Segurança Social ameaçada nos EUA

John Catalinotto
Não obstante o crescente cepticismo que acompanha o seu esquema de «reforma» da Segurança Social, o presidente norte-americano, George W. Bush, continua o périplo pelo país em campanha sobre a questão. «Eu vou dispensar muito tempo à Segurança Social. A matéria agrada-me», declarou, em meados de Abril, numa conversa com editores de imprensa escrita. Dick Cheney vice-presidente dos EUA juntou-se a Bush no seu esforço.

O argumento de Bush é que o sistema de Segurança Social se encontra em crise. A solução que apresenta inclui a privatização de uma parte dos fundos ali colocados para o pagamento de pensões de reforma, os quais poderão ser investidas individualmente pelos trabalhadores no mercado bolsista. Com a queda constante dos índices do mercado de acções durante todo este ano, o esquema assemelha-se mais a uma ameaça do que a uma oportunidade para um número cada mais vez maior de trabalhadores norte-americanos e motivou uma oposição generalizada por parte de vários sectores da sociedade, com excepção dos muito ricos.
Mas esta oposição não garante, por si só, que a administração Bush desista de tentar concretizar o programa. Bush e companhia ouviram com zelo e atenção somente um por cento da população, os milionários. Cuidadosamente orquestraram «encontros por cidade» para que Bush não enfrentasse qualquer opositor, presumindo que têm caminho aberto para impor o esquema à maioria das pessoas.
Aos mesmo tempo, as duas organizações de massas que lideram o processo de contestação ao plano de Bush são a confederação sindical, AFL-CIO, e a Associação Americana de Cidadãos Reformados, a AARP na sigla inglesa. A sua oposição consiste sobretudo no esclarecimento dos cidadãos através das suas publicações e no exercício de pressão sobre alguns eleitos. Uma passagem de olhos sobre o boletim da AARP do mês de Abril revela dois artigos centrais, um sobre a defesa da segurança social, com grande destaque para as lutas em torno desta matéria, e outro sobre o Medicaid, o plano de saúde que o governo reserva para os pobres.
Desde Janeiro que esta luta desceu às ruas. A AFL-CIO mobilizou milhares dos seus associados, com destaque para acções realizadas em 31 de Março, em 70 cidades, onde protestaram contra o plano de privatização da Segurança Social, contestação que visou directamente a Casa Branca, o Congresso e as instituições de Wall Street que conspiram no sentido de pressionarem os trabalhadores a subscreverem contas pessoais de Segurança Social.
O presidente da AFL-CIO, John Sweeney, que discursou na iniciativa realizada em Washington D. C., caracterizou o ataque de Bush à Segurança Social como «um esquema desprovido de sentido» na medida em que provocará «cortes nos benefícios, o crescimento do défice e contas gigantescas a serem pagas pelos nossos filhos e netos».
Na cidade de Nova Iorque, o centro do capital financeiro internacional, a Unite-Here, que representa cerca de meio milhão de trabalhadores e reformados, juntou-se a outros sindicatos para protestarem à porta do exclusivo Ritz-Carlton Hotel, onde o multimilionário investidor financeiro Charles Schwab dava uma recepção faustosa. Schwab é um dos maiores apoiantes de Bush na esperança de deitar a mão aos milhões de dólares do programa de fundos federais, criado há 67 anos, e agora cobiçado por correctores financeiros das anteriores comissões, como Schwab.
Não se trata apenas de manifestações nas grandes cidades costeiras e industriais. No Idaho, primeiro em 31 de Março e depois de novo a 7 de Abril, a plataforma Idahoans Unidos para Proteger a Segurança Social marchou em Boise para contestar o constante apoio da Wachovia Securitie’s ao plano de contas de investimento privadas. Em meados de Abril, 60 pessoas manifestaram-se na baixa da cidade de Columbia, na Carolina do Sul, em protesto contra o plano Bush. Estas regiões votaram maciçamente em Bush no anterior acto eleitoral.
Tudo isto são sinais de que Bush enfrenta numerosos obstáculos, mas nem os protestos simbólicos, nem mesmo a ameaça de perda de votos em futuras eleições asseguram o fim do seu projecto, uma vez que a soma de dinheiro envolvida se encontra à disposição da classe dominante que o sustenta. Mais há ainda um outro problema: o Partido Democrata, que até se juntou a alguns dos protestos, está ansioso por estabelecer compromissos com Bush sobre a Segurança Social, tal como têm feito em inúmeras outras matérias. Tal significa permitir cortes nos benefícios sociais, aumentar a idade da reforma e os impostos sobre os trabalhadores na esperança de que Bush desista da impopular medida de privatização da Segurança Social.
As circunstâncias exigem luta, não o estabelecimento de compromissos. Os trabalhadores sabem que ainda detêm a Segurança Social. Eles, as suas famílias e os marginalizados encontram-se totalmente dependentes do programa criado em 1938. O potencial para uma luta de massas independente dos dois partidos capitalistas existe, e permite unir toda a classe trabalhadora numa campanha militante para travar o ataque do governo à Segurança Social.


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