Quatro anos de morte e repressão

Números da tragédia palestiniana

No início desta semana, ascendia a 4345 o número de pessoas mortas no conflito israelo-palestiniano desde o início da Intifada, em Setembro de 2000.

«Só no ano pas­sado foram mortos 490 pa­les­ti­ni­anos»

Na segunda-feira, véspera do aniversário da segunda Intifada, soldados israelitas assassinaram, a tiro, em Jenin, um doente mental palestiniano que violou o toque de recolher obrigatório. A vítima, identificada como Saleh Ilalu, de 47 anos, morreu ao ser atingida por uma bala no ventre. Este crime elevou para 4345 o número de vítimas mortais do conflito entre judeus e palestinianos nos últimos quatro anos, das quais 3326 são palestinianas e 948 israelitas.
No dia anterior, domingo, na mesma localidade, a par do que tem acontecido diariamente, o exército israelita desencadeou uma vasta operação, tendo-se registado detenções e trocas de tiros, anunciaram fontes dos serviços de segurança palestinianos. Mais de 70 veículos militares entraram na cidade antes do amanhecer, cercaram vários edifícios, entre os quais o hospital local, e foram feitas várias detenções, indicaram as mesmas fontes, mas sem precisar o número.
Esta macabra contabilidade estará já desactualizada quando a presente edição do jornal chegar às bancas. Outras vidas terão sido ceifadas e muitas mais terão ficado sem abrigo. É a história do quotidiano da repressão israelita de que os dados possíveis dão conta, pecando sempre por defeito.
Segundo a organização israelita B’tselem (www/btselem.org), só no ano passado foram mortos 490 palestinianos, 309 dos quais, pelos menos, não participavam em confrontos.
Segundo a mesma organização, do total de baixas palestinianas, nos últimos quatro anos, pelo menos 1544 não participavam em confrontos, e 558 eram menores.
A B’tselem dá ainda conta que em ataques de palestinianos contra civis morreram 40 cidadãos estrangeiros, incluindo dois menores; e que em ataques de civis israelitas morreram 32 palestinianos, incluindo três menores.
A organização estima ainda em 7366 o número de palestinianos actualmente presos em Israel, dos quais 386 são menores. Dos detidos, 760 encontram-se em prisão administrativa, sem terem sido acusados ou julgados.

Cas­tigos co­lec­tivos

O exército israelita persiste, com total impunidade, a levar a cabo «castigos colectivos».
Segundo dados da B’tselem divulgados a 23 de Setembro, abarcando o período de 29 de Setembro de 2000 a 15 de Setembro último, o exército israelita demoliu, nos últimos quatro anos, 3700 casas palestinianas. Deste total, 612 foram derrubadas como punição contra familiares de suspeitos de tentarem levar a cabo ou de terem cometido acções de violência contra civis ou forças de segurança. Por motivos de «segurança», foram demolidas 2270 casas, e outras 800 foram destruídas por terem sido construídas sem autorização israelita.
Só na cidade de Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, as investidas israelitas danificaram seriamente 7 865 casas.
Segundo o presidente da Câmara da cidade, Majeed El Agha, cerca de 3 mil famílias ficaram sem habitação devido a operações sistemáticas de confronto das tropas de ocupação contra a população civil palestiniana.
A zona de Rafah é uma das mais atingidas pelo exército israelita desde o início da Intifada. Mais de 500 lojas de comércio e estabelecimentos industriais no principal mercado da cidade foram totalmente destruídos por disparos de tanques militares e 334 hectares terra agrícola foram arrasados por escavadoras. Os actos de destruição têm-se também registado frequentemente nas localidades da Cisjordânia.
Estes dados foram divulgados antes da aplicação do chamado plano unilateral de desanexação que o governo de Israel pretende levar a cabo. O projecto supõe a desocupação da Faixa de Gaza e a anexação de parte do solo cisjordano, e através dele Israel rejeita as fronteiras reconhecidas internacionalmente, prosseguindo a usurpação de território palestiniano.

O muro do apartheid

O ignominioso muro que Israel está a construir para encerrar os palestinianos num getho tem já 200 Km. Cerca de 6000 palestinianos vivem em enclaves entre o muro e a «Linha Verde» (que separa Israel dos territórios palestinianos), e outros 40 000 em enclaves cercados pelo muro.
Cerca de 90 Km encontram-se agora entre o muro e a Linha Verde (sem incluir Jerusalém Oriental).
Para além desta prepotência, o exército israelita mantém ainda 51 postos de controlo na Cisjordânia, dos quais 18 estão próximo da fronteira com Israel, 21 dentro da Cisjordânia e 12 dentro da cidade de Hebrón. Acresce que há ainda centenas de bloqueios físicos de estradas - montões de terra, blocos de cimento e trincheiras - para impedir o acesso de palestinianos às cidades e aldeias em toda a Cisjordânia.
A deslocação de palestinianos está limitada ou totalmente proibida em 41 estradas e parte de estradas em toda a Cisjordânia, incluindo muitas das principais artérias de tráfego, num total de mais de 700 Km de estradas. Os israelitas podem circular livremente por estas vias.

Im­pu­ni­dade

Os palestinianos não estão apenas sujeitos a todo o tipo de humilhações nos postos de controlo: pelo menos 40 pessoas, incluindo duas no ano passado, foram mortas por terem demorado ou recusado passar nos postos de controlo.
Uma barbárie como a que se regista na Palestina ocupada só é possível devido à impunidade de que gozam os militares israelitas. Desde o começo da segunda Intifada, foram abertas apenas 88 investigações militares à morte ou ferimentos causados a palestinianos por soldados israelitas. Estas investigações resultaram em 22 acusações, mas apenas se registou um caso de um soldado condenado por homicídio.

«Is­rael é um la­drão» (*)

«Uma canção surgida aproximadamente na época do assassinato de Rabin volta a ouvir-se agora porque o seu tema, que se refere a 1973, diz respeito à juventude israelita. Resumindo, o seu sentido é: “Somos os filhos nascidos em 1973 (depois da guerra de Yom Kippur). Vocês prometeram-nos pombas. Prometeram-nos paz. disseram-nosque é preciso cumprir as promessas. Agora estamos de uniforme, e não exigimos que cumprem as vossas promessas”.
«É uma das canções israelitas mais tristes que conheço, porque o que diz essencialmente é que a juventude israelita está eternamente condenada a vestir uniformes e a arriscar a sua vida, e não só a sua vida mas também o seu equilíbrio emocional, porque é criminoso que os jovens façam coisas como a de hoje - reter 7 autocarros cheios de palestinianos (e pelo telefone pude ouvir os bebés a chorar) durante 5 horas num posto de controlo, sem lhes dar nem água nem comida (ainda que o tivéssemos solicitado várias vezes à Administração civil, que prometeu ocupar-se do assunto). E os soldados fazem coisas piores, como todos sabem.
«É deste modo que estamos a condenar eternamente os nossos jovens à morte ou a problemas de saúde mental só para satisfazer a sede dos nossos dirigentes de terra, terra e mais terra.
«Em última instância, Israel é um ladrão. Tão simples como isso. Um ladrão.»

* Texto de Dorothy Naor, divulgado pela organização B’tselem e traduzido por Germán Leyens para Re­be­lión


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