«Fait divers»
Até agora, ninguém tinha dado pela existência da Cruz Vermelha Portuguesa, instituição respeitável que há décadas vem cumprindo com recato as funções mais ou menos sociais que lhe estão cometidas ou outorgadas, sem com isso emergir no bulício dos noticiários com alaridos de qualquer espécie.
A primeira e solitária nota que coloriu a sua existência com breve destaque foi, há alguns anos, a nomeação da dra. Maria Barroso para a presidência da instituição.
Por causa dessa nomeação percebeu-se, então, não apenas que a Cruz Vermelha Portuguesa afinal também dependia do governo - pois fora ele que nomeara Maria Barroso para o cargo -, como a sua presidência devia ter algum destaque social - porque atraíra a mulher do ex-Presidente da República Mário Soares para uma dita «intervenção cívica».
Depois, tudo continuou em sossego: a Cruz Vermelha Portuguesa no seu recato tradicional e a dra. Maria Barroso na sua almejada sinecura, que o Governo PS prestimosamente lhe proporcionara.
Até chegar Paulo Portas.
O actual ministro de Estado e da Defesa actuou como elefante em loja de porcelanas e, ao substituir Maria Barroso por um correligionário seu sem assumir com clareza a intenção e o acto, transformou-o para a opinião pública em saneamento e deu origem a uma escandaleira que, por fim, atingiu o seu objectivo obsessivamente central: colocou-o a ele próprio no centro das atenções, agora até a propósito da sossegada e discreta Cruz Vermelha Portuguesa.
Tudo isto é normal, no percurso político de Paulo Portas. Deslumbrado com o poder e obcecado com a sua imagem, o actual ministro da Defesa não dá um passo sem calcular as hipotéticas vantagens mediáticas e, nesta alucinação por si próprio, já exibiu perante o País o mais extraordinário acervo de figuras ridículas de que há memória no poder político recente em Portugal.
Quem não se lembra da inenarrável «manifestação de desagravo» coreografada para o Largo do Caldas, em Lisboa, onde o aparelho do CDS/PP desceu ao ponto de arregimentar um grupelho de manifestantes que, perante um Portas teatral e de lágrima ao canto do olho, «vitoriavam» o ministro para fingir que este não estava envolvido no escândalo da Moderna a ser julgado em tribunal?
Cena tão patética, só nos lembramos da protagonizada pela célebre «brigada do reumático» quando esta, já com a Revolução de Abril em marcha na clandestinidade dos quartéis, manifestava pomposamente aos dirigentes do regime fascista que «as Forças Armadas estavam firmes» a seu lado…
Com apenas um ano e tal de exercício do poder, Paulo Portas conseguiu o prodígio de surgir dezenas de vezes nos telejornais para falar de coisas tão importantes como as operações em curso de «vigilância por avistamento» duma eventual maré negra provocada pelo derramamento do petroleiro Prestige nas costas da Galiza ou as trapalhadas de uns helicópteros ora comprados, ora recusados e finalmente não se sabe se de novo encomendados (ou não) a também não se sabe que empresas (embora as preferências do ministro pareçam apontar para entidades norte-americanas) ou, ainda, umas negociatas que pretendem entregar as OGMA à gula do capital privado sob a estafada lengalenga da «viabilidade».
Para estas mãos-cheias de nada ocupou Paulo Portas dezenas de telejornais e tonitroou metáforas como se debitasse discursos de chefe de Executivo, ao mesmo tempo que passou a ignorar completamente quer as suas promessas eleitorais de segurança e de apoio à terceira idade, quer a sua escandalosa ligação ao processo da Moderna.
Declarou agora que este caso da Cruz Vermelha era um «fait divers».
Claro que é. Sobretudo porque Paulo Portas faz do «fait divers» o seu livro de instruções.
A primeira e solitária nota que coloriu a sua existência com breve destaque foi, há alguns anos, a nomeação da dra. Maria Barroso para a presidência da instituição.
Por causa dessa nomeação percebeu-se, então, não apenas que a Cruz Vermelha Portuguesa afinal também dependia do governo - pois fora ele que nomeara Maria Barroso para o cargo -, como a sua presidência devia ter algum destaque social - porque atraíra a mulher do ex-Presidente da República Mário Soares para uma dita «intervenção cívica».
Depois, tudo continuou em sossego: a Cruz Vermelha Portuguesa no seu recato tradicional e a dra. Maria Barroso na sua almejada sinecura, que o Governo PS prestimosamente lhe proporcionara.
Até chegar Paulo Portas.
O actual ministro de Estado e da Defesa actuou como elefante em loja de porcelanas e, ao substituir Maria Barroso por um correligionário seu sem assumir com clareza a intenção e o acto, transformou-o para a opinião pública em saneamento e deu origem a uma escandaleira que, por fim, atingiu o seu objectivo obsessivamente central: colocou-o a ele próprio no centro das atenções, agora até a propósito da sossegada e discreta Cruz Vermelha Portuguesa.
Tudo isto é normal, no percurso político de Paulo Portas. Deslumbrado com o poder e obcecado com a sua imagem, o actual ministro da Defesa não dá um passo sem calcular as hipotéticas vantagens mediáticas e, nesta alucinação por si próprio, já exibiu perante o País o mais extraordinário acervo de figuras ridículas de que há memória no poder político recente em Portugal.
Quem não se lembra da inenarrável «manifestação de desagravo» coreografada para o Largo do Caldas, em Lisboa, onde o aparelho do CDS/PP desceu ao ponto de arregimentar um grupelho de manifestantes que, perante um Portas teatral e de lágrima ao canto do olho, «vitoriavam» o ministro para fingir que este não estava envolvido no escândalo da Moderna a ser julgado em tribunal?
Cena tão patética, só nos lembramos da protagonizada pela célebre «brigada do reumático» quando esta, já com a Revolução de Abril em marcha na clandestinidade dos quartéis, manifestava pomposamente aos dirigentes do regime fascista que «as Forças Armadas estavam firmes» a seu lado…
Com apenas um ano e tal de exercício do poder, Paulo Portas conseguiu o prodígio de surgir dezenas de vezes nos telejornais para falar de coisas tão importantes como as operações em curso de «vigilância por avistamento» duma eventual maré negra provocada pelo derramamento do petroleiro Prestige nas costas da Galiza ou as trapalhadas de uns helicópteros ora comprados, ora recusados e finalmente não se sabe se de novo encomendados (ou não) a também não se sabe que empresas (embora as preferências do ministro pareçam apontar para entidades norte-americanas) ou, ainda, umas negociatas que pretendem entregar as OGMA à gula do capital privado sob a estafada lengalenga da «viabilidade».
Para estas mãos-cheias de nada ocupou Paulo Portas dezenas de telejornais e tonitroou metáforas como se debitasse discursos de chefe de Executivo, ao mesmo tempo que passou a ignorar completamente quer as suas promessas eleitorais de segurança e de apoio à terceira idade, quer a sua escandalosa ligação ao processo da Moderna.
Declarou agora que este caso da Cruz Vermelha era um «fait divers».
Claro que é. Sobretudo porque Paulo Portas faz do «fait divers» o seu livro de instruções.