A modernidade das «Odes…»
Antero de Quental encarna o intelectual moderno, com intervenção cultural geral, desde a política à filosofia, passando pela história, a poesia e a polémica. Tem como referência a Revolução Francesa e os vários movimentos de índole socialista. Na linha do intelectual romântico, a sua acção é reflexiva e interventiva, integrado no seu tempo. Nessa perspectiva, faz todo o sentido que adopte a ode como género literário e, por associação, o conceito de poeta vate, profeta e condutor dos povos.
De facto, Antero de Quental assume-se como poeta moderno logo no título das «Odes Modernas», obra publicada em 1864. Nela exemplifica o que considera que a poesia deve ser, a importância de reflectir, consciencializar e contribuir para o progresso da humanidade.
Essa concepção é explicitada em vários textos publicados no mesmo ano das «Odes Modernas», durante a chamada «Questão Coimbra», aliás motivada por aquela obra. Opondo-se a Feliciano de Castilho e ao ultra-romantismo em geral, Antero de Quental, na sua carta «Bom Senso e Bom Gosto», afirma que o que os autores oficiais atacam na «Escola de Coimbra» é a «independência irreverente de escritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência», numa guerra «contra quem entende pensar por si e ser só responsável por seus actos e palavras».
Para Antero, o que está em causa é a vontade de inovar, de ser intelectualmente independente e ter liberdade de pensamento e criação, sem quaisquer tipos de jugos, preconceitos e respeitos inúteis, de forma a que o escritor alcance o lugar de apóstolo. «A imensa missão do escritor» é um «um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras», um posto que só será alcançado, «não pelo favor das turbas inconstantes e injustas, ou pelo patronato degradante dos grande e ilustres, mas elevando-se naturalmente sobre todos pela ciência, pelo paciente estudo de si e dos outros, pela limpeza interior duma alma que só vê e busca o bem, o belo, o verdadeiro».
A missão da poesia
É exactamente sobre a «Missão Revolucionária da Poesia» que Antero escreve na nota inicial das «Odes Modernas». É aí que afirma que pretende, com esta obra, dar à poesia a feição da sociedade moderna. «A Poesia moderna é a voz da Revolução», declara. A revolução marca o século XIX, despertos que estão os cidadãos para as contradições e as ortodoxias de séculos e pondo em causa os princípios sociais, políticos e religiosos em que assenta a sociedade do Ocidente. Para além de olhar à volta e reflectir, há que preparar as novas gerações para o fazer de forma mais aprofundada.
Os principais inimigos são o Estado, a Igreja, o Ensino, a Família, a Arte e a Propriedade por lhes faltar uma visão de mundo regida por valores espirituais e morais. Num tom bastante irónico, Antero adverte que a desordem está longe de Portugal, onde reina o contentamento dos simples, fora da História e do progresso. Mas o tempo segue impassível e no futuro ver-se-á de que lado está «a razão, a franqueza e a coragem, e de que banda a ignorância, a má-fé e a cobardia». A velha sociedade está a desaparecer e uma nova vai surgindo, anunciando-se repleta de vida, liberdade, ventura e amor, mas apenas para quem agir de acordo com estes princípios.
A vida é consciência e espírito e a Justiça irá triunfar porque é causa da razão e da verdade – vaticina Antero. É nos pobres que reside a consciência e o espírito e serão eles o motor da futura liberdade dos povos. Os apóstolos desta verdade, os elementos da «Igreja militante da Revolução» são «os únicos vivos no meio da multidão inumerável dos que existem», são aqueles a quem importa a consciência do homem, a independência do espírito e a santidade do direito. Justiça, Razão e Verdade são, pois, as bases em que se reconstruirá o mundo humano, «com exclusão dos Reis e dos Governos tirânicos, dos Deus e das Religiões inúteis e ilusórias – é este o mais alto desejo, a aspiração mais santa desta sociedade tumultuosa que uma força irresistível vai arrastando, ainda contra vontade, em demanda do mistério tremendo do seu futuro».
«Esta voz, se é a mais alta, deve também ser a mais poética», sustenta Antero. Nesse sentido, a poesia que queira estar de acordo com o seu tempo tem de ser uma poesia revolucionária. E é essa poesia que Antero apresenta aos seus leitores, com as «Odes Modernas».
De facto, Antero de Quental assume-se como poeta moderno logo no título das «Odes Modernas», obra publicada em 1864. Nela exemplifica o que considera que a poesia deve ser, a importância de reflectir, consciencializar e contribuir para o progresso da humanidade.
Essa concepção é explicitada em vários textos publicados no mesmo ano das «Odes Modernas», durante a chamada «Questão Coimbra», aliás motivada por aquela obra. Opondo-se a Feliciano de Castilho e ao ultra-romantismo em geral, Antero de Quental, na sua carta «Bom Senso e Bom Gosto», afirma que o que os autores oficiais atacam na «Escola de Coimbra» é a «independência irreverente de escritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência», numa guerra «contra quem entende pensar por si e ser só responsável por seus actos e palavras».
Para Antero, o que está em causa é a vontade de inovar, de ser intelectualmente independente e ter liberdade de pensamento e criação, sem quaisquer tipos de jugos, preconceitos e respeitos inúteis, de forma a que o escritor alcance o lugar de apóstolo. «A imensa missão do escritor» é um «um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras», um posto que só será alcançado, «não pelo favor das turbas inconstantes e injustas, ou pelo patronato degradante dos grande e ilustres, mas elevando-se naturalmente sobre todos pela ciência, pelo paciente estudo de si e dos outros, pela limpeza interior duma alma que só vê e busca o bem, o belo, o verdadeiro».
A missão da poesia
É exactamente sobre a «Missão Revolucionária da Poesia» que Antero escreve na nota inicial das «Odes Modernas». É aí que afirma que pretende, com esta obra, dar à poesia a feição da sociedade moderna. «A Poesia moderna é a voz da Revolução», declara. A revolução marca o século XIX, despertos que estão os cidadãos para as contradições e as ortodoxias de séculos e pondo em causa os princípios sociais, políticos e religiosos em que assenta a sociedade do Ocidente. Para além de olhar à volta e reflectir, há que preparar as novas gerações para o fazer de forma mais aprofundada.
Os principais inimigos são o Estado, a Igreja, o Ensino, a Família, a Arte e a Propriedade por lhes faltar uma visão de mundo regida por valores espirituais e morais. Num tom bastante irónico, Antero adverte que a desordem está longe de Portugal, onde reina o contentamento dos simples, fora da História e do progresso. Mas o tempo segue impassível e no futuro ver-se-á de que lado está «a razão, a franqueza e a coragem, e de que banda a ignorância, a má-fé e a cobardia». A velha sociedade está a desaparecer e uma nova vai surgindo, anunciando-se repleta de vida, liberdade, ventura e amor, mas apenas para quem agir de acordo com estes princípios.
A vida é consciência e espírito e a Justiça irá triunfar porque é causa da razão e da verdade – vaticina Antero. É nos pobres que reside a consciência e o espírito e serão eles o motor da futura liberdade dos povos. Os apóstolos desta verdade, os elementos da «Igreja militante da Revolução» são «os únicos vivos no meio da multidão inumerável dos que existem», são aqueles a quem importa a consciência do homem, a independência do espírito e a santidade do direito. Justiça, Razão e Verdade são, pois, as bases em que se reconstruirá o mundo humano, «com exclusão dos Reis e dos Governos tirânicos, dos Deus e das Religiões inúteis e ilusórias – é este o mais alto desejo, a aspiração mais santa desta sociedade tumultuosa que uma força irresistível vai arrastando, ainda contra vontade, em demanda do mistério tremendo do seu futuro».
«Esta voz, se é a mais alta, deve também ser a mais poética», sustenta Antero. Nesse sentido, a poesia que queira estar de acordo com o seu tempo tem de ser uma poesia revolucionária. E é essa poesia que Antero apresenta aos seus leitores, com as «Odes Modernas».