A cassete
Foi a Festa do Avante!, e dizem-me alguns que este ano a sua cobertura pelos diversos telenoticiários foi, globalmente, mais abundante e menos adversa do que mandaria uma triste tradição. Talvez seja verdade; o caso é que, por mim, não dei por nenhuma significativa melhoria, mas estarei enganado ou, mais provavelmente, terei estado insuficientemente atento. Dei-me conta, isso sim, de comentários desfavoráveis e de omissões lamentáveis, com relevo para o que me pareceu ser duas linhas fundamentais de desvalorização: «não aconteceu nada de novo» e «ouviu-se mais uma vez a cassete do costume». São dois pólos já habituais de detracção da Festa em especial e do Partido Comunista Português em geral, pelo que não espantou que surgissem: o que surpreenderia seria a sua ausência. Afora estes dois tiques já velhos da desinformação antipêcêpista, houve outros golpezinos miúdos, uns tontos, outros razoavelmente infames, outros ainda conciliando estes dois tons. Em textos já publicados na passada semana foram registados alguns deles, não me ronda a tentação de repetir aqui um seu inventário que sempre seria incompleto. Cumpro, sim, o dever de acusar a sua recepção, não vá alguém um dia supor que não aconteceram. E reconhecer que não podia ser de outro modo: num quadro de desinformação e calúnia permanentes, com quase quotidianas certidões de óbito passadas ao PCP, não seria possível que os media em geral e sobretudo a TV viessem reconhecer que o supostamente defunto Partido tinha realizado mais uma vez, contra obstáculos miseráveis e de diversa ordem, mais uma grande Festa. Havia que despejar sobre a realidade a metralha miúda das «objecções» habituais: o PCP está reduzido a um punhado de velhotes, o PCP está completamente desfasado da realidade, o PCP inexiste social e politicamente, o PCP está reduzido ao estado de uma anacrónica saudade do passado. Oiço isto há não sei quantos anos. E, entretanto, está aí a realidade de uma Festa como nenhuma outra, de uma actividade política que está em todas as lutas justas e importantes que ocorrem no País, de um universo de militantes que conta dezenas de milhares de cidadãos, de uma acção permanente que não se refugia em duas ou três «causas» avulsas mas que visa uma transformação global da sociedade por agora assente na iniquidade. Falando de realidade, quem estará desfasado dela? Falando da modernidade, quem dela será militante, os que se batem por um futuro diferente ou os que se afadigam a implementar o regresso de modelos sociais do passado agravados no radicalismo neoliberal?
O que não mudou
Vieram, pois, à boleia do acontecimento verdadeiramente incontornável que é a Festa do Avante!, as «avaliações» já velhinhas: é um Partido envelhecido, cego para a realidade actual, sempre sem nada de novo. Esta frequentíssima acusação de o PCP não surgir com «nada de novo», dizer sempre «o mesmo», é especialmente curiosa por duas razões, pelo menos. A primeira delas é que vem sendo expressa há já muitos anos sempre da mesma maneira, de facto sem novidades, sem nada de novo. A segunda, que talvez devesse ser citada em primeiro lugar, é que o PCP diz sempre o mesmo porque, ao contrário do que se pretende impingir à opinião pública mais crédula, também o mundo está na mesma, não mudou, excepto em aspectos não fundamentais: tal como no século XX ou mesmo no XIX, a vida económica e financeira nutre-se da exploração de muitos por alguns, dos que de facto produzem pelos donos das máquinas de produção e das superestruturas financeiras. Sendo assim, os que com uma surpreendente generosidade convidam o PCP a mudar «para seu bem» convidam-no de facto a desfocar a sua visão do mundo e porventura a trocá-la pelo folclore de «causas» na moda. No caso português, a regressão político-social em curso, claramente apontada ao regresso de uma espécie de salazarismo sem Salazar, cromado com uma alegada modernidade que nem exclui o entendimento financeiro do velho ditador, é uma evidência de que tudo está «cada vez mais na mesma». Assim, ao anticomunismo dos media, designadamente da TV, resta-lhe disparar os velhos obuses: o PCP está velho, obsoleto, ceguinho, esvaziado de gente, repetidor da sua cassete que não muda. Mas um olhar atento sobre estes argumentos nem precisa de ser especialmente arguto para que, de súbito, descubra a verdade: cassete, sim, existe uma, repetidora sempre do mesmo, sem novidades, cega para a realidade! É a estafada cassete dos anticomunistas profissionais e afins, é a cassete que há décadas marca passo em total alheamento da verdade da vida. Existe, pois, uma cassete: é a deles. Não lhes seria mau tentarem uma renovaçãozinha.
O que não mudou
Vieram, pois, à boleia do acontecimento verdadeiramente incontornável que é a Festa do Avante!, as «avaliações» já velhinhas: é um Partido envelhecido, cego para a realidade actual, sempre sem nada de novo. Esta frequentíssima acusação de o PCP não surgir com «nada de novo», dizer sempre «o mesmo», é especialmente curiosa por duas razões, pelo menos. A primeira delas é que vem sendo expressa há já muitos anos sempre da mesma maneira, de facto sem novidades, sem nada de novo. A segunda, que talvez devesse ser citada em primeiro lugar, é que o PCP diz sempre o mesmo porque, ao contrário do que se pretende impingir à opinião pública mais crédula, também o mundo está na mesma, não mudou, excepto em aspectos não fundamentais: tal como no século XX ou mesmo no XIX, a vida económica e financeira nutre-se da exploração de muitos por alguns, dos que de facto produzem pelos donos das máquinas de produção e das superestruturas financeiras. Sendo assim, os que com uma surpreendente generosidade convidam o PCP a mudar «para seu bem» convidam-no de facto a desfocar a sua visão do mundo e porventura a trocá-la pelo folclore de «causas» na moda. No caso português, a regressão político-social em curso, claramente apontada ao regresso de uma espécie de salazarismo sem Salazar, cromado com uma alegada modernidade que nem exclui o entendimento financeiro do velho ditador, é uma evidência de que tudo está «cada vez mais na mesma». Assim, ao anticomunismo dos media, designadamente da TV, resta-lhe disparar os velhos obuses: o PCP está velho, obsoleto, ceguinho, esvaziado de gente, repetidor da sua cassete que não muda. Mas um olhar atento sobre estes argumentos nem precisa de ser especialmente arguto para que, de súbito, descubra a verdade: cassete, sim, existe uma, repetidora sempre do mesmo, sem novidades, cega para a realidade! É a estafada cassete dos anticomunistas profissionais e afins, é a cassete que há décadas marca passo em total alheamento da verdade da vida. Existe, pois, uma cassete: é a deles. Não lhes seria mau tentarem uma renovaçãozinha.