A cimeira dos ricos
Uma forma de os grandes países consolidarem o seu poder. É assim que o PCP caracteriza a cimeira da Organização Mundial do Comércio, que decorreu em Cancun.
O PCP quer aprovar no parlamento uma resolução em defesa dos têxteis
A cimeira interministerial da OMC em Cancun, que se realizou entre os passados dias 10 e 14, tinha como objectivo a garantia de consolidação de um compromisso que permitisse ao grande capital multinacional e às grandes potências capitalistas um melhor acesso aos mercados, através da liberalização do comércio e do investimento. Esta denúncia foi feita por Agostinho Lopes, da Comissão Política do PCP, no passado dia 11, durante a realização da cimeira.
Para o dirigente comunista, esta cimeira foi o «balão de oxigénio» que estas potências encontraram para fazer frente às dificuldades com que se deparavam. A cimeira, considera Agostinho Lopes, realizava-se num quadro de fragilidade económica e recessão, de contradições decorrentes da situação no Iraque e de fortes movimentações sociais contra a globalização capitalista neoliberal.
Assim se compreende as pressões feitas pelas principais organizações internacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial), União Europeia, EUA e Japão, bem como das principais associações patronais, para o «sucesso» desta cimeira. E, neste caso «sucesso» significaria as garantias de abertura de mercados e redução dos direitos aduaneiros, a liberalização dos serviços, a abertura de mercados públicos e, sobretudo, a liberalização dos investimentos, «fazendo renascer o falecido AMI, Acordo Multilateral de Investimentos».
Cai a máscara
Para o dirigente comunista, os argumentos dos promotores da cimeira não colhem. «Ao contrário do que têm defendido os paladinos da redução do mundo a um imenso mercado», defende, o desmantelamento acelerado dos sistemas de protecção das economias nacionais «tem sido feito em prejuízo dos países com economias mais frágeis e menos desenvolvidos». Estes países mais fracos ficam cada vez mais «sob a tutela das economias mais fortes e agressivas», consolidando modelos de desenvolvimento assentes na produção e exportação de matérias-primas e na importação de produtos manufacturados, de alto valor acrescentado, e produtos agro-alimentares. As trocas desiguais são, deste modo, acentuadas.
Agostinho Lopes acusa a OMC de, em torno da liberalização comercial, levar a cabo um processo de mistificação. «Manipulando os justos anseios de países e povos com graves problemas de desenvolvimento», a organização pretende alcançar os compromissos essenciais para avançar com a agenda do capital multinacional e das grandes potências capitalistas».
Apesar de a OMC falar na integração dos países pobres e de afirmar que é pela liberalização comercial que se faz o desenvolvimento, a verdade é que desde que, na chamada «Ronda do Uruguai», se implementaram estas medidas, «aumentaram as desigualdades de rendimento, o fosso entre ricos e pobres, a pobreza, a dependência alimentar e tecnológica». Ao mesmo tempo, a ajuda ao desenvolvimento diminuiu e não se cumpre o compromisso dos 0,7 por cento do PIB, acusa Agostinho Lopes.
Decisiva para Portugal
O Governo português esteve também debaixo das críticas do PCP. Agostinho Lopes denunciou o silêncio do executivo, que não informou qual a estratégia que iria defender na cimeira, que o dirigente do PCP considera de grande importância para o País. Entre os temas abordados, estiveram a liberalização da agricultura e dos têxteis. No primeiro caso, o objectivo é a total integração do comércio agro-alimentar «na lógica do mercado, e do máximo lucro, em prejuízo da sua função essencial para a alimentação e soberania dos povos», denuncia. A prosseguir-se este caminho, alerta, a agricultura portuguesa ver-se-á, a breve prazo «ainda mais confrontada com a enorme e desigual concorrência de países como os EUA, a Austrália ou o continente sul-americano.
Ajuda interesseira
A «ajuda» dos países mais ricos foi alvo das críticas de Agostinho Lopes. O dirigente comunista lembra que em troca da «integração» dos países pobres no sistema de trocas multilaterais e na «economia global», os países mais ricos exigem aos destinatários da «ajuda» que se ponham em conformidade com as normas neoliberais: redução ao mínimo do papel do Estado, privatização, protecção da propriedade privada do capital estrangeiro.
Segundo revela o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, os 54 países em vias de desenvolvimento estão hoje mais pobres do que em 1990. Os mais ricos, por seu lado, aumentaram as suas riquezas. Agostinho Lopes considera que «o livre cambismo, a globalização neoliberal, como panaceias planetárias e como “ajuda” ao terceiro mundo, têm mostrado os seus frutos, quando se sabe que um em cada dois habitantes do planeta vive hoje com menos de dois dólares por dia».
Apesar disto, os países mais ricos – e as grandes empresas multinacionais – mantêm a tese de que ainda não se liberalizou o suficiente e propõem a intensificação da liberalização.
Para o dirigente comunista, esta cimeira foi o «balão de oxigénio» que estas potências encontraram para fazer frente às dificuldades com que se deparavam. A cimeira, considera Agostinho Lopes, realizava-se num quadro de fragilidade económica e recessão, de contradições decorrentes da situação no Iraque e de fortes movimentações sociais contra a globalização capitalista neoliberal.
Assim se compreende as pressões feitas pelas principais organizações internacionais (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial), União Europeia, EUA e Japão, bem como das principais associações patronais, para o «sucesso» desta cimeira. E, neste caso «sucesso» significaria as garantias de abertura de mercados e redução dos direitos aduaneiros, a liberalização dos serviços, a abertura de mercados públicos e, sobretudo, a liberalização dos investimentos, «fazendo renascer o falecido AMI, Acordo Multilateral de Investimentos».
Cai a máscara
Para o dirigente comunista, os argumentos dos promotores da cimeira não colhem. «Ao contrário do que têm defendido os paladinos da redução do mundo a um imenso mercado», defende, o desmantelamento acelerado dos sistemas de protecção das economias nacionais «tem sido feito em prejuízo dos países com economias mais frágeis e menos desenvolvidos». Estes países mais fracos ficam cada vez mais «sob a tutela das economias mais fortes e agressivas», consolidando modelos de desenvolvimento assentes na produção e exportação de matérias-primas e na importação de produtos manufacturados, de alto valor acrescentado, e produtos agro-alimentares. As trocas desiguais são, deste modo, acentuadas.
Agostinho Lopes acusa a OMC de, em torno da liberalização comercial, levar a cabo um processo de mistificação. «Manipulando os justos anseios de países e povos com graves problemas de desenvolvimento», a organização pretende alcançar os compromissos essenciais para avançar com a agenda do capital multinacional e das grandes potências capitalistas».
Apesar de a OMC falar na integração dos países pobres e de afirmar que é pela liberalização comercial que se faz o desenvolvimento, a verdade é que desde que, na chamada «Ronda do Uruguai», se implementaram estas medidas, «aumentaram as desigualdades de rendimento, o fosso entre ricos e pobres, a pobreza, a dependência alimentar e tecnológica». Ao mesmo tempo, a ajuda ao desenvolvimento diminuiu e não se cumpre o compromisso dos 0,7 por cento do PIB, acusa Agostinho Lopes.
Decisiva para Portugal
O Governo português esteve também debaixo das críticas do PCP. Agostinho Lopes denunciou o silêncio do executivo, que não informou qual a estratégia que iria defender na cimeira, que o dirigente do PCP considera de grande importância para o País. Entre os temas abordados, estiveram a liberalização da agricultura e dos têxteis. No primeiro caso, o objectivo é a total integração do comércio agro-alimentar «na lógica do mercado, e do máximo lucro, em prejuízo da sua função essencial para a alimentação e soberania dos povos», denuncia. A prosseguir-se este caminho, alerta, a agricultura portuguesa ver-se-á, a breve prazo «ainda mais confrontada com a enorme e desigual concorrência de países como os EUA, a Austrália ou o continente sul-americano.
Ajuda interesseira
A «ajuda» dos países mais ricos foi alvo das críticas de Agostinho Lopes. O dirigente comunista lembra que em troca da «integração» dos países pobres no sistema de trocas multilaterais e na «economia global», os países mais ricos exigem aos destinatários da «ajuda» que se ponham em conformidade com as normas neoliberais: redução ao mínimo do papel do Estado, privatização, protecção da propriedade privada do capital estrangeiro.
Segundo revela o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, os 54 países em vias de desenvolvimento estão hoje mais pobres do que em 1990. Os mais ricos, por seu lado, aumentaram as suas riquezas. Agostinho Lopes considera que «o livre cambismo, a globalização neoliberal, como panaceias planetárias e como “ajuda” ao terceiro mundo, têm mostrado os seus frutos, quando se sabe que um em cada dois habitantes do planeta vive hoje com menos de dois dólares por dia».
Apesar disto, os países mais ricos – e as grandes empresas multinacionais – mantêm a tese de que ainda não se liberalizou o suficiente e propõem a intensificação da liberalização.