A despromoção para IPSS
Já me explicaram que a «Conversa Afiada», o programa de Maria João Avilez no SIC-Notícias, a conversa é mesmo afiada quando o convidado tem ideias que de perto ou de longe lembrem posiçõoes de esquerda e é simplesmente conversa fiada, perdendo o a inicial sob o sopro de afinidades ideológicas irrecusáveis, quando o convidado é completa e convenientemente de direita. Explicaram-me, e eu acredito. A entrevista com o prof. Freitas do Amaral, transmitida no passado domingo e repetida no dia seguinte à hora do almoço, veio reforçar as razões que me levam a crer nessa explicação porventura excessivamente sumária mas que, contudo, confere com o que vai ocorrendo em «Conversa Afiada». Não, entenda-se, que o prof. Diogo Freitas do Amaral seja um homem de esquerda, mesmo moderada, nem aliás ele quer passar por isso: reclama-se apenas do chamado centro-esquerda, zona de localização fugidia e sempre reivindicável porque, já se sabe, desde que um cidadão se afirme ao centro é garantido que haverá sempre alguém mais à direita. Em todo o caso, é certo que nos tempos mais recentes o ex-líder do CDS (então ainda sem os PP que desde logo foi lido como sendo a sigla de Paulo Portas) tem tido posições públicas que coincidem com posições de esquerda. Por exemplo: desde o ataque norte-americano à Jugoslávia vem surgindo a contrariar a política de agressões dos Estados Unidos, o que naturalmente cai mal nos mais fiéis súbditos de Washington. Agora, no caso do Iraque, foi atroadoramente contra a invasão. Compreende-se que, por estas e decerto ainda por outras, Maria João Avilez esteja com muito mais impressão do senhor professor. Em primeiro lugar, espero, porque tem convencimentos totalmente contrários aos que Freitas do Amaral expõe. Em segundo lugar, ou talvez em primeiro, porque o seu jornalismo não é um jornalismo qualquer: é um jornalismo de direita e, de resto, tem todo o direito de o ser. Só por uma questão de entendimento das coisas é que convém lembrar que, se não estou enganado, o seu primeiro grande êxito jornalístico decorreu de uma entrevista feita a Francisco Sá Carneiro no tempo em que este era o grande cruzado da direita nacional. De então para cá, Maria João Avilez ficou consagrada, é claro que com méritos específicos e indiscutíveis.
Bush e o seu precedente
Na entrevista a Freitas do Amaral, fui especialmente sensível a um ponto: o entrevistado é claramente “a favor” da ONU, Maria João Avilez é “contra”, isto é, acha que a ONU não serve para nada, que aliás nunca serviu. Aqui está, pois, a jornalista a confluir com a opinião da direita mais retinta, que sempre encarou a ONU com olhos torvos de desconfiança e ódio. Como ainda haverá quem se lembre e de resto é da História, o ódio à ONU remonta a Salazar, de quem neste particular Maria João é mais uma das herdeiras, esperando eu que não o seja em muito mais. Porém, o que nesta questão mais importa é que Bush pretende com a maior das evidências destruir a ONU, despromovendo-a radicalmente até à condição pelintra de organização de solidariedade social limitada ao plano caritativo. É isso mesmo que se depreende sem margem para dúvidas do que os telenoticiários nos vão permitindo saber, embora tendo o aparente cuidado de reduzir o caso à dimensão de pormenor irrelevante, não vá a gente importar-se muito com isso. Maria João Avilez achará lindo o projecto, já que em seu entender a ONU não serve para mais nada. Freitas do Amaral tem a opinião de que a redução da ONU a pouco mais que cisco seria uma catástrofe para a humanidade.
Ora, acontece que a ONU não foi inventada para ser apenas uma IPSS, uma instituição pública de solidariedade social, com o padre Melícias como seu secretário-geral: a ONU foi criada para que haja negociações em vez de guerras, regras de Direito em vez de bombas, civilização em vez de selvilização. George W. Bush (e, pelos vistos, Maria João Avilez) acha que assim não dá, que a ONU é inoperante, que os States é que o são, e para trocar o respeito da Carta da ONU pelo respeito dos Interesses Norte-Americanos lembraram-se de reduzir a Organização a uma outra coisa que não seria ela e de facto não seria quase nada. Percebe-se: uma organização que fala de Paz é um incómodo para quem quer escolher a guerra por achar que na guerra é o mais forte. Não quero desaqradar a ninguém, mas a verdade é que me lembro de que Hitler fez mais ou menos o mesmo: fez a Alemanha sair das Sociedade das Nações, a ONU do tempo, e assim deu de facto cabo dela. Eu sei que cai muito mal comparar Bush a Hitler., o imperialismo norte-americano à teoria nazi do Espaço Vital. Até concordo em que o estilo superpimpão de Hitler não era parecido com o estilo lorpa de Bush. Mas apesar disso são parecidos, e a culpa não é minha. É de George Bush.
Bush e o seu precedente
Na entrevista a Freitas do Amaral, fui especialmente sensível a um ponto: o entrevistado é claramente “a favor” da ONU, Maria João Avilez é “contra”, isto é, acha que a ONU não serve para nada, que aliás nunca serviu. Aqui está, pois, a jornalista a confluir com a opinião da direita mais retinta, que sempre encarou a ONU com olhos torvos de desconfiança e ódio. Como ainda haverá quem se lembre e de resto é da História, o ódio à ONU remonta a Salazar, de quem neste particular Maria João é mais uma das herdeiras, esperando eu que não o seja em muito mais. Porém, o que nesta questão mais importa é que Bush pretende com a maior das evidências destruir a ONU, despromovendo-a radicalmente até à condição pelintra de organização de solidariedade social limitada ao plano caritativo. É isso mesmo que se depreende sem margem para dúvidas do que os telenoticiários nos vão permitindo saber, embora tendo o aparente cuidado de reduzir o caso à dimensão de pormenor irrelevante, não vá a gente importar-se muito com isso. Maria João Avilez achará lindo o projecto, já que em seu entender a ONU não serve para mais nada. Freitas do Amaral tem a opinião de que a redução da ONU a pouco mais que cisco seria uma catástrofe para a humanidade.
Ora, acontece que a ONU não foi inventada para ser apenas uma IPSS, uma instituição pública de solidariedade social, com o padre Melícias como seu secretário-geral: a ONU foi criada para que haja negociações em vez de guerras, regras de Direito em vez de bombas, civilização em vez de selvilização. George W. Bush (e, pelos vistos, Maria João Avilez) acha que assim não dá, que a ONU é inoperante, que os States é que o são, e para trocar o respeito da Carta da ONU pelo respeito dos Interesses Norte-Americanos lembraram-se de reduzir a Organização a uma outra coisa que não seria ela e de facto não seria quase nada. Percebe-se: uma organização que fala de Paz é um incómodo para quem quer escolher a guerra por achar que na guerra é o mais forte. Não quero desaqradar a ninguém, mas a verdade é que me lembro de que Hitler fez mais ou menos o mesmo: fez a Alemanha sair das Sociedade das Nações, a ONU do tempo, e assim deu de facto cabo dela. Eu sei que cai muito mal comparar Bush a Hitler., o imperialismo norte-americano à teoria nazi do Espaço Vital. Até concordo em que o estilo superpimpão de Hitler não era parecido com o estilo lorpa de Bush. Mas apesar disso são parecidos, e a culpa não é minha. É de George Bush.