pimentel junto das novas gerações de esgrimistas.
Um outro mérito de uma realização destas é possibilitar o reencontro de elementos de várias gerações de esgrimistas que muito ficaram a dever aos seus ensinamentos e à sua amizade. No caso vertente, aconteceu que tive a oportunidade de rever o João [Moreira] Freire - João Freire é o nome porque ficou conhecido como Professor Catedrático de Sociologia do Trabalho do ISCTE (Instituto Superior das Ciências do Trabalho e Empresa), agora reformado; Moreira Freire era (é) o seu «nome de guerra» no ambiente da Esgrima, que voltou a frequentar enquanto veterano praticante deste desporto - habitando Vila Nova de Ourém lá se desloca ao Estado Universitário de Lisboa para praticar a sua paixão de sempre.
Há muitos anos que não o via, se bem que fosse sabendo dele. Mas ver, ver, já lá vão uns quase 36 anos. Estava numa cama num hospital em Paris após ter sido operado ao apêndice. Era a semana a seguir à Páscoa de 1969 e aí fomos (o Manso Pinheiro e eu) visitá-lo. Vínhamos de mais uma edição da Taça dos Campeões Europeus de Espada, onde estivéramos integrados no quinteto (incluindo um suplente) do quase crónico campeão nacional, o CDUL. O torneio realizava-se em Heidenheim, na República Federal Alemã, e nós mais uma vez aí estávamos a aproveitar a escala em Paris. Em Lisboa, antes de partir, contactados pela mãe do Moreira Freire, lá fomos a sua casa para receber as suas encomendas e os seus recados de saudades, que entregámos - aquelas - e transmitimos - estes - ao seu filho à data na tal cama do hospital parisiense sito lá para os lados dos Invalides…
Nessa altura, quando fomos a casa da sua mãe receber os pormenores da nossa missão, ainda não se sabia da urgência da operação à apendicite do seu filho. De tal modo, que fomos encaminhados por sua mãe para a recepção de um hotel em Paris onde o Moreira Freire empregava a sua força de trabalho. Aí chegados, o Manso Pinheiro e eu, fomos informados da ocorrência por um colega seu e, senhores dos detalhes fornecidos, apresentámo-nos à beira da tal cama de hospital, situada numa enfermaria imensa - parecia maior que as maiores camaratas que conheci durante o meu internato no Colégio Militar - dentro do horário autorizado para as visitas. O sorriso do acamado abriu-se de ponta a ponta, e o nosso também. Ele a dizer que, chegado a Paris, tinha feito a sua aprendizagem no Quartier Latin em Maio (de 68)! Demos as coisas, demos os recados, acamaradámos, até ao limite de tempo permitido às visitas. Também, em particular, não deixámos de lado as histórias esgrimísticas mais recentes, as do fim-de-semana em Heidenheim, incluindo mexericos…
Moreira Freire, o Professor João Freire, dois anos mais velho do que eu, meu contemporâneo do Colégio Militar, cujo pai, o General Silva Freire foi Comandante-Chefe das Forças Armadas em Angola e pereceu num desastre de aviação em serviço na década de 60, nos ares daquele País, João Freire, oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, já com uma comissão passada em Moçambique, desertara em 1968 para França… no tal famoso ano do Maio de 68 e dos Jogos Olímpicos do México, de entre outra coisas. Moreira Freire foi o capitão da equipa do CDUL em Heidenheim por altura da nossa primeira participação na Taça dos Campeões Europeus em 1965 e, no mesmo ano, fez parte da nossa representação à Universíada de Budapeste. João Freire que, por ocasião dos seus estudos na Faculdade de Ciências Políticas em Paris (Science Po), ainda beneficiou das suas artes esgrimísticas, pois fazendo a Esgrima parte do currículo do seu curso (!), conseguiu uma boa nota que ajudou a sua média de licenciatura.
E, com efeito, quando nos encontrámos agora, passado tanto e tão pouco tempo, depois dos protocolos e cumprimentos habituais, esta foi a primeira de várias histórias que veio à baila, trazida à colação por iniciativa de Moreira Freire.