Comentário

A juventude à lupa

Sandra Pimenta
Em pleno verão, e enquanto a temperatura aquece em Portugal, em grande parte devido aos incêndios que têm assolado o país, a nível europeu tudo está em «águas de bacalhau», ou melhor dizendo, não se passa nada de muito relevante na política europeia. É neste clima de acalmia que a Comissão Europeia decide publicar os resultados do eurobarómetro (sondagem de opinião sobre a juventude realizado a cerca de 10 mil jovens dos ainda 15 estados-membros, com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos) deste ano. Considerado muito mais do que uma simples analise dos jovens de hoje, o eurobarómetro traduz claramente as expectativas dos jovens europeus, em especial no que diz respeito à União Europeia, e também as respectivas inquietações e reivindicações para os próximos anos: conseguir um bom emprego, adquirir rapidamente autonomia financeira, poder viver, estudar e trabalhar livremente em todo o território da UE. Os resultados vêem já a seguir e, em alguns, casos conseguem surpreender-nos.

Para lá dos números

Desde finais dos anos 60 que a entrada dos jovens no mundo adulto é efectuada cada vez mais tarde. Não só os percursos de cada um se tornaram mais individuais, como também as etapas, dantes claramente diferenciadas por idades, como estudar, arranjar emprego ou fundar uma família, podem hoje em dia sobrepor-se umas às outras em combinações múltiplas, existindo cada vez mais estudantes com família a cargo. Grande parte dos jovens que trabalham ainda recebe os principais recursos financeiros dos pais e alguns continuam a viver na casa paterna até aos 30 anos. E a que se deve isso? O principal motivo que obriga os jovens a adiar a saída do «ninho» é a insuficiência de meios económicos. Em segundo lugar, a motivação é de cariz mais individualista, pois prolongam simplesmente uma situação confortável e de poucas responsabilidades.
É um facto que os modelos tradicionais viram a sua influência decair grandemente mas as nossas sociedades actuais também oferecem menos garantias de sucesso em início de vida. Em situação de desemprego, os jovens estão, na maior parte dos casos, prontos a aceitar qualquer tipo de emprego, mas com diferentes condições. Em primeiro lugar, estas dizem normalmente respeito à estabilidade e à remuneração. Contudo, quanto menos elevado for o seu nível de instrução, mais os jovens estão dispostos a fazer concessões.
Muito mais individualista, como já atrás foi referido, a juventude desenvolveu uma outra percepção dos assuntos públicos. É em países como Portugal, a Grécia e a Itália que a vida associativa dos jovens é menos desenvolvida. Um em cada dois jovens não frequenta nenhuma organização ou associação e, quando o fazem, trata-se na maior parte dos casos de associações desportivas. Bastante atrás, com menos de um em cada dez jovens, vêm as organizações paroquiais e religiosas, as de defesa dos direitos humanos e associações de consumidores. Se os ideais de democracia e de justiça da juventude de hoje nada têm a invejar às gerações anteriores, os jovens inscrevem-se cada vez menos nos mecanismos democráticos clássicos e encontram-se, na sua grande maioria, ausentes das organizações de juventude, dos partidos políticos ou dos sindicatos. A provar isso mesmo, está o facto de que quando são questionados sobre as estruturas mais aptas a preparar para a participação na vida social, os jovens colocam em primeiro lugar a escola, à frente do círculo familiar e dos amigos, e as organizações de juventude. As autoridades públicas e os partidos políticos são raramente citados, vindo até depois da televisão! É triste, mas é a realidade europeia.

Os jovens e a Europa

Para um jovem em cada quatro, a UE significa liberdade de movimento, surgindo esta referência em primeiro lugar em oito dos 15 países onde decorreu este inquérito. Numa abordagem mais política, a ideia de governo europeu vem em segundo lugar, em pé de igualdade com a crença de que a União Europeia é um meio para melhorar a situação económica na Europa. Em Portugal, Grécia e Itália destaca-se a ideia de que a UE é garantia de um melhor futuro para os jovens. E para esse mesmo futuro, o que fica? Para cerca de um em cada dois jovens, dentro de 10 anos a principal herança da União Europeia será a moeda única. Em segundo posição, com 45% dos votos, chega a possibilidade de viajar, estudar, trabalhar e viver livremente em toda a Europa. Mais abaixo, vem a esperança da UE suscitar mais oportunidades de emprego.
Perante estes resultados, e a avaliar pelas políticas previstas para a juventude no seio da UE, só nos resta esperar que o desencanto e a inércia não tomem conta dos jovens europeus num futuro mais próximo. Esperemos pois que as inquietações e reivindicações dos jovens para este ano não se repitam nos próximos. Para que direitos como conseguir um bom emprego, adquirir rapidamente autonomia financeira, poder viver, estudar e trabalhar livremente em todo o território da UE sejam uma realidade. O PCP, tanto a nível nacional, como também a nível europeu está a trabalhar com todo o empenho que lhe é característico para que todos estes direitos sejam uma realidade.


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