CGTP apresenta balanço da acção do Governo

Portugal está pior

O executivo PSD/CDS-PP «agrava as perspectivas de desenvolvimento do País e visa, em última instância, alterar o nosso regime democrático constitucional», acusa a Comissão Executiva da CGTP-IN.

A acção do Governo reflecte uma clara opção pelo grande capital

Após a reunião que realizou segunda-feira no Porto, aquele órgão dirigente da Intersindical Nacional divulgou um extenso documento em que analisa os principais aspectos da acção do Governo e da situação do País. O balanço, a cerca de ano e meio da tomada de posse, é claramente negativo. A CGTP deixa mesmo alguns alertas para problemas mais graves, tanto do ponto de vista estrutural, como no imediato.
A apreciação da actividade governativa do PSD e do PP – partidos que a Inter considera representantes da direita e extrema direita social e política – ressalva que o Governo «tem beneficiado dum conjunto de factores de distracção que, mesmo sendo problemas sérios, desfocam a atenção do carácter essencial das escolhas políticas seguidas».

Problemas e causas

A situação actual no País, sintetiza a CGTP, caracteriza-se por:
- recessão económica;
- quebra nas exportações, significativa em sectores importantes da economia;
- perda de competitividade interna;
- redução dos salários e do poder de compra da população;
- redução de utilização da capacidade de produção instalada nas empresas;
- multiplicação de falências e encerramentos, nomeadamente de PMEs;
- aumento rápido do desemprego e da precariedade do emprego;
- redução das receitas fiscais;
- quebra no crescimento das receitas da Segurança Social.
Para este quadro, contribuíram vários factores, dos quais a CGTP destaca seis.
Houve uma «contracção significativa do mercado interno», determinada «pelo esgotamento do modelo em que tem assentado a sua expansão e pela fragilidade desse modelo de crescimento do mercado». Para tal contribuem, designadamente, as «desigualdades que se têm agravado nos últimos anos».
O esforço de investimento tem sido canalizado para sectores de baixa produtividade e que não aumentam a capacidade produtiva do País. A CGTP sublinha que mais de metade do investimento foi realizado na construção, e aponta como «exemplos emblemáticos os 10 estádios de futebol num País tão pequeno».
Têm sido descurados os investimentos em sectores estratégicos (como a educação, a formação profissional, a investigação científica). Os financiamentos da UE para estas áreas não são aproveitados «integralmente nem de uma forma correcta», acusa a central, apontando como «exemplificativa» a baixa taxa de execução verificada em 2002 no Programa Operacional de Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS).
Para o agravamento dos problemas do País e dos trabalhadores tem contribuído igualmente «a política financeira fundamentalista» do Governo, que «pretende impor à força as políticas de cumprimento cego do Pacto de Estabilidade, cortando nomeadamente nos investimentos essenciais e em despesas estruturais e de pessoal necessárias ao bom funcionamento dos serviços públicos».
Por outro lado, a continuação e o aprofundamento da fraude e evasão fiscais «alimentam a economia informal e clandestina, primeira causa da baixa produtividade».
Finalmente, o Governo quer impor um Código do Trabalho «conservador e retrógrado, que vem aumentar a precariedade do trabalho e o abaixamento das qualificações, contribuindo assim para agravar os problemas da produtividade e competitividade».
Perante tal quadro, a CGTP conclui que «são muitas as razões para se inverter o rumo das políticas económicas e sociais», salientando que «os trabalhadores têm sido os grandes perdedores desta política».


Mais artigos de: Trabalhadores

Salários a perder

A CGTP denuncia a quebra real dos salários e a previsão de se verificar em 2003 uma taxa de inflação (que atingiu 3,8 por cento em Junho) acima da prevista pela Comissão Europeia (3,2 por cento) e muito superior à indicada pelo Governo (2,5 por cento).A central sublinha que «as previsões da União Europeia apontam para...

Desemprego a crescer

A evolução do desemprego leva a CGTP a considerar que o Governo tem conduzido, nesta área, «uma política desastrosa».O desemprego «continua a aumentar» e «cresceu 28,3 por cento entre Junho de 2002 e Junho de 2003, sendo agora superior a 414 mil pessoas». Mesmo o habitual decréscimo do desemprego nos meses de Verão,...

Governo mau pagador

Preocupado com o cumprimento cego das metas estabelecidas no Pacto de Estabilidade, o Governo não só tenta «aliviar» o Estado de algumas responsabilidades, como não assegura o respeito de outras. A CGTP, protestando contra a falta de combate à fraude e evasão fiscais, chama a atenção para o facto de não estarem a ser...

Dados e factos

Com base no Boletim Estatístico do Banco de Portugal, relativo a Junho, a CGTP compilou um conjunto de informações sobre a evolução recente do país, nomeadamente:- A produção industrial teve uma quebra da ordem dos 5 por cento, entre Abril de 2002 e Abril de 2003, com diminuição mais acentuada nos bens de investimento...

Golpe na Saúde

Os projectos de diploma sobre a Entidade Reguladora da Saúde e a rede de cuidados continuados são «importantíssimos para os trabalhadores e cidadãos em geral», salienta a CGTP.

Aventuras e pressões das farmacêuticas

Há laboratórios farmacêuticos cujos delegados já visitaram o mesmo médico mais de 30 vezes, desde o início do ano, denunciou na semana passada o Sinquifa/CGTP, lembrando que alertou para as consequências que decorreriam da publicação apressada, em Outubro de 1997, de uma circular sobre as condições de acesso da indústria...

Greve na Enatur

Contra a decisão de alienar uma importante parcela do capital social (37,6 por cento e, posteriormente, 49,9 por cento) e de entregar a gestão da Enatur a um consórcio privado, realizou-se no sábado uma greve, convocada pelos sindicatos da Fesaht/CGTP, com o apoio da Comissão de Trabalhadores da empresa que explora uma...

Deficientes contra o «Código»

A Associação Portuguesa de Deficientes considera que o Código do Trabalho não garante a não discriminação das pessoas com deficiência. O presidente da APD transmitiu esta posição ao secretário de Estado do Trabalho, no dia 18, e manifestou preocupação perante «algumas das medidas ultimamente adoptadas, que não favorecem...