Comentário

Imperialismo - evolução na continuidade

Rui Paz
A documentação sobre «Os crimes da Wehrmacht (1941-1944)», organizada pelo Instituto de Investigação Sociológica de Hamburgo, tem levantado em toda a Alemanha grande polémica sobre a legitimidade da sua apresentação em edifícios públicos e comunais.
Criada em 1995, numa altura em que já eram claras as intenções militaristas e intervencionistas da Alemanha «reunificada», a exposição tem deparado com a oposição dos meios políticos oficiais em relação a uma temática susceptível de despertar ainda mais a consciência popular contra a política belicista da União Europeia e da NATO. Também a cidade de Dortmund, um dos últimos três grandes centros da Renânia-do-Norte-Vestefália (juntamente com Duisburgo e Wuppertal) ainda governados pelo SPD, acaba de proibir a realização no edifício da Câmara Municipal das sessões de informação histórica dedicadas a professores e a alunos que deverão acompanhar a entrada da exposição no «Museu de Arte e de História».
A imprensa de esquerda alemã salienta que seria «legítimo supor que os responsáveis comunais considerariam a Câmara Municipal, justamente situada na «Praça da Paz» (Friedensplatz) como o local mais indicado para a realização das sessões informativas sobre um tema histórico de tanta actualidade. Tanto mais que num folheto sobre a história da cidade se pode ler que «poucos dias antes de terminar a guerra, sete comandos da Gestapo executaram, entre os dias 7 e 9 de Março de 1945, 230 pessoas de sete nacionalidades, entre os quais prisioneiros de guerra russos e membros de vários círculos da resistência alemã em Dortmund».
Compreende-se que o capital alemão, no momento em que através da União Europeia e da NATO estende novamente o seu domínio até à fronteira da Rússia - e depois de a Aliança Atlântica ter desmantelado a Jugoslávia, raptado e encarcerado nas suas masmorras em Haia o presidente eleito Milosevic -, procure passar uma esponja sobre a história e os crimes do imperialismo alemão e europeu.
Tanto mais que o alemão Michael Steiner, administrador provisório da ONU no Kosovo, no momento em que abandonou as suas funções - em flagrante violação da resolução 1244 do Conselho de Segurança , e sob o silêncio cúmplice dos media, do próprio Conselho de Segurança e do secretário-geral das Nações Unidas -, acabou de separar de facto o Kosovo da Jugoslávia, decretando a abertura das suas fronteiras ao comércio livre com a Albânia e liquidando assim a soberania de Belgrado sobre aquela sua província.
Este processo de destruição da soberania dos estados e de anexações ilegais, de acordo com os interesses imperiais das grandes potências, constitui hoje, entre outros, um dos traços mais comuns existentes entre o nazismo da primeira metade do século XX e o imperialismo contemporâneo. Daí o receio e a desconfiança que o recordar da história sempre provoca na consciência dos estados opressores e da classe política que os serve.

O ensaio geral

Desde 1952 que os antigos combatentes da Wehrmacht se encontram na Alemanha, na região montanhosa de Brendten em Mittenwald. O «círculo de comandos dos caçadores da montanha» organiza ali um confraternização entre veteranos dos exércitos de Hitler e membros do actual exército alemão, a «Bundeswehr». O encontro realiza-se todos os anos pelo Pentecostes e é acompanhado de uma missa pelos militares caídos em combate ao serviço do «Führer». Com uma participação de 5000 pessoas, este «convívio» é o maior encontro de veteranos da Wehrmacht.
Desde 1968 que se têm aberto numerosos processos contra o assassínio de populações civis, perpetrado por estes militares de elite ao serviço do regime nazi. Nem um único teve, até agora, de responder perante a justiça, apesar de só àquele unidade hitleriana serem atribuídos cerca de 60 massacres.1 Mas como fazer comparecer perante a justiça os responsáveis por crimes que o imperialismo cometeu há mais de meio século, quando hoje cerca de 10 000 soldados alemães já estão novamente estacionados em países estrangeiros e os massacres da NATO, do exército norte-americano, das tropas de Blair e tantos outros são novamente exaltados como «guerra contra o terrorismo», guerra «contra dos ditadores», bombardeamentos «pela democracia», massacres «humanitários»?
O general alemão Heinz Loquai, numa entrevista ao diário «Junge Welt», esclarece a este respeito que «vista com os olhos de hoje, a agressão contra a Jugoslávia foi apenas um ensaio geral para o ataque contra o Iraque. Também a guerra contra a Jugoslávia foi uma das chamadas «guerras preventivas», desencadeada com o pretexto de evitar uma «catástrofe humanitária» no Kosovo. O argumento humanitário fez parte do arsenal de propaganda de Bush para ocupar o Iraque, assim como a mudança de regime. Até o mandato da ONU não foi necessário, nem na guerra contra a Jugoslávia, nem na invasão do Iraque.»

(1) 6000 prisioneiros de guerra em Kaphallonia; 317 homens, mulheres e crianças em Kommeno; 80 civis em Lyngiades; 146 homens e duas mulheres em Skines; e 98 civis em Camarino.


Mais artigos de: Internacional

Nova central sindical na Venezuela

A União Nacional de Trabalhadores (UNT), integrada por 120 sindicatos e 24 federações regionais, é desde 1 de Agosto a nova central sindical da Venezuela.

Luta pela paz

O Conselho Mundial da Paz (CMP) apelou, na segunda-feira, à coordenação mundial da luta contra a nova ordem imperialista.«Os povos do mundo inteiro enfrentam uma escalada de agressividade da nova ordem, que o imperialismo tenta impor a todos os níveis. Mas apesar do incontrolável terrorismo sem precedentes, os povos...