O «tempo histórico» e suas leituras
Vive-se um momento importante da dita «construção europeia».
Momento… histórico, isto é, com escala bem diferente da escala de décadas que é quanto cada um de nós vive.
A dimensão temporal e geográfica
Ainda há dias ocorreu um facto com uma relevância a que só a perspectiva histórica pode dar a devida importância. Trata-se da decisão de começar, no concreto, o caminho para que a Turquia venha a fazer parte do que foi Comunidade Económica Europeia, hoje é União Europeia e amanhã, com essa adesão (e outras), não se sabe que virá a ser... mesmo mantendo designações com Europa na matriz.
Tal alargamento à Turquia, já antes tão anunciado e que tantas contradições faz saltar, levaria as fronteiras da União Europeia para onde já não é Europa. Nem geográfica, nem cultural, nem civilizacional no que com Europa se pode identificar. Além de, entre muita outra coisa, trazer para a «comunidade» um invasor e ocupante de parte de um recém Estado-membro, Chipre.
A Europa actual e o futuro
«A Europa actual (…) é um conjunto em que a Nação substituiu a cidade (,) possui uma unidade de civilização, a civilização europeia (,) estruturado com o conceito orgânico que a Europa historicamente elaborou (e) tende a ultrapassar (…) simplesmente o novo conceito não está definido: só a elaboração histórica do futuro o poderá definir.
«Como a Grécia e Roma, igualmente a actual Europa está enclausurada num dilema; porque ultrapassar o conceito de Nação, seu conceito orgânico, é destruir o actual Sistema Histórico. Por outro lado, manter o conceito de Nação é petrificar a História e acentuar o contraste com a unidade de civilização. Nesta unidade está em germe, potencialmente contido, um novo conceito e, portanto, um novo Sistema Histórico. (…)
«Os Estados Unidos da Europa, a Federação Europeia, (…) e ideias análogas não são mais do que prelúdios desse conceito futuro: tentativas de definição daquilo que é actualmente impossível de definir (e levará) muitos séculos a definir: - e que é absolutamente impossível prever sequer o que ele possa ser em sua realidade concreta. «São, no fundo, expedientes políticos (e) exprimem apenas actualmente desejos e tendências; são símbolos destas tendências, objectivações prematuras do futuro (…)
Dilema e expedientes
«O dilema é insolúvel e a Europa vive hoje esse dilema. (Os expedientes) são historicamente absurdos, contraditórios e sem sentido (,) encerram em si precisamente a contradição fundamental do dilema. Procuram anular este por um compromisso entre a unidade de civilização e o conceito de nação, o que é impossível; e, ao mesmo tempo, tentam substituir aos processos longos, lentos e complexos da história, um expediente ideológico. Neste expediente esquece-se o trabalho das forças históricas e a acção do tempo.
«A analogia com o artificialismo dos quadros do Império Romano e com fenómenos análogos da decadência da Grécia, é evidente.
«Sob o ponto de vista económico, sob o ponto de vista social, intelectual e emotivo, a Europa actual transcendeu a sua orgânica económica e os seus quadros políticos; ela tende a sair fora dos limites do seu Sistema Histórico: - tende para outro Sistema Histórico. Mas reage contra esta própria tendência, contra este movimento; porque outro Sistema Histórico significa outra civilização, outro elo na grande cadeia Greco-Europeia. Assim, oscila constantemente entre estas duas tendências, entre estes dois movimentos, e dilacera-se nesta constante oscilação, nesta perplexidade aguda. Ela quer um absurdo e um paradoxo: meter o mundo e o Futuro nos quadros do seu actual Sistema Histórico.»
Mudanças que demoram séculos
As transcrições são de papéis e livros meus mas não de minha autoria (e tenho pena!).
O autor é Abel Salazar, em «A crise da Europa», livro editado – pasme-se – em 1942.
Os excertos (do último capítulo) estão como publicados há mais de 60 anos, em plena guerra mundial, quando as tropas da Alemanha nazi invadiam a União Soviética. Só «traduzi» cité por cidade, e nem substitui «actual Sistema Histórico», como escrito em 1942, por capitalismo, como eu, hoje, escreveria… e subscreveria!
Acrescento que a (mal) dita Constituição ilustra um dos expedientes políticos (e ideológicos) para preservar e reforçar posições e privilégios de classe. O que tornaria mais significativa e contraditória a sua eventual ratificação, no quadro democrático, pelos membros da classe explorada pois, pelo maior número, poderiam evitá-la e às suas nefastas consequências.
Momento… histórico, isto é, com escala bem diferente da escala de décadas que é quanto cada um de nós vive.
A dimensão temporal e geográfica
Ainda há dias ocorreu um facto com uma relevância a que só a perspectiva histórica pode dar a devida importância. Trata-se da decisão de começar, no concreto, o caminho para que a Turquia venha a fazer parte do que foi Comunidade Económica Europeia, hoje é União Europeia e amanhã, com essa adesão (e outras), não se sabe que virá a ser... mesmo mantendo designações com Europa na matriz.
Tal alargamento à Turquia, já antes tão anunciado e que tantas contradições faz saltar, levaria as fronteiras da União Europeia para onde já não é Europa. Nem geográfica, nem cultural, nem civilizacional no que com Europa se pode identificar. Além de, entre muita outra coisa, trazer para a «comunidade» um invasor e ocupante de parte de um recém Estado-membro, Chipre.
A Europa actual e o futuro
«A Europa actual (…) é um conjunto em que a Nação substituiu a cidade (,) possui uma unidade de civilização, a civilização europeia (,) estruturado com o conceito orgânico que a Europa historicamente elaborou (e) tende a ultrapassar (…) simplesmente o novo conceito não está definido: só a elaboração histórica do futuro o poderá definir.
«Como a Grécia e Roma, igualmente a actual Europa está enclausurada num dilema; porque ultrapassar o conceito de Nação, seu conceito orgânico, é destruir o actual Sistema Histórico. Por outro lado, manter o conceito de Nação é petrificar a História e acentuar o contraste com a unidade de civilização. Nesta unidade está em germe, potencialmente contido, um novo conceito e, portanto, um novo Sistema Histórico. (…)
«Os Estados Unidos da Europa, a Federação Europeia, (…) e ideias análogas não são mais do que prelúdios desse conceito futuro: tentativas de definição daquilo que é actualmente impossível de definir (e levará) muitos séculos a definir: - e que é absolutamente impossível prever sequer o que ele possa ser em sua realidade concreta. «São, no fundo, expedientes políticos (e) exprimem apenas actualmente desejos e tendências; são símbolos destas tendências, objectivações prematuras do futuro (…)
Dilema e expedientes
«O dilema é insolúvel e a Europa vive hoje esse dilema. (Os expedientes) são historicamente absurdos, contraditórios e sem sentido (,) encerram em si precisamente a contradição fundamental do dilema. Procuram anular este por um compromisso entre a unidade de civilização e o conceito de nação, o que é impossível; e, ao mesmo tempo, tentam substituir aos processos longos, lentos e complexos da história, um expediente ideológico. Neste expediente esquece-se o trabalho das forças históricas e a acção do tempo.
«A analogia com o artificialismo dos quadros do Império Romano e com fenómenos análogos da decadência da Grécia, é evidente.
«Sob o ponto de vista económico, sob o ponto de vista social, intelectual e emotivo, a Europa actual transcendeu a sua orgânica económica e os seus quadros políticos; ela tende a sair fora dos limites do seu Sistema Histórico: - tende para outro Sistema Histórico. Mas reage contra esta própria tendência, contra este movimento; porque outro Sistema Histórico significa outra civilização, outro elo na grande cadeia Greco-Europeia. Assim, oscila constantemente entre estas duas tendências, entre estes dois movimentos, e dilacera-se nesta constante oscilação, nesta perplexidade aguda. Ela quer um absurdo e um paradoxo: meter o mundo e o Futuro nos quadros do seu actual Sistema Histórico.»
Mudanças que demoram séculos
As transcrições são de papéis e livros meus mas não de minha autoria (e tenho pena!).
O autor é Abel Salazar, em «A crise da Europa», livro editado – pasme-se – em 1942.
Os excertos (do último capítulo) estão como publicados há mais de 60 anos, em plena guerra mundial, quando as tropas da Alemanha nazi invadiam a União Soviética. Só «traduzi» cité por cidade, e nem substitui «actual Sistema Histórico», como escrito em 1942, por capitalismo, como eu, hoje, escreveria… e subscreveria!
Acrescento que a (mal) dita Constituição ilustra um dos expedientes políticos (e ideológicos) para preservar e reforçar posições e privilégios de classe. O que tornaria mais significativa e contraditória a sua eventual ratificação, no quadro democrático, pelos membros da classe explorada pois, pelo maior número, poderiam evitá-la e às suas nefastas consequências.