Êxitos e inêxitos em Atenas

Francisco Silva
Lendo a edição do Ex­presso de 11 de Setembro último, dei com um artigo elaborado sobre o rescaldo da participação portuguesa nos recentes Jogos Olímpicos (JOs) de Atenas. Perguntava-se a articulista qualquer coisa como: Correu tão bem o EURO 2004, se conseguiram os nossos fazer então obra tão boa, por que não foi possível algo semelhante nos JOs? Já não tenho comigo o texto do referido trabalho, contudo era esta a tonalidade da articulista. Resultado? Bem, a boa vontade não é tudo. Depoimentos de notáveis do Desporto português, declarações de atletas, sobre as dificuldades, os fracos apoios, as coisas aberrantes como a pista do Mundial de Atletismo de Pista Coberta de 2000, realizado em Lisboa, esquecida num armazém da Grande Lisboa (coisas que só acontecem nos países mais desmunidos de normal siso no que toca às suas camadas dirigentes). Tudo ao contrário do futebol que tudo tem, o que é outra grande verdade (como o é também o da afirmação de que tudo isto são ditos dos invejosos do futebol, como em seu tempo proferiu o então um ministro do Desporto do PS, perdão, parece-me, do Futebol,… pronto, eu, se o dr. quiser também faço parte dos ditos invejosos!). E, voltando ao artigo do Expresso que motivou este texto – várias imprecisões, alguma superficialidade e esquecimentos, pois o futebol português também esteve presente nos JOs de Atenas. Esquecimento mesmo, pouco saber da jornalista ou uma qualquer outra intenção escondida? Eu, já a voltar-me a cíclica paranóia da suspeição?
Porque o futebol nos JOs de Atenas correu mesmo mal para as chamadas nossas cores, pelo menos se atentarmos nas esperanças nele colocadas – até iam vingar a derrota na final do EURO 2004! E as condições e apoios não terão faltado – penso que estiveram de acordo com os padrões da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). E recordo esta questão só porque é relevante para o assunto que me ocupa neste escrito. Mas faço-o sem qualquer intuito de voltar ao tema da crucifixação dos jogadores ou do treinador, que de bestiais passaram num ápice a bestas, tendo mesmo um senhor, ao que lembro vice-presidente da FPF (num bom programa da RTP1 em que estiveram também presentes o presidente do Comité Olímpico Português (COP), o presidente da FP de Ciclismo e Rui SiIva), tratado, sem qualquer pudor, o trabalhador-treinador da «sua» selecção de incompetente, olvidando que foi a sua organização que o contratou. Mas quem são os verdadeiros incompetentes?

Nada mau...

Voltando ao núcleo deste escrito, o êxito real foi o da missão olímpica no seu conjunto como, com acerto referiu Vicente de Moura, presidente do COP. E não se esqueçam – digo eu – que Campeonatos do Mundo, por isso também os JOs, são mais importantes que campeonatos da Europa, mesmo quando realizados em Portugal como foi o EURO 2004. Não será assim? Aqueles têm a ver com o Mundo todo. Mais, os JOs têm a ver com o topo dos vários desportos – não no caso do futebol, cuja torneio é considerado como de segunda categoria pelas suas autoridades internacionais; mas sim no caso do Basquetebol, a única ausência foi, em Atenas, a dos principais cracks dos EUA, talvez para não se exporem numa equipa que não pudesse brilhar como o seu dream team nos JOs de Barcelona! Mais ainda, no caso de um único desporto, o Atletismo, não só os JOs são o grande acontecimento, como este é o desporto mais representativo e competitivo a nível mundial (e, lembra-se, é também o desporto em que os portugueses têm conseguido os seus maiores êxitos das últimas três décadas).
Com efeito, cara articulista do Expresso, caros leitores, os êxitos da missão do COP aos JOs são incontestáveis, não obstante o não mencionado «fracasso do futebol», e mesmo ficando-nos apenas por uma limitada enumeração dos «principais» resultados alcançados. Limitada, a enumeração, porque é apenas uma enumeração e porque, como tal, em si mesma, pecará sempre por omissões. Mas vamos lá: pratas na prova de estrada masculina do ciclismo e nos 100 metros masculinos («a prova rainha dos JOs»); bronze nos 1500 metros masculinos; 5º no 200 metros masculinos e na Vela (Laser); 6º em Trampolins e Vela (Mistral); 7º na Canoagem (K1 1000), duas vezes no Judo masculino e na Vela (classe 470); 8º na Maratona Masculina e no Triatlo feminino. E vários outros atletas integrantes da nossa missão olímpica, poderiam, com toda a naturalidade, ter integrado esta lista.
Vá lá, ladies and gentlemen, sejam objectivamente justos. Com um derrotante envolvimento – que é o do nosso País –, nada mau, convenhamos…


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