Venezuela e EUA (conclusão)

Pedro Campos
Em 1948, Pérez Jiménez derruba o escritor Rómulo Gallegos, membro de Acção
Democrática (AD), que, em 1945, derrubara o presidente Angaria, que, em 1943, aprovara uma lei sobre a nacionalização gratuita da indústria petrolífera. Angaria não resiste para evitar uma guerra civil «e talvez uma intervenção estrangeira para proteger a segurança de interesses vitais para a economia mundial». Petróleo?
O golpe tem o apoio dos EUA, e isto está documentado em vários telegramas (21 de Outubro) do embaixador Corrigan ao Departamento de Estado (DE), que falam de encontros entre Betancourt (futuro presidente da República) e o conselheiro Dawson. Nove dias depois, os sindicatos recebem ordens de Raúl Leoni (futuro PR) para aceitar a posição das petroleiras e o novo regime é reconhecido pelo imperialismo.
Caído Gallegos – que denuncia inicialmente (depois dará o dito por não dito) a conivência do adido militar Adams e das petroleiras no golpe – Pérez Jiménez inicia um regime de terror político contra o PC e AD.
A lua-de-mel com Washington dura vários anos. Mas Pérez Jiménez tem algumas ideias próprias. Em 1956, propõe um fundo de ajuda mútua de 10% dos orçamentos latino-americanos. Concebe um projecto tri-nacional que una o rio Orinoco, o Amazonas e o Rio da Prata. Adicionalmente, pensa na reconquista da Guiana Esequiba, que provocaria atritos entre os EUA e a Inglaterra. Cai em desgraça e começam as reuniões entre Rafael Caldera (futuro PR) e Betancourt com representantes do DE.
Em Janeiro de 1958, o ditador é derrubado por militares com apoio do povo.
Durante o governo interino de Larrazábal, Nixon viaja a Caracas, mas grandes manifestações de repúdio impedem-no de cumprir o programa da visita. Barcos de guerra dos EUA navegam na direcção das costas venezuelanas.
Seguem-se os anos do Corpo de Paz e, depois, os da Aliança para o Progresso, que não conseguem esconder o seu fim último: a ingerência da CIA e a captação de dirigentes regionais para a sua reconversão em agentes da colonização.
Em 1994, num relatório secreto, o Banco Mundial recomenda limitar a educação universitária a quem a possa pagar. A ideia é aceite. No ano seguinte, outra norma do BM consagra a impunidade dos crimes de corrupção.
Durante 40 anos, o país é caracterizado por forte repressão política, longos anos de clandestinidade da esquerda, vários outros sem garantias constitucionais e uma corrupção que beneficia escandalosamente os políticos de turno e a oligarquia.

Chávez e a Revolução Bolivariana…

Esgotado o modelo anterior, Chávez aparece como uma esperança para a oligarquia – uma cara nova para mudar tudo e deixar tudo igual – e para o povo, que pensa ter chegado a sua vez. Contra a tradição, decide cumprir as promessas eleitorais e começa a governar para as maiorias. O império não perdoa e conspira financiando a reacção, através da National Endowment for Democracy e do Instituto Internacional Republicano (IIR), caras da CIA.
Entre muitos outras, duas agressões marcam a convergência dos golpistas com Washington: o golpe de Abril de 2002 e o lock-out patronal (maioritariamente da indústria petrolífera) de Dezembro 2002 a Fevereiro 2003).
Num discurso recente na OEA, a Venezuela apresentou algumas evidências da
ingerência de Washington nos seus assuntos internos.
No dia seguinte ao golpe (12 de Abril), Washington desenvolveu um intenso lobby na OEA para o justificar, enquanto que em Caracas o embaixador Shapiro fazia uma «visita de cortesia» ao ditador Carmona.
Simultaneamente, Phillip Chicola, do DE, dava-lhe instruções e exigia cópia assinada da renúncia de Chávez, que nunca obteve, porque não existia. Outro funcionário do DE, Phillip Reeker, culpava oficialmente Chávez do golpe e mentia ao dizer que antes da renúncia, tinha destituído o VP e o gabinete.
Um avião dos EUA esperou na ilha venezuelana La Orchila pelo presidente sequestrado para o levar com destino incerto, mas a chegada iminente de barcos de guerra venezuelanos abortou a acção. Outros navios violaram as águas territoriais e aviões militares aterraram no principal aeroporto do país. Tudo ilegalmente.
O insuspeito NYT, afirma num editorial (12.03.04): «A administração de Bush tem-se aliado de maneira tão aberta com o sector antichavista, que lhe será impossível desempenhar um papel de mediador». Mas já antes se lia ali que «Toda a gente sabe que estas actividades eram financiadas directamente por Washington» e também que «O governo de Bush (…) se valeu do IIR para ajudar a oposição».


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