CDH sob pressão norte-americana

Cuba denuncia terrorismo diplomático

Na 61.º sessão da Comissão dos Direitos Humanos (CDH), que decorre em Genebra, os EUA procuram aprovar uma moção anticubana e tentam esconder as torturas em Guantanamo e Abu Ghraib.

«A política dos EUA consiste na selecção dos relatores conforme a sua visão do mundo»

A denúncia foi feita sábado pelo representante da delegação cubana, Rodolfo Reys Rodríguez, que revelou o autêntico terrorismo diplomático movido pelos EUA junto de diversos países membros da CDH em nome de uma autodenominada «comunidade de democracias».
Apesar da intenção norte-americana não ser nova, Rodríguez lembrou que as manobras demonstram que Bush procura «transpor as suas práticas mafiosas e eleitorais aos trabalhos do fórum» na medida em que impõe a consolidação de «um grupo de lobby ao serviço dos seus interesses».
Aprovar uma resolução contra Havana no plenário deste organismo da ONU seria, para Rodríguez, condenar «os governos que se opõem aos planos de dominação hegemónica» de Washington, ainda para mais porque a proposta é encabeçada pelo país que impede a visita aos «centros internacionais de tortura de Guantanamo e Abu Ghraib».
Mesmo em face dos argumentos cubanos, o diplomata norte-americano, Rudy Boschwitz, insistiu no agendamento da iniciativa para a primeira quinzena de Abril, e manifestou o desejo de que o projecto seja aprovado pelos 53 membros da estrutura por «consenso», até porque, explicou, em Cuba «não existe liberdade nem capacidade de eleger o seu próprio governo».
A estas palavras, Cuba respondeu incitando os participantes a «levantarem a voz em favor dos prisioneiros de Guantanamo, Abu Ghraib e Fallujah, pois de outra maneira este discurso é pouco credível».

Vozes dissonantes

Não obstante o peso da delegação da Casa Branca e o conjunto de chantagens em curso durante os trabalhos de Genebra, algumas vozes dissonantes tentam pôr a nu a hipocrisia norte-americana.
Um dos relatores da CDH, Jean Ziegler, revelou, em conferência de imprensa paralela aos trabalhos da Comissão, que os EUA recusaram recebê-lo num encontro que tinha como objectivo discutir o embargo a Cuba.
O responsável pela Comissão de Direito à Alimentação lembrou que Bush reforçou a «utilização de um bloqueio económico para mudar um regime político» e que foi a primeira vez que um governo dos EUA não permitiu a deslocação de um relator da CDH.
Ziegler afirmou que a conduta política dos EUA consiste «na selecção dos relatores especiais que estejam conforme a sua visão do mundo, a qual inclui a guerra contra o terrorismo».
Se assim não acontecer, sublinhou Ziegler, Washington «impede-os de fazer o seu trabalho e exerce censura de Estado», estratégia de Bush que «não só pretende destruir a CDH, como visa reduzi-la e transferir a sua sede para Nova Iorque a fim de a poder controlar».

Solidariedade com os cinco

Paralelamente à sessão plenária da CDH, dezenas de activistas pertencentes a outras tantas organizações denunciaram a tortura e detenção arbitrária dos cinco patriotas cubanos acusados pelos EUA de «fomentarem o terrorismo».
Em Genebra, foram entregues centenas de apelos à sua libertação, alguns dos quais contendo milhares de assinaturas de cidadãos que, por todo o mundo, reclamam justiça para António, Fernando, Ramón, Gerardo e René.
As esposas destes dois últimos juntaram-se na Suíça para elevarem a voz contra a impunidade do governo norte-americano nesta matéria e conseguiram que o tema fosse levado à apreciação do grupo permanente, mas os EUA impediram que o assunto fosse tratado em plenário.

Catalunha pela libertação

Entretanto, no domingo, centenas de pessoas pertencentes a mais de 70 organizações sindicais, políticas e culturais, reunidas na plataforma «Defenderemos Cuba», promoveram no Centro Cívico de Barcelona uma iniciativa de solidariedade com a ilha socialista e os cinco patriotas condenados arbitrariamente pelos EUA.
Olga Salanueva e Adriana Pérez, companheiras de René e Gerardo, deslocaram-se de Genebra até à cidade condal para prestarem testemunhos da situação vivida pelos detidos e receberem dos participantes palavras e gestos de determinação e confiança na libertação dos cinco homens que desmontaram parte da rede terrorista mafiosa anticubana sediada em Miami.

EUA gastam fortunas contra Cuba...

Rejeitando o discurso ilusório do «combate ao terrorismo», repetido até à exaustão pelos EUA nas sessões da CDH, a diplomata cubana Cláudia Pérez Alvarez esclareceu que o reforço do bloqueio contra Cuba ocupa mais meios humanos e financeiros da Casa Branca que o controle da actividade da Al-Qaeda.
Com efeito, Washington disponibilizou cinco vezes mais agentes para vigiar e punir os transgressores do bloqueio imposto contra Cuba que os indicados para investigarem as contas da Al-Qaeda, organização acusada da autoria dos ataques de 11 de Setembro.
A representante cubana socorreu-se mesmo de posições assumidas nesse sentido por senadores e congressistas norte-americanos, bem como relativamente à disposição que relega os cubanos-americanos para a posição de cidadãos de segunda fruto das inúmeras restrições impostas no que toca às visitas à sua terra natal.

...e acolhem terroristas

Ainda em contraste com as palavras «antiterroristas» de Bush, a agência de notícias EFE e o jornal New Herald divulgaram que Luis Posada Carriles negociou, nos últimos dias, com as autoridades de imigração dos EUA, o seu exílio no país.
Posada Carriles enfrenta um pedido de extradição da Venezuela após ter fugido de uma cadeia perto de Caracas, em 1985, onde se encontrava a cumprir pena por envolvimento num atentado contra um avião civil cubano que resultou na morte de 73 passageiros.
Ex-agente da CIA, Posada Carriles apresenta um «invejável» curriculum de suspeitas terroristas.
Em 1963 estava em Dallas quando assassinaram J.F Kennedy, mas as estreitas ligações com o narcotráfico de Miami aconselharam a transferência para outras paragens.
Em 1976 entrou a serviço da polícia política venezuelana, cargo onde coleccionou dezenas de acções de tortura e assassinato de opositores políticos, confirmadas com orgulho pelo próprio.
Os contactos de sempre com o tráfico de drogas e armas sediado na Florida fizeram de Posada Carriles um dos homens de mão implicados no financiamento dos «contra» da Nicarágua.
Em Porto Rico tentou aniquilar Fidel Castro na intentona conhecida como a do «iate La Esperanza» e, não contente com o fracasso, de 1997 a 2000 patrocinou a campanha contra o turismo em Cuba.
Em Agosto de 2004, três dos seus operacionais foram recebidos com aplausos no aeroporto de Miami, abrindo assim caminho para o regresso triunfal de Posada Carriles ao conforto do lar norte-americano.


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