Terrorismo de Estado é para continuar
Israel vai continuar a política de assassinatos de dirigentes palestinianos, com a compreensão dos EUA e o protesto pouco convincente da ONU e da UE.
Sharon felicitou os serviços de segurança «pelo êxito da operação»
A política de eliminação dos «chefes das organizações terroristas» vai continuar, afirmou o primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, após o assassínio de Abdelaziz al-Rantissi, líder do Hamas nos territórios palestinianos, no passado sábado.
«A política que consiste, por um lado, em desenvolver esforços para avançar no processo político e, por outro, em atacar as organizações terroristas e os que as chefiam, vai continuar», disse Sharon, no domingo, durante uma reunião do governo. Na declaração, transmitida pela rádio militar israelita, Sharon felicitou os serviços de segurança «pelo êxito da operação», e lembrou que já tinha «feito saber» que a política do seu governo «consiste em favorecer um processo político e em lutar contra o terrorismo e os terroristas, bem como contra aqueles que se fixaram como objectivo atacar civis israelitas».
Explicitando a ameaça de Sharon, o ministro encarregado das relações com o parlamento, Gideon Ezra, em declarações à rádio militar, afirmou que a sorte de Khaled Mashaal, o chefe do bureau político do Hamas em Damasco, «será idêntica» à de al-Rantissi.
«A sorte de Mashaal será idêntica à de al-Rantissi. Logo que a ocasião de o atacar se apresente, Israel fá-lo-á», garantiu.
O Hamas nomeou já o substituto de Abdelaziz al-Rantissi nos territórios palestinos, mas a identidade do novo dirigente do movimento não foi revelada por questões de segurança.
Condenações formais
A política de terrorismo de Estado praticada por Israel só contou com o apoio explícito dos EUA, mas na prática tanto a União Europeia como as Nações Unidas, embora fazendo voz grossa, não foram além de condenações inconsequentes.
A conivência da administração Bush era esperada, tanto mais que os próprios EUA se arrogam o direito de levar a cabo execuções sumárias dos que classificam como «inimigos». Apesar de Washington garantir não ter sido informada previamente do assassínio de Rantissi, não deixa de ser significativo que o mesmo tenha ocorrido logo após a visita de Ariel Sharon aos EUA, onde recebeu o aplauso de Bush para o seu «plano de paz» para a Palestina. De acordo com a informação disponível, Sharon diz-se disposto a retirar da Faixa de Gaza, continuar com a política de ocupação e de colonatos na Cisjordânia, prosseguir a construção do muro do apartheid e impedir o regresso a Israel dos refugiados palestinianos expulsos das suas terras e das suas casas aquando da criação do Estado sionista.
Quanto à União Europeia, não foi tão longe como os EUA, mas limitou-se uma vez mais à condenação verbal de Israel. Para o alto representante para a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) da União Europeia (UE), Javier Solana, o assassínio de Al-Rantissi, «não facilita uma saída positiva» para o processo de paz no Médio Oriente, pelo que a UE apela ao «fim imediato da violência e do terrorismo, bem como ao regresso das partes à trégua».
Também o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, pediu ao governo de Israel que ponha «fim imediatamente» à prática de «assassinatos extrajudiciais», sublinhando que os mesmos «são violações das leis internacionais».
Dizendo temer que «tais acções possam conduzir a uma maior deterioração de uma situação que já é perturbadora e frágil no Médio Oriente», Annan considerou que «a única forma de parar a escalada de violência é que os israelitas e palestinianos trabalhem para um processo de negociação dirigido a conseguir um acordo justo, duradouro e de grande alcance, com base no "Mapa da Paz" (promovido pelo Quarteto de Madrid, que integra as Nações Unidas, Rússia, Estados Unidos e União Europeia)».
Cabe lembrar, para entender melhor a hipocrisia destas posições, que o controverso «Mapa da Paz» não só não foi implementado como está já ultrapassado pelo apoio de Washington ao «novo» plano israelita. O Quarteto tem uma reunião agendada para 4 de Maio, em Nova Iorque.
Assassinatos selectivos cometidos por Israel
13 de Abril de 1973 - Três dirigentes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) - Kamal Aduan, responsável pelos territórios ocupados; o poeta Kamal Naser, porta-voz oficial da OLP; e Yusef Najjar, são assassinados em Beirute, no Líbano, por um comando israelita.
22 de Janeiro de 1979 - Abul Hasan (Ali Hasan Salameh), chefe do Departamento de «Operações Especiais» (em Israel) da Fatah, principal componente da OLP, morre na explosão do seu automóvel, em Beirute, provocada pelos israelitas.
9 de Outubro de 1981 - Majed Abu Charar, responsável pela Informação da OLP, é assassinado no seu quarto de hotel, em Roma.
Outubro de 1985 - Israel bombardeia o quartel-general do dirigente palestiniano, Yasser Arafat, no sul da Tunísia, provocando mais de 70 mortos.
16 de Abril de 1988 - Abu Jihad, chefe do braço militar do Fatah e um dos principais colaboradores de Arafat, é assassinado na Tunísia por um comando israelita.
8 de Junho de 1992 - Atef Bseiso, chefe dos serviços de segurança da OLP, é assassinado em Paris, num atentado atribuído pela OLP aos serviços secretos israelitas.
5 de Janeiro de 1996 - Atentado contra o fundador do Hamas, Yehya Ayache, na Faixa de Gaza.
25 de Setembro de 1997 - Khaled Mashaal, chefe do bureau político do Hamas no estrangeiro desde 1996, foi alvo de uma frustrada tentativa de assassínio na capital da Jordânia. Agentes dos serviços secretos israelitas (Mossad), injectaram veneno em Mashaal, que entrou em coma. O dirigente palestiniano foi salvo graças à intervenção do rei Hussein da Jordânia, que exigiu ao governo israelita que fornecesse o antídoto do veneno em troca
da libertação dos autores do atentado.
27 de Agosto de 2001 - Abu Ali Mustapha, eleito em Julho de 2000 para secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), em substituição de George Habache, é morto em Ramallah, na Cisjordânia, durante um ataque de helicópteros israelitas contra seu gabinete.
21 de Agosto de 2003 - Ismail Abu Chanab, um dos principais dirigentes políticos do Hamas e um de seus fundadores, é morto por mísseis israelitas disparados contra o seu carro, em Gaza. No ataque morrem também dois dos seus guarda-costas.
22 de Março de 2004 - Ahmed Yassin, fundador e líder espiritual do Hamas, é assassinado num ataque de helicópteros quando saía de uma mesquita de Gaza. Outras sete pessoas perderam igualmente a vida no ataque e 15 ficaram feridas, incluindo três filhos de Yassin.
17 de Abril de 2004 - O substituto de Yassin na liderança do Hamas, Abdelaziz al-Rantissi, é assassinado por um míssil israelita disparado contra a viatura em que se deslocava. No atentado morreram ainda um filho e um guarda-costas de Rantissi, enquanto a mulher do dirigente do Hamas ficou gravemente ferida.
Quanto a Yasser Arafat, foi já alvo de inúmeras tentativas de assassinato desde que assumiu a presidência da OLP, em 1969. Para Israel, a morte do dirigente palestiniano continua a ser uma «opção» que apenas aguarda a melhor «oportunidade».
«A política que consiste, por um lado, em desenvolver esforços para avançar no processo político e, por outro, em atacar as organizações terroristas e os que as chefiam, vai continuar», disse Sharon, no domingo, durante uma reunião do governo. Na declaração, transmitida pela rádio militar israelita, Sharon felicitou os serviços de segurança «pelo êxito da operação», e lembrou que já tinha «feito saber» que a política do seu governo «consiste em favorecer um processo político e em lutar contra o terrorismo e os terroristas, bem como contra aqueles que se fixaram como objectivo atacar civis israelitas».
Explicitando a ameaça de Sharon, o ministro encarregado das relações com o parlamento, Gideon Ezra, em declarações à rádio militar, afirmou que a sorte de Khaled Mashaal, o chefe do bureau político do Hamas em Damasco, «será idêntica» à de al-Rantissi.
«A sorte de Mashaal será idêntica à de al-Rantissi. Logo que a ocasião de o atacar se apresente, Israel fá-lo-á», garantiu.
O Hamas nomeou já o substituto de Abdelaziz al-Rantissi nos territórios palestinos, mas a identidade do novo dirigente do movimento não foi revelada por questões de segurança.
Condenações formais
A política de terrorismo de Estado praticada por Israel só contou com o apoio explícito dos EUA, mas na prática tanto a União Europeia como as Nações Unidas, embora fazendo voz grossa, não foram além de condenações inconsequentes.
A conivência da administração Bush era esperada, tanto mais que os próprios EUA se arrogam o direito de levar a cabo execuções sumárias dos que classificam como «inimigos». Apesar de Washington garantir não ter sido informada previamente do assassínio de Rantissi, não deixa de ser significativo que o mesmo tenha ocorrido logo após a visita de Ariel Sharon aos EUA, onde recebeu o aplauso de Bush para o seu «plano de paz» para a Palestina. De acordo com a informação disponível, Sharon diz-se disposto a retirar da Faixa de Gaza, continuar com a política de ocupação e de colonatos na Cisjordânia, prosseguir a construção do muro do apartheid e impedir o regresso a Israel dos refugiados palestinianos expulsos das suas terras e das suas casas aquando da criação do Estado sionista.
Quanto à União Europeia, não foi tão longe como os EUA, mas limitou-se uma vez mais à condenação verbal de Israel. Para o alto representante para a Política Externa e de Segurança Comum (PESC) da União Europeia (UE), Javier Solana, o assassínio de Al-Rantissi, «não facilita uma saída positiva» para o processo de paz no Médio Oriente, pelo que a UE apela ao «fim imediato da violência e do terrorismo, bem como ao regresso das partes à trégua».
Também o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, pediu ao governo de Israel que ponha «fim imediatamente» à prática de «assassinatos extrajudiciais», sublinhando que os mesmos «são violações das leis internacionais».
Dizendo temer que «tais acções possam conduzir a uma maior deterioração de uma situação que já é perturbadora e frágil no Médio Oriente», Annan considerou que «a única forma de parar a escalada de violência é que os israelitas e palestinianos trabalhem para um processo de negociação dirigido a conseguir um acordo justo, duradouro e de grande alcance, com base no "Mapa da Paz" (promovido pelo Quarteto de Madrid, que integra as Nações Unidas, Rússia, Estados Unidos e União Europeia)».
Cabe lembrar, para entender melhor a hipocrisia destas posições, que o controverso «Mapa da Paz» não só não foi implementado como está já ultrapassado pelo apoio de Washington ao «novo» plano israelita. O Quarteto tem uma reunião agendada para 4 de Maio, em Nova Iorque.
Assassinatos selectivos cometidos por Israel
13 de Abril de 1973 - Três dirigentes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) - Kamal Aduan, responsável pelos territórios ocupados; o poeta Kamal Naser, porta-voz oficial da OLP; e Yusef Najjar, são assassinados em Beirute, no Líbano, por um comando israelita.
22 de Janeiro de 1979 - Abul Hasan (Ali Hasan Salameh), chefe do Departamento de «Operações Especiais» (em Israel) da Fatah, principal componente da OLP, morre na explosão do seu automóvel, em Beirute, provocada pelos israelitas.
9 de Outubro de 1981 - Majed Abu Charar, responsável pela Informação da OLP, é assassinado no seu quarto de hotel, em Roma.
Outubro de 1985 - Israel bombardeia o quartel-general do dirigente palestiniano, Yasser Arafat, no sul da Tunísia, provocando mais de 70 mortos.
16 de Abril de 1988 - Abu Jihad, chefe do braço militar do Fatah e um dos principais colaboradores de Arafat, é assassinado na Tunísia por um comando israelita.
8 de Junho de 1992 - Atef Bseiso, chefe dos serviços de segurança da OLP, é assassinado em Paris, num atentado atribuído pela OLP aos serviços secretos israelitas.
5 de Janeiro de 1996 - Atentado contra o fundador do Hamas, Yehya Ayache, na Faixa de Gaza.
25 de Setembro de 1997 - Khaled Mashaal, chefe do bureau político do Hamas no estrangeiro desde 1996, foi alvo de uma frustrada tentativa de assassínio na capital da Jordânia. Agentes dos serviços secretos israelitas (Mossad), injectaram veneno em Mashaal, que entrou em coma. O dirigente palestiniano foi salvo graças à intervenção do rei Hussein da Jordânia, que exigiu ao governo israelita que fornecesse o antídoto do veneno em troca
da libertação dos autores do atentado.
27 de Agosto de 2001 - Abu Ali Mustapha, eleito em Julho de 2000 para secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), em substituição de George Habache, é morto em Ramallah, na Cisjordânia, durante um ataque de helicópteros israelitas contra seu gabinete.
21 de Agosto de 2003 - Ismail Abu Chanab, um dos principais dirigentes políticos do Hamas e um de seus fundadores, é morto por mísseis israelitas disparados contra o seu carro, em Gaza. No ataque morrem também dois dos seus guarda-costas.
22 de Março de 2004 - Ahmed Yassin, fundador e líder espiritual do Hamas, é assassinado num ataque de helicópteros quando saía de uma mesquita de Gaza. Outras sete pessoas perderam igualmente a vida no ataque e 15 ficaram feridas, incluindo três filhos de Yassin.
17 de Abril de 2004 - O substituto de Yassin na liderança do Hamas, Abdelaziz al-Rantissi, é assassinado por um míssil israelita disparado contra a viatura em que se deslocava. No atentado morreram ainda um filho e um guarda-costas de Rantissi, enquanto a mulher do dirigente do Hamas ficou gravemente ferida.
Quanto a Yasser Arafat, foi já alvo de inúmeras tentativas de assassinato desde que assumiu a presidência da OLP, em 1969. Para Israel, a morte do dirigente palestiniano continua a ser uma «opção» que apenas aguarda a melhor «oportunidade».