Objectividades
O despedimento do jornalista Peter Arnett pela cadeia de televisão norte-americana NBC é um caso paradigmático do conceito de liberdade de imprensa em vigor não só nos EUA como na generalidade dos países ocidentais. A liberdade existe desde que não se passe as marcas fixadas, que nem sequer têm de estar escritas. «Sabe-se» quais são, ou suspeita-se, e manda a prudência aos que se querem prudentes não as ultrapassar.
Arnett, um veterano da guerra do Vietname e da primeira guerra do Golfo, «pisou o risco» ao exprimir uma opinião desfavorável sobre a campanha de «libertação do Iraque». Mais grave ainda, fê-lo numa entrevista à televisão iraquiana.
Tanto quanto se sabe, Arnett não foi acusado de traição, mas estará certamente catalogado de persona non grata nos registos das principais polícias dos states. E tudo isto por que motivo? Não por conspirar contra o seu país, não por colaborar com o «inimigo», mas tão simplesmente por dizer o que pensava, ou seja, por usar um dos alegados supremos valores da democracia americana: a liberdade de expressão.
Dirão os mais conciliadores que, tratando-se de um jornalista, não deve haver tomada de posição, em nome da celebrada «objectividade». A essa questão respondeu há dias outro jornalista, Henry Norr, também com problemas por ter sido detido pela polícia durante uma manifestação contra a guerra. Depois de lembrar que «a objectividade total é uma ilusão», Norr disse o que muitos se recusam a perceber: «O melhor jornalismo vem de pessoas que estão envolvidas no mundo à sua volta, que não são apenas escribas com talas que se sentam ao teclado para escrever histórias». Numa palavra, são os que têm cabeça para pensar... e pensam.
Curiosamente, não são conhecidas retaliações de qualquer tipo a casos como o da «pivot» da CNN, citado pelo Público de anteontem, que interrompeu uma conferência de imprensa iraquiana, em directo, alegando que «o governo dos EUA discordaria do que ele [o ministro da Informação do Iraque] está a dizer». Tratar-se-á de uma nova forma de objectividade?
E que dizer do responsável norte-americano, cujo nome infelizmente não retive, segundo o qual «não era suposto» haver no Iraque jornalistas não autorizados (e controlados) pelos EUA? E já agora, terá sido em nome da objectividade que o Pentágono vedou o acesso dos jornalistas à base de Dover, onde são recebidos os corpos dos norte-americanos mortos em combate? Responda quem saiba. Objectivamente, por favor.
Arnett, um veterano da guerra do Vietname e da primeira guerra do Golfo, «pisou o risco» ao exprimir uma opinião desfavorável sobre a campanha de «libertação do Iraque». Mais grave ainda, fê-lo numa entrevista à televisão iraquiana.
Tanto quanto se sabe, Arnett não foi acusado de traição, mas estará certamente catalogado de persona non grata nos registos das principais polícias dos states. E tudo isto por que motivo? Não por conspirar contra o seu país, não por colaborar com o «inimigo», mas tão simplesmente por dizer o que pensava, ou seja, por usar um dos alegados supremos valores da democracia americana: a liberdade de expressão.
Dirão os mais conciliadores que, tratando-se de um jornalista, não deve haver tomada de posição, em nome da celebrada «objectividade». A essa questão respondeu há dias outro jornalista, Henry Norr, também com problemas por ter sido detido pela polícia durante uma manifestação contra a guerra. Depois de lembrar que «a objectividade total é uma ilusão», Norr disse o que muitos se recusam a perceber: «O melhor jornalismo vem de pessoas que estão envolvidas no mundo à sua volta, que não são apenas escribas com talas que se sentam ao teclado para escrever histórias». Numa palavra, são os que têm cabeça para pensar... e pensam.
Curiosamente, não são conhecidas retaliações de qualquer tipo a casos como o da «pivot» da CNN, citado pelo Público de anteontem, que interrompeu uma conferência de imprensa iraquiana, em directo, alegando que «o governo dos EUA discordaria do que ele [o ministro da Informação do Iraque] está a dizer». Tratar-se-á de uma nova forma de objectividade?
E que dizer do responsável norte-americano, cujo nome infelizmente não retive, segundo o qual «não era suposto» haver no Iraque jornalistas não autorizados (e controlados) pelos EUA? E já agora, terá sido em nome da objectividade que o Pentágono vedou o acesso dos jornalistas à base de Dover, onde são recebidos os corpos dos norte-americanos mortos em combate? Responda quem saiba. Objectivamente, por favor.