Reflexos da disputa imperialista

Teias da corrupção chegam à ONU

O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, instaurou um processo disciplinar a Benon Sevan, ex-director do programa «Petróleo por Alimentos», na sequência de um relatório altamente comprometedor.
O projecto, iniciado em 1996 e interrompido em 2003, visava a troca directa de hidrocarbonetos extraídos em solo iraquiano por alimentos e era controlado por diversos responsáveis nomeados pela ONU.
O inquérito preliminar, apresentado na quinta-feira da semana passada, indica que Sevan terá adoptado uma conduta que «atentou gravemente contra a integridade da ONU», suspeita primeiramente avançada há pouco mais de um ano pelo diário iraquiano Al-Mada, o qual envolvia no mesmo esquema mais de 250 pessoas, entre funcionários da Organização, jornalistas e membros do governo do Iraque.
O ex-responsável é acusado de ter favorecido a companhia Africa Middle East Petroleum, empresa a quem o executivo de Bagdad concedia, a pedido de Sevan, a exploração de determinados poços de petróleo em troca «do seu apoio em vários domínios, nomeadamente a fim de obter fundos para reparar e reconstruir a infra-estrutura petrolífera do Iraque», afirma o texto.
A gestão dos fundos do programa e das transacções de bens de consumo são outra das áreas sobre suspeita, arrolando três sociedades europeias, a Saybolt Eastern Hemisphere, a Lloyd’s Register Inspection e o Banco Nacional de Paris.
Sevan deverá ainda explicar a proveniência de cerca de 160 mil dólares que recebeu entre 1999 e 2003, para além do necessário apuramento do destino final de milhões de dólares em falta no valor total apurado no fim do programa, cerca de 65 mil milhões de dólares.
Esclareça-se, para efeitos de memória futura em posteriores desenvolvimentos sobre este caso, que o responsável pela elaboração do inquérito é o «imparcial» ex-presidente da Reserva Federal dos EUA, Paul Volcker.
Volcker considera no documento que algumas das atitudes de Sevan podem corresponder a «um esforço para estabelecer um equilíbrio entre interesses políticos dos Estados membros», leia-se, aponta como favorecidos os interesses capitalistas sedeados nas grandes potências europeias, razão tão conflituante com os interesses dos homólogos norte-americanos como a cotação do petróleo iraquiano ser estabelecida, na época, em euros e não em dólares.
A concluir, Volcker referiu que, nos próximos meses, um outro relatório analisará o eventual conflito de interesses que envolve Kojo Annan, filho do secretário-geral da ONU, e empregado de uma empresa helvética incluída no «Petróleo por Alimentos».


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