Ferramentas para a emancipação?
Na véspera, à noite, das últimas eleições espanholas, realizadas logo no primeiro fim-de-semana a seguir aos atentados de 11 de Março deste ano na capital do país vizinho, teve lugar uma série de manifestações em diversas cidades. Estou a lembrar-me, em particular, da que a televisão acompanhou, com alguma detença, em frente à sede nacional do PP espanhol. Estas inesperadas manifestações terão tido um papel importante, senão em certa medida, diz-se, mesmo determinante – a medida da gota de água que fez transbordar o copo –, no desenlace dos resultados eleitorais do dia seguinte que colocaram o PP em minoria. E tal terá sido assim, mesmo não tendo a televisão espanhola dado o destaque devido, nem a participação nas referidas manifestações tendo sido «gigantesca».
Mas a palavra de ordem deve ter chegado muito longe e sido desmultiplicada aos milhões. Porque penso que as teias de comunicação via correio electrónico e telefone móvel, e também telefone fixo e boca a ouvido em presença, devem ter constituído uma manifestação gigantesca cuja outra face foram não só as manifestações ocorridas nos diversos e devidos locais para onde foram convocadas. Consistiu também, essa «manifestação gigantesca», no conjunto de todos os moleculares debates e conversas, repetidos, contactados e comunicados por toda a Espanha, também enlaçados à distância, ouvidos, escritos nas mensagens…
Já aqui há tempos me tinha referido, como exemplo introdutório de um trabalho intitulado «No decair (relativo) da era dos mass media tradicionais» – tive, nessa altura a ousadia de estar a pensar, entre outros, na televisão mais no seu trono –, à forma como, com grande rapidez, eficiência e força, em Fevereiro de 2001, os reclusos dos diversos estabelecimentos do sistema prisional do Estado de São Paulo, no Brasil, apoiados na comunicação entre os telemóveis de que dispunham, desencadearam uma operação de levantamento de grande envergadura, a maior que em qualquer altura tinha acontecido, pelo menos naquele país.
Pois. Têm sido referidos outros exemplos. Mas agora este que nos vem de Espanha é mais interessante. Integrou-se com particular eficácia num enorme e bem sucedido movimento de massas, para o qual bastante terá contribuído, como se referiu, a utilização em larga escala do telemóvel e também da internet. Parece não ter havido controlo por parte de actividade difusora e convencedora dos mass media que valesse! Inclusive, as declarações emitidas por parte do governo acabaram por ser, elas próprias, o conteúdo que, ricocheteando, terá sido instrumental na alteração dos dados eleitorais.
Toda esta introdução para ilustrar o tema do papel dos novos meios de comunicação - nomeadamente o telemóvel e a Internet - nos multifacetados processos de emancipação das pessoas/ trabalhadores/cidadãos, e das massas.
Tudo isto, ilusão, fantasia, pés fora Terra? Nenhum papel ou papel quase insignificante, por parte dos novos meios de comunicação? Papel, pelo contrário, determinante, como pensarão os seus entusiastas defensores? Arma de contenção - os novos meios - do papel manipulador dos mass media, em particular da televisão? Só se combate o sufoco provocado pelos meios de comunicação social através da utilização de meios de comunicação social equivalentes colocados do lado do povo, contra os poderes que o exploram? Não há resistência significativa possível ao esmagamento dos processos de emancipação, trabalhado em permanência pelos órgãos de comunicação social, em particular a televisão? Ou, como o meio é a mensagem, a televisão tem, por si só efeitos positivos a termo, ensinando-nos a todos como ser cínicos enquanto telespectadores, como têm aventado investigadores desta área? Etc, etc, etc.
Outra vez – estava eu para não insistir nestas questões. Mas a parada assumia-se-me demasiado alta – até porque parece terem as forças de tipo PP, e, de forma geral, de «direita», perdido o monopólio de percepção popular de serem as que garantem melhor a segurança das populações; desta vez, foi o contrário e, sobre isto não se fala. E que papel teve a comunicação entre todos – e terão tido os meios técnicos de que a população dispõe – neste fenómeno de alguma libertação da correlação entre reaccionarismo e segurança?
Terei alguma razão em trazer este assunto à tona da água? Talvez não o tenha, lá terei outra vez exorbitado com matérias que quase só estarão aí para nos distrair! Mas o certo é não estar convencido da sua não importância e, por isso, por algum imperativo, ter ido por aí.
Mas a palavra de ordem deve ter chegado muito longe e sido desmultiplicada aos milhões. Porque penso que as teias de comunicação via correio electrónico e telefone móvel, e também telefone fixo e boca a ouvido em presença, devem ter constituído uma manifestação gigantesca cuja outra face foram não só as manifestações ocorridas nos diversos e devidos locais para onde foram convocadas. Consistiu também, essa «manifestação gigantesca», no conjunto de todos os moleculares debates e conversas, repetidos, contactados e comunicados por toda a Espanha, também enlaçados à distância, ouvidos, escritos nas mensagens…
Já aqui há tempos me tinha referido, como exemplo introdutório de um trabalho intitulado «No decair (relativo) da era dos mass media tradicionais» – tive, nessa altura a ousadia de estar a pensar, entre outros, na televisão mais no seu trono –, à forma como, com grande rapidez, eficiência e força, em Fevereiro de 2001, os reclusos dos diversos estabelecimentos do sistema prisional do Estado de São Paulo, no Brasil, apoiados na comunicação entre os telemóveis de que dispunham, desencadearam uma operação de levantamento de grande envergadura, a maior que em qualquer altura tinha acontecido, pelo menos naquele país.
Pois. Têm sido referidos outros exemplos. Mas agora este que nos vem de Espanha é mais interessante. Integrou-se com particular eficácia num enorme e bem sucedido movimento de massas, para o qual bastante terá contribuído, como se referiu, a utilização em larga escala do telemóvel e também da internet. Parece não ter havido controlo por parte de actividade difusora e convencedora dos mass media que valesse! Inclusive, as declarações emitidas por parte do governo acabaram por ser, elas próprias, o conteúdo que, ricocheteando, terá sido instrumental na alteração dos dados eleitorais.
Toda esta introdução para ilustrar o tema do papel dos novos meios de comunicação - nomeadamente o telemóvel e a Internet - nos multifacetados processos de emancipação das pessoas/ trabalhadores/cidadãos, e das massas.
Tudo isto, ilusão, fantasia, pés fora Terra? Nenhum papel ou papel quase insignificante, por parte dos novos meios de comunicação? Papel, pelo contrário, determinante, como pensarão os seus entusiastas defensores? Arma de contenção - os novos meios - do papel manipulador dos mass media, em particular da televisão? Só se combate o sufoco provocado pelos meios de comunicação social através da utilização de meios de comunicação social equivalentes colocados do lado do povo, contra os poderes que o exploram? Não há resistência significativa possível ao esmagamento dos processos de emancipação, trabalhado em permanência pelos órgãos de comunicação social, em particular a televisão? Ou, como o meio é a mensagem, a televisão tem, por si só efeitos positivos a termo, ensinando-nos a todos como ser cínicos enquanto telespectadores, como têm aventado investigadores desta área? Etc, etc, etc.
Outra vez – estava eu para não insistir nestas questões. Mas a parada assumia-se-me demasiado alta – até porque parece terem as forças de tipo PP, e, de forma geral, de «direita», perdido o monopólio de percepção popular de serem as que garantem melhor a segurança das populações; desta vez, foi o contrário e, sobre isto não se fala. E que papel teve a comunicação entre todos – e terão tido os meios técnicos de que a população dispõe – neste fenómeno de alguma libertação da correlação entre reaccionarismo e segurança?
Terei alguma razão em trazer este assunto à tona da água? Talvez não o tenha, lá terei outra vez exorbitado com matérias que quase só estarão aí para nos distrair! Mas o certo é não estar convencido da sua não importância e, por isso, por algum imperativo, ter ido por aí.