Depois do dilúvio?
«Depois do Dilúvio», assim mesmo, numa toada com ressonâncias bíblicas, foi a expressão escolhida pelo Financial Times, na sua edição de 10 de Novembro de 2003, para titular um artigo sobre a tão ansiada recuperação económica do sector das Comunicações. E, em particular, sobre a recuperação por parte dos operadores de telecomunicações. Com efeito, ansiada, e já perscrutada, essa recuperação, a crer no tom empregue e argumentos referidos pelo articulista. E, ao dizermos crer, a parte irónica é bastante limitada. Porque, na realidade, ela parece ter bons pés para caminhar. Contudo, são uns pés um pouco diferentes daqueles que dispunha na fase anterior.
Os operadores de telecomunicações, na sua maioria, constituíram-se de facto como importantes actores da crise económica que tem assolado nos últimos tempos um mundo dito em processo de globalização - seja o que for que tal designação possa com rigor significar. A maior parte deles crismados de malfadados “incumbentes”. Estamos a falar, está bem de ver, dos ex-«monopolistas públicos» das telecomunicações (como é o caso, no nosso País, é sabido, da Portugal Telecom). Entidades suspeitas em princípio de quase sempre estarem ainda habituadas e desejosas de práticas que datam de antes da sua privatização e de abusarem da sua posição dominante de mercado. E refiro-me a esta questão deste modo com o intuito de distinguir, como é costume fazer, estes operadores - os «incumbentes» - de outros operadores ditos alternativos. Exemplo principal destes é a Vodafone, o maior operador de telecomunicações do Globo Terrestre em termos de valor bolsista (calcula-se o valor bolsista multiplicando o valor de cada acção pelo número total de acções, já que o maior em termos de quantidade de clientes é operador líder da RP da China). Bom, citávamos a distinção entre os dois tipos de operadores já que a percepção de uma parte apreciável do público perante os novos operadores que foram criados - e hoje já não serão tão novos assim -, independentemente das suas posições de mercado serem ou não dominantes, dizíamos já que a percepção dessa parte do público poderá ser a de estes privados modernos («privados» mesmo quando a pertença do seu capital pelos Estados é uma evidência, enquanto os incumbentes podem ser totalmente privados - é o caso português, da ONI e da Portugal Telecom, respectivamente) serem, quase por definição, virtuosos e amigos dos clientes, por contraste com os incumbentes.
Mas adiante, que o que pretendo referir é a questão da recuperação da crise e o papel desempenhado pelos operadores de telecomunicações, quase todos incumbentes, à excepção da Vodafone ou de algum outro de que me esteja de momento a esquecer.
(Quero ressalvar mais uma vez, e não o sabendo o leitor, que, como sou trabalhador da Portugal Telecom, deverá ter em conta este facto - e a minha mais que possível polarização - ao ler o que aqui vou deixando escrito.)
A «queda» dos operadores - sobretudo a de vários dos maiores incumbentes europeus: a BT, a Deutsche Telekom, a France Telecom, o KPN dos Países Baixos, de certa maneira a Telefónica, sobretudo a sua Terra Lycos -, na sequência do rebentar da bolha das «dotcoms» , tinha-se dado pelo seu endividamento excessivo resultante de uma sequência de aquisições, uma estratégia a posteriori dita incontrolada, e, em boa parte dos casos, incluindo preços pesadíssimos de licenças para operar com redes de terceira Geração de telemóveis, a 3G , resultantes, como se sabe, de leilões levados a cabo em diversos países da União Europeia. Terceira Geração que só agora, neste próximo - a chegar - ano de 2004 deverá ver, com algum impacto, a luz do dia.
E o consequente levantar do chão das operadoras, sobretudo das mais afectadas, foi conseguido à custa das receitas de emagrecimento adequadas: acentuada diminuição de efectivos das respectivas forças de trabalho - boa altura para o fazer, quando as crises económicas aí estão! - e neste caso, sobretudo, através de vendas de muitas participações em operadores de fora de portas, bem como de desistências ou vendas a terceiros das licenças de operação de redes telemóveis de Terceira Geração, como aconteceu com vários dos operadores, e não apenas de entre os incumbentes, como foi o caso, em Portugal, do fim da Oniway…
Depois do Dilúvio, talvez alguma bonança. Uma bonança, ainda para mais, e não obstante a queda do tráfego telefónico fixo, abençoada por um crescimento dos utilizadores da “banda larga”, durante este último ano, ano da crise, na área da EU, de 10 para 20 milhões.
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1 - «dotcom» - «com»
2 - No caso vertente, trata-se dos istemas UMTS (Universal Mobile Telecommunication System)
Os operadores de telecomunicações, na sua maioria, constituíram-se de facto como importantes actores da crise económica que tem assolado nos últimos tempos um mundo dito em processo de globalização - seja o que for que tal designação possa com rigor significar. A maior parte deles crismados de malfadados “incumbentes”. Estamos a falar, está bem de ver, dos ex-«monopolistas públicos» das telecomunicações (como é o caso, no nosso País, é sabido, da Portugal Telecom). Entidades suspeitas em princípio de quase sempre estarem ainda habituadas e desejosas de práticas que datam de antes da sua privatização e de abusarem da sua posição dominante de mercado. E refiro-me a esta questão deste modo com o intuito de distinguir, como é costume fazer, estes operadores - os «incumbentes» - de outros operadores ditos alternativos. Exemplo principal destes é a Vodafone, o maior operador de telecomunicações do Globo Terrestre em termos de valor bolsista (calcula-se o valor bolsista multiplicando o valor de cada acção pelo número total de acções, já que o maior em termos de quantidade de clientes é operador líder da RP da China). Bom, citávamos a distinção entre os dois tipos de operadores já que a percepção de uma parte apreciável do público perante os novos operadores que foram criados - e hoje já não serão tão novos assim -, independentemente das suas posições de mercado serem ou não dominantes, dizíamos já que a percepção dessa parte do público poderá ser a de estes privados modernos («privados» mesmo quando a pertença do seu capital pelos Estados é uma evidência, enquanto os incumbentes podem ser totalmente privados - é o caso português, da ONI e da Portugal Telecom, respectivamente) serem, quase por definição, virtuosos e amigos dos clientes, por contraste com os incumbentes.
Mas adiante, que o que pretendo referir é a questão da recuperação da crise e o papel desempenhado pelos operadores de telecomunicações, quase todos incumbentes, à excepção da Vodafone ou de algum outro de que me esteja de momento a esquecer.
(Quero ressalvar mais uma vez, e não o sabendo o leitor, que, como sou trabalhador da Portugal Telecom, deverá ter em conta este facto - e a minha mais que possível polarização - ao ler o que aqui vou deixando escrito.)
A «queda» dos operadores - sobretudo a de vários dos maiores incumbentes europeus: a BT, a Deutsche Telekom, a France Telecom, o KPN dos Países Baixos, de certa maneira a Telefónica, sobretudo a sua Terra Lycos -, na sequência do rebentar da bolha das «dotcoms» , tinha-se dado pelo seu endividamento excessivo resultante de uma sequência de aquisições, uma estratégia a posteriori dita incontrolada, e, em boa parte dos casos, incluindo preços pesadíssimos de licenças para operar com redes de terceira Geração de telemóveis, a 3G , resultantes, como se sabe, de leilões levados a cabo em diversos países da União Europeia. Terceira Geração que só agora, neste próximo - a chegar - ano de 2004 deverá ver, com algum impacto, a luz do dia.
E o consequente levantar do chão das operadoras, sobretudo das mais afectadas, foi conseguido à custa das receitas de emagrecimento adequadas: acentuada diminuição de efectivos das respectivas forças de trabalho - boa altura para o fazer, quando as crises económicas aí estão! - e neste caso, sobretudo, através de vendas de muitas participações em operadores de fora de portas, bem como de desistências ou vendas a terceiros das licenças de operação de redes telemóveis de Terceira Geração, como aconteceu com vários dos operadores, e não apenas de entre os incumbentes, como foi o caso, em Portugal, do fim da Oniway…
Depois do Dilúvio, talvez alguma bonança. Uma bonança, ainda para mais, e não obstante a queda do tráfego telefónico fixo, abençoada por um crescimento dos utilizadores da “banda larga”, durante este último ano, ano da crise, na área da EU, de 10 para 20 milhões.
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1 - «dotcom» - «com»
2 - No caso vertente, trata-se dos istemas UMTS (Universal Mobile Telecommunication System)