Iraquianos mostram resistência
O governo do Iraque prolongou o estado de emergência no país, numa semana em que a resistência respondeu ao endurecimento da ocupação e os EUA foram acusados de violações aos Direitos Humanos.
Já morreram no Iraque quase 1600 soldados dos EUA
Barham Saleh, chefe do executivo títere de Bagdad, decidiu, no final da semana passada, o prolongamento do estado de emergência no país alegando falta de condições de segurança.
O primeiro-ministro confere às tropas ocupantes a «almofada» formal para imporem o recolher obrigatório e limitarem a circulação de pessoas; emitirem mandatos de captura e busca; dissolverem e ilegalizarem associações, partidos e organizações conforme as conveniências; confiscarem ou congelarem bens e dinheiro de «indivíduos suspeitos», nacionais ou estrangeiros; procederem a escutas telefónicas ou à apreensão de equipamentos de comunicação sem qualquer tipo de controle.
Com tamanhas condições «especiais», torna-se cada vez mais evidente que o novo poder é incapaz de se apresentar credível perante o povo iraquiano, facto que se confirma pela eleição quase secreta, domingo, do presidente de um parlamento recentemente constituído, Hajim al-Hassani, e pela manutenção, pelo sexto mês consecutivo, do decreto repressivo.
Em Novembro do ano passado, a medida foi o pronuncio do ataque a Fallujah, cidade sitiada pelas tropas norte-americanas que sofreu uma ofensiva classificada como «matança» e cujos contornos agora se confirmam.
A água também mata
Jean Ziegler, relator da Comissão dos Direitos Humanos da ONU, denunciou que durante o cerco a Fallujah os EUA bloquearam o acesso das populações à alimentação, usando-a como arma de arremesso.
Baseando-se em dados apurados pela Universidade John Hopkins - constantes num estudo intitulado «Mortalidade antes e depois da invasão do Iraque em 2003» - Ziegler afirmou, domingo, em Genebra, que «está provado que em Fallujah o bloqueio à alimentação e a destruição de reservatórios de água foram utilizados como arma de guerra».
Para além desta «violação evidente das convenções sobre os Direitos Humanos», Ziegler qualificou a situação dos iraquianos «em matéria de direito à alimentação» como «muito preocupante», realidade que o sociólogo atribui «à consequências humanas da estratégia e da táctica militares aplicadas desde Março de 2003 pelas forças de ocupação».
Os factos foram refutados pelos representantes dos EUA na reunião, mas os números apresentados por Ziegler denunciaram os «efeitos desastrosos para a população civil», tais como a morte confirmada de mais de 100 mil iraquianos em consequência directa das operações militares e dos bombardeamentos da coligação anglo-americana, ou a duplicação dos casos de má nutrição entre os menores de cinco anos de idade.
Resistência não desarma
Entretanto, na sequência do endurecimento das condições do conflito levado a cabo pelos exércitos norte-americano e britânico, a resistência iraquiana respondeu com ataques diários e dispersos por várias cidades desde meados da semana passada. A estratégia ressurgiu bem mais organizada e assume como objectivos principais provocar baixas entre os soldados ocupantes e colaboracionistas reduzindo a moral geral das tropas e, noutra frente, golpear as infra-estruturas de exploração e transformação de petróleo do país.
No sábado, um dos símbolos da tortura e repressão contra os iraquianos, a prisão de Abu Ghraib, foi atacada por um grupo armado de cerca de meia centena de homens. Os combates duraram quase uma hora e resultaram no ferimento de 44 soldados e outros 12 prisioneiros, números que obrigaram o comandante daquela unidade militar a sublinhar a capacidade de organização dos «rebeldes».
No mesmo dia, um marine foi abatido em Hadithah, a noroeste de Bagdad, cenário que se repetiu no domingo com o rebentamento de um engenho explosivo em Baiji, 250 km a norte da capital iraquiana.
Anteriormente, dois dias de confrontos generalizados banharam de sangue as províncias em redor de Bagdad.
Na sexta-feira, os ataques da resistência começaram de madrugada com a morte de pelo menos seis polícias iraquianos, quatro dos quais numa emboscada ao chefe da polícia de Baladruz e outro na localidade de al-Muchadah. Horas depois, em Ramadi, um soldado dos EUA morreu durante uma troca de tiros na cidade, enquanto em Dhuluiyah um militar iraquiano foi alvejado mortalmente durante a patrulha.
Na quinta-feira, dia em que o governo comunicou o prolongamento do estado de emergência, um norte-americano foi morto em Bagdad e outras dez iraquianos pertencentes às forças de segurança faleceram na sequência da explosão de duas viaturas armadilhadas, uma em Samarra e outra em Tuz.
Estatísticas oficiais do Pentágono confirmam que, desde Março de 2003, já morreram em combate no Iraque quase 1600 soldados dos EUA
O primeiro-ministro confere às tropas ocupantes a «almofada» formal para imporem o recolher obrigatório e limitarem a circulação de pessoas; emitirem mandatos de captura e busca; dissolverem e ilegalizarem associações, partidos e organizações conforme as conveniências; confiscarem ou congelarem bens e dinheiro de «indivíduos suspeitos», nacionais ou estrangeiros; procederem a escutas telefónicas ou à apreensão de equipamentos de comunicação sem qualquer tipo de controle.
Com tamanhas condições «especiais», torna-se cada vez mais evidente que o novo poder é incapaz de se apresentar credível perante o povo iraquiano, facto que se confirma pela eleição quase secreta, domingo, do presidente de um parlamento recentemente constituído, Hajim al-Hassani, e pela manutenção, pelo sexto mês consecutivo, do decreto repressivo.
Em Novembro do ano passado, a medida foi o pronuncio do ataque a Fallujah, cidade sitiada pelas tropas norte-americanas que sofreu uma ofensiva classificada como «matança» e cujos contornos agora se confirmam.
A água também mata
Jean Ziegler, relator da Comissão dos Direitos Humanos da ONU, denunciou que durante o cerco a Fallujah os EUA bloquearam o acesso das populações à alimentação, usando-a como arma de arremesso.
Baseando-se em dados apurados pela Universidade John Hopkins - constantes num estudo intitulado «Mortalidade antes e depois da invasão do Iraque em 2003» - Ziegler afirmou, domingo, em Genebra, que «está provado que em Fallujah o bloqueio à alimentação e a destruição de reservatórios de água foram utilizados como arma de guerra».
Para além desta «violação evidente das convenções sobre os Direitos Humanos», Ziegler qualificou a situação dos iraquianos «em matéria de direito à alimentação» como «muito preocupante», realidade que o sociólogo atribui «à consequências humanas da estratégia e da táctica militares aplicadas desde Março de 2003 pelas forças de ocupação».
Os factos foram refutados pelos representantes dos EUA na reunião, mas os números apresentados por Ziegler denunciaram os «efeitos desastrosos para a população civil», tais como a morte confirmada de mais de 100 mil iraquianos em consequência directa das operações militares e dos bombardeamentos da coligação anglo-americana, ou a duplicação dos casos de má nutrição entre os menores de cinco anos de idade.
Resistência não desarma
Entretanto, na sequência do endurecimento das condições do conflito levado a cabo pelos exércitos norte-americano e britânico, a resistência iraquiana respondeu com ataques diários e dispersos por várias cidades desde meados da semana passada. A estratégia ressurgiu bem mais organizada e assume como objectivos principais provocar baixas entre os soldados ocupantes e colaboracionistas reduzindo a moral geral das tropas e, noutra frente, golpear as infra-estruturas de exploração e transformação de petróleo do país.
No sábado, um dos símbolos da tortura e repressão contra os iraquianos, a prisão de Abu Ghraib, foi atacada por um grupo armado de cerca de meia centena de homens. Os combates duraram quase uma hora e resultaram no ferimento de 44 soldados e outros 12 prisioneiros, números que obrigaram o comandante daquela unidade militar a sublinhar a capacidade de organização dos «rebeldes».
No mesmo dia, um marine foi abatido em Hadithah, a noroeste de Bagdad, cenário que se repetiu no domingo com o rebentamento de um engenho explosivo em Baiji, 250 km a norte da capital iraquiana.
Anteriormente, dois dias de confrontos generalizados banharam de sangue as províncias em redor de Bagdad.
Na sexta-feira, os ataques da resistência começaram de madrugada com a morte de pelo menos seis polícias iraquianos, quatro dos quais numa emboscada ao chefe da polícia de Baladruz e outro na localidade de al-Muchadah. Horas depois, em Ramadi, um soldado dos EUA morreu durante uma troca de tiros na cidade, enquanto em Dhuluiyah um militar iraquiano foi alvejado mortalmente durante a patrulha.
Na quinta-feira, dia em que o governo comunicou o prolongamento do estado de emergência, um norte-americano foi morto em Bagdad e outras dez iraquianos pertencentes às forças de segurança faleceram na sequência da explosão de duas viaturas armadilhadas, uma em Samarra e outra em Tuz.
Estatísticas oficiais do Pentágono confirmam que, desde Março de 2003, já morreram em combate no Iraque quase 1600 soldados dos EUA