Personalidades portuguesas contra o «Muro de Sharon»

Inúmeras personalidades portuguesas subscreveram o abaixo-assinado apresentado na «Reunião Internacional das Nações Unidas sobre o impacto da construção do Muro no território palestiniano ocupado, incluindo em Jerusalém Oriental e à sua volta», realizada em Genebra nos dias 15 e 16 de Abril.
O documento, cuja subscrição foi iniciada em finais de Fevereiro último quando o Tribunal de Justiça de Haia se reunia sobre a questão, continuou a receber novas adesões desde essa data, entre as quais se contam personalidades como Eduardo Lourenço, Isabel Allegro Magalhães, Jorge Miranda, José Saramago, Rosa Coutinho, Aquilino Ribeiro Machado, Carlos Candal, Frei Bento Domingues, Ilda Figueiredo, João Caraça, José Barata Moura, Maria do Céu Guerra e Silas Cerqueira, entre muitos outros.
O texto, que a seguir se reproduz, foi apresentado em versão inglesa por Silas Cerqueira, em Genebra, onde integrou a delegação da Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos, que participa como observadora na Conferência governamental das Nações Unidas.

Não ao muro de Sharon

«O governo de Sharon, mau grado a significativa oposição de amplos sectores do seu próprio país e de uma generalizada condenação da opinião pública internacional, insiste em levar por diante a construção de um muro destinado a tornar estanques os territórios de Israel e da Palestina. Este propósito, para além de todas as reservas éticas e políticas que suscita, uma vez que consagra, simbolicamente e na prática, a impossibilidade futura dos dois povos se entenderem e viverem em paz, constitui um acto prepotente e violento, que não contempla um traçado de fronteiras previamente caucionado pelas Nações Unidas e que faz tábua rasa das sucessivas resoluções já emitidas por aquela organização internacional a tal respeito, acabando por impor unilateralmente a incorporação em Israel de largas faixas de um território conquistado pela força das armas, onde vivem populações palestinianas a que se não curou de dar voz, cerceando drasticamente, e no mesmo passo, a criação do Estado da Palestina independente e soberano.
«Estas populações correrão o risco de ficarem confinadas a uma espécie de guetos ou bantustões de triste memória, sem acesso natural aos que foram os seus vizinhos e familiares de sempre e até mesmo aos terrenos de cultura que agenciavam para sobreviver. A necessidade de defesa, que Israel invoca, nunca poderá caucionar a inumanidade e a violência de semelhante conduta. Continuar a responder com ferocidade redobrada alegando os ataques de que se é objecto, só servirá para acelerar a corrida demencial para o abismo a que hoje se assiste.
«A partir de 23 de Fevereiro o Tribunal Internacional de Justiça de Haia reuniu-se, por solicitação da Assembleia das Nações Unidas, para apreciar a legalidade da nefanda construção. Cientes, embora, que o acto de barbárie que Sharon pretende promover, acabará por ser devidamente verberado, os signatários apelam à opinião pública nacional para que, a tal respeito, manifeste a sua solidariedade com o desamparado povo palestiniano. Reclamam ainda que o Governo português, que se absteve quando na Assembleia das Nações Unidas o assunto foi tratado, assuma, a partir de agora, uma posição fiem, em conformidade com o Artigo 7 da nossa Constituição, e expresse claramente, sem subserviência à linha da actual administração americana, o seu profundo desacordo quanto à política guerreira seguida pelo governo de Sharon.»


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