Marketing e política

Pedro Campos
1 - Do vinho ao desodorizante…

Eduardo Arévalo Mateluna, empresário chileno, ganhou fama dentro e fora do seu país com uma ideia macabra. Simpatizante ferrenho de Pinochet, lançou ao mercado um vinho, que baptizou de Capitán General, para celebrar o chefe local do golpe propiciado pela CIA. Ao que parece, o vinho era tão reles como o homenageado – boa maneira de ser fazerem mútua justiça – e dele não reza a história.
Aproveitando a coincidência de que o atentado contra as Torres Gémeas também foi num 11 de Setembro, Mateluna viu ali uma oportunidade de negócio: se se pode azedar um vinho pondo-lhe nome tão infame, porque não se poderá fazer o equivalente com um desodorizante? E assim nasceu um com o nome de Ossama. Coisas do Terceiro Mundo? Não só. Anda por esta Europa – velha e nova – mais de um litígio pelos direitos comerciais da marca Bin Laden. Os cinquenta e tanto irmãos do ex aliado da CIA disputam a uma firma europeia os direitos de comercialização da barbuda cara saudita que levou os Estados Unidos a destruírem todo um país para o encontrar, julgar e condenar. Fracassaram, mas entretanto arrasaram um país já quase todo ele no chão.
Feitas bem as contas, para o capitalismo talvez nem seja tão ganancioso encontrar Bin Laden e quiçá haja mais dólares na exploração comercial do seu nome, pelo que provavelmente ainda o veremos na televisão a botar palavra num anúncio promocional. Não esqueçamos que uma vez certa marca de lâminas pagou uma fortuna para rapar a barba de um famoso Pai Natal. Barbas é coisa que não faltam a Ossama e nem sequer estão de molho.

2 - Se vende arroz, vende qualquer porcaria…

Charlote Beers é uma guru do marketing e da publicidade de J. Walter Thompson e Ogilvy & Mather, e dela disse a «pomba» Collin Powell – não será tempo de trocar «p» por «b»? –, que o tinha feito comprar o arroz Uncle Ben, e que não havia nada de mal em conseguir alguém que soubesse vender algo. Por algo entendam-se os «valores americanos», de forma a reposicionar a «política exterior dos Estados Unidos e a democracia». Tarefa nada fácil, como se sabe.
Naomi Klein, canadiana antiglobalizadora, também sabe de marcas, melhor dito de «não marcas». Acaba de lançar Brand USA e vaticina o fracasso da marca no mercado internacional, devido ao efeito boomerang dos seus atributos. «O marketing que tem feito de si a América – escreve – tem sido demasiado efectivo». As pessoas esperam que os Estados Unidos se comportem como prometem e estão furiosos – aos milhões – porque a política norte-americana não cumpre. «Por outras palavras, o problema da América não é a marca – que dificilmente poderia ser mais forte – mas sim o produto».
Klein é também autora de No Logo, onde analisa uma série de contra campanhas que contrariaram significativamente os esforços comunicacionais de várias transnacionais que produzem nos países asiáticos em condições de trabalho infantil quase-escravo. No caso de Nike, enfrentou-se o Just do it! com Justice! Just do it Nike! ou Just don’t!, que resultou em milhões de dólares a menos em vendas.

3 - Hamburguesa, arma de DESTRUIÇÃO maciça…

Depois da empresas de cigarros, é a vez de as de comida rápida se sentarem no banco dos réus. Por agora, a acusação cai sobre McDonald –
ponta de lança da penetração cultural do império sobre o resto do mundo – uma das responsáveis pela imparável obesidade dos norte-americanos, epidemia que custa 117 mil milhões de dólares em atenção médica e ordenados perdidos, além de ser a causa de que, cada ano, morram perto de 300 mil estado-unidenses. Ralph Nader saltou à arena afirmando que a «hamburguesa de queijo se McDonald’s é uma arma de destruição maciça». Por outra parte, Kelly Bromwell, especialista da Universidade de Yale, não se ficou por menos: «não há diferença entre Ronald McDonald e Joe Camel». E até o circunspecto Financial Times entrou na conversa para dizer que uma comida normal de McDonald de há 50 anos tinha 590 calorias e hoje chega a 1550.
Como se isto fosse de pouca monta, suspeita-se que as hamburguesas têm muitos ingredientes sintéticos - perto de 80% - , que a maioria dos produtos não se deve comer 30 minutos após servidos, e que não são exactamente de carne de vaca mas de protótipos genéticos e derivados do processamento de lombrigas californianas. Finalmente, é pouco o que os McDonald fazem pela economia dos país onde actuam, já que duas terceiras partes do que vendem são importadas dos Estados Unidos, para onde vai o maior quinhão dos lucros das vendas.


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