Francis, um português
Comparável à alegria que me invadiu e, julgo, que a tantos outros dos meus compatriotas, em consequência das proezas de Francis Obikwelu nos recentes Jogos Olímpicos - em particular o seu 2.º lugar nos 100 metros, batendo o record da Europa! -, melhor dito, do Francis, agora que ele já tomou mais do que suficiente notoriedade nos nossos corações, ao que vou percebendo um pouco por toda a parte, sim, só comparável a essa alegria, apenas a indignação pela desvergonha - assim mo pareceu -, quem sabe talvez casual (!), com que a sua nacionalidade portuguesa foi tratada por boa e importante parte dos media nacionais, em particular dos que se gabam de nos estar a oferecer um serviço público.
(De passagem em Bruxelas, disponibilizavam a RTPI no receptor de televisão do quarto onde pernoitava e não resisti à tentação de parar esta escrita para assistir ao Portugal-Estónia em seniores, a contar para o campeonato do mundo de futebol, que a equipa “de todos nós” acabou, por fim, por vencer por 4-0. Interessante de seguir - pelo leigo que sou - o trabalho de Scolari até afinar o colectivo para a concreta situação. Interessante também foi pressentir o persistente bota-abaixismo em relação ao guarda redes Ricardo. Até que ponto corresponderá ou não a um subconsciente -?- saber da equipa comentadora? Acabado o jogo, voltei ao texto.)
O nigeriano naturalizado haverá não muito - sugeria a modos sistemáticos a comunicação social ao referir-se a Francis, o estrangeiro. Mais para aqui e para acolá, mas voltando sempre ao tema de ele ser, afinal, uma espécie de português de aviário, como soe dizer-se. E tal coro mediático foi tão em crescendo - foi-me parecendo -, à medida que a campanha de Francis - sobretudo a sua primeira nos passados Jogos Olímpicos de Atenas, a campanha dos 100 metros - foi apontando mais e mais para um grande sucesso, que, não podendo mais, o crescendo processo mediático caiu sobre ele, uma vez assegurada a tão famosa medalha [de prata (que é um metal com algum valor de troca)], Que parte é nigeriana neste seu êxito? Dava também a entender outro jornalista, talvez meio atrapalhado meio despeitado, que o Francis era dos outros, não lhe respondia às perguntas, entrava no túnel de saída da pista e lá estavam as televisões, as rádios, os jornais de todo o Mundo. E a esses ia respondendo. Seria que no fim teria tempo para a portuguesíssima RTP, que, pelos vistos não seria de todo o mundo? Iria Francis, logo de seguida, aplicar o frio do gelo aos seus músculos, iria para as massagens, para recuperar-se para as etapas seguintes e, então, nada dizer para nós? Eu, espectador, «levado» a pensar então que o tal nigeriano naturalizado português afinal nem sequer dava a devida importância a quem lhe permitiu ter um tão importante passaporte português, com tão bom curso na UE. Então este operário, imigrante africano, com a nossa ajuda tendo ultrapassado em muito as limitadas fronteiras do «nosso» pequeno mundo, projectando-se globalmente, ao nível dos maiores atletas do Império, já não nos ligava? Seria por isso que os media - o quarto poder, vejam lá - tiveram tanta dificuldade em aceitá-lo como sendo um dos nossos? Recuperando-se a calma lá pelo quartel-general, as coisas começaram a mudar a nível do comando central da instituição de serviço público. Foi mesmo assim.
Passando a reconhecer a portugalidade do feito de Francis, a RTP anunciava-nos mais tarde, através de uma profissional qualificada e com responsabilidade hierárquica, Judite de Sousa, que seria dentro de pouco transmitida a cerimónia protocolar da distribuição de medalhas e que teríamos, então, a oportunidade de ouvir o hino nacional? Senhores, poupem-me, ‘stá? Ou tê-la-iam informado erradamente acerca de uma coisa que toda a gente sabe - que o hino é o do país do campeão olímpico? Acredito que poderá ter sido um engano e não uma ignorância crassa, e muito menos cretinismo, mas que dá para cá o Zé Portuga estoirar de raiva, dá. É que não posso deixar de pensar, talvez estando a ser injusto, que naquela instituição se tem um profundo desprezo - já tão interiorizado que nem se darão conta do facto - cá pela audiência que somos nós. Pasto para animais é quanto basta!
O Francis na sua, com a bandeira portuguesa junto de si, a dedicar a proeza aos deficientes portugueses, a dizer a verdade a brincar que tinha querido vingar na Grécia a derrota do nosso futebol na final do Europeu, e a reiterar a vontade de continuar a trabalhar pelo progresso do atletismo português. Salve, Francis!
O nigeriano naturalizado haverá não muito - sugeria a modos sistemáticos a comunicação social ao referir-se a Francis, o estrangeiro. Mais para aqui e para acolá, mas voltando sempre ao tema de ele ser, afinal, uma espécie de português de aviário, como soe dizer-se. E tal coro mediático foi tão em crescendo - foi-me parecendo -, à medida que a campanha de Francis - sobretudo a sua primeira nos passados Jogos Olímpicos de Atenas, a campanha dos 100 metros - foi apontando mais e mais para um grande sucesso, que, não podendo mais, o crescendo processo mediático caiu sobre ele, uma vez assegurada a tão famosa medalha [de prata (que é um metal com algum valor de troca)], Que parte é nigeriana neste seu êxito? Dava também a entender outro jornalista, talvez meio atrapalhado meio despeitado, que o Francis era dos outros, não lhe respondia às perguntas, entrava no túnel de saída da pista e lá estavam as televisões, as rádios, os jornais de todo o Mundo. E a esses ia respondendo. Seria que no fim teria tempo para a portuguesíssima RTP, que, pelos vistos não seria de todo o mundo? Iria Francis, logo de seguida, aplicar o frio do gelo aos seus músculos, iria para as massagens, para recuperar-se para as etapas seguintes e, então, nada dizer para nós? Eu, espectador, «levado» a pensar então que o tal nigeriano naturalizado português afinal nem sequer dava a devida importância a quem lhe permitiu ter um tão importante passaporte português, com tão bom curso na UE. Então este operário, imigrante africano, com a nossa ajuda tendo ultrapassado em muito as limitadas fronteiras do «nosso» pequeno mundo, projectando-se globalmente, ao nível dos maiores atletas do Império, já não nos ligava? Seria por isso que os media - o quarto poder, vejam lá - tiveram tanta dificuldade em aceitá-lo como sendo um dos nossos? Recuperando-se a calma lá pelo quartel-general, as coisas começaram a mudar a nível do comando central da instituição de serviço público. Foi mesmo assim.
Passando a reconhecer a portugalidade do feito de Francis, a RTP anunciava-nos mais tarde, através de uma profissional qualificada e com responsabilidade hierárquica, Judite de Sousa, que seria dentro de pouco transmitida a cerimónia protocolar da distribuição de medalhas e que teríamos, então, a oportunidade de ouvir o hino nacional? Senhores, poupem-me, ‘stá? Ou tê-la-iam informado erradamente acerca de uma coisa que toda a gente sabe - que o hino é o do país do campeão olímpico? Acredito que poderá ter sido um engano e não uma ignorância crassa, e muito menos cretinismo, mas que dá para cá o Zé Portuga estoirar de raiva, dá. É que não posso deixar de pensar, talvez estando a ser injusto, que naquela instituição se tem um profundo desprezo - já tão interiorizado que nem se darão conta do facto - cá pela audiência que somos nós. Pasto para animais é quanto basta!
O Francis na sua, com a bandeira portuguesa junto de si, a dedicar a proeza aos deficientes portugueses, a dizer a verdade a brincar que tinha querido vingar na Grécia a derrota do nosso futebol na final do Europeu, e a reiterar a vontade de continuar a trabalhar pelo progresso do atletismo português. Salve, Francis!