Revisitando os números chineses

Francisco Silva
Vamos voltar no presente texto ao que se vai passando na China quanto às suas telecomunicações e, em particular, vamos rever com brevidade o que se passou entretanto - no último ano, desde há dois anos - com o seu vigoroso crescimento.
Vamos voltar no presente texto ao que se vai passando na China quanto às suas telecomunicações e, em particular, vamos rever com brevidade o que se passou entretanto - no último ano, desde há dois anos - com o seu vigoroso crescimento. Porque me parece ser outra vez tempo de actualizar, refrescar, a informação sobre este tema, numa altura em que as perspectivas económicas genéricas e as relacionadas com o sector nos países mais desenvolvidos não são famosas. Ou, pelo menos, são diferentes. Curam-se as dívidas, diminuem-se abruptamente os agora chamados activos humanos, trabalha-se para a maximização do lucro em mercados «maduros».
Poder-se-á pensar - diz-me um amigo optimamente intencionado - que é uma mania ligada com a adoração dos grandes números relacionado com quase tudo o que vem dos chineses e que tal - os números que parecem astronómicos - não nos deveriam espantar. E, muito menos, deveriam deslumbrar. No Ocidente já se terá chegado a uma fase de satisfação generalizada das necessidades em termos de acessos a meios de comunicação como o telefone fixo mais o móvel e a Internet. Mas eles ainda pouco teriam passado do início. E tal crescimento estaria a dar-se apenas numa estreita faixa costeira. Ai, o interior chinês, ainda estouram violentamente as contradições.
Não quero dizer que não, não quero contrariar os cuidados. Contudo, mesmo assim lá vou eu. E começo… não diria pelo princípio, mas pelo meio, talvez. Já bem internado no cenário ao qual vamos dar umas olhadelas. Isto é, pelo serviço telemóvel: com 1,25 milhões de novos aderentes na China por semana, chegamos à conclusão que, num mês, os novos são tantos como os finlandeses, os tais que criaram a tal Nokia, o maior fabricante mundial de telemóveis. Olha, que espanto, os finlandeses são apenas uns 5 milhões de pessoas e os chineses, quantos?, uns 1 300 milhões. Isto é, haverá uns 260 chineses por cada finlandês. Mas que raio de comparação!
Está bem, condescendo enquanto preparo o tiro seguinte. E este segue de imediato: mas são já uns 200 milhões os utilizadores de telemóvel na China, 40 vezes mais do que os finlandeses. E tu a dares! Este ainda é mais fraco do que o argumento anterior. Não vês que tal valor corresponde a apenas (lá está a vir um dos mais conhecidos índices estatísticos, a chamada «penetração» - eu a pressentir a boomerangada) 15 em cada 100 pessoas, enquanto em Portugal já são mais de 80 em cada 100? Nem o facto de 200 milhões equivalerem às populações conjuntas da Alemanha, França e Reino Unido o faz impressionar [na aparência] por pouco que seja.
Então, resolvo juntar os fixos com os móveis: Olha (e vou continuando a trabalhar o melhor que posso os números respigados de um texto de publicidade a um estudo que um consultor de mercados, que assedia regularmente a minha caixa de email, me quer vender), daqui a cinco anos clientes fixos mais móveis serão uns 950 milhões, o triplo da população dos EUA e 75% da população chinesa. Muito impressionante! - o outro, ainda -, Acaba mas é com a demagogia, Não vês que, se todos os que possuírem telefone fixo tiverem um telemóvel, não chegará a 38 em cada 100 os chineses que dispõem de acesso quer ao telefone fixo quer ao móvel?
Eu é que me tinha metido por esta da guerra dos números, mas já estava a ficar farto. Contudo, por uma questão de honra (cavaleiresca?), achava que não podia ficar por ali: Olha (este escrevinhador não tem mesmo imaginação nenhuma, agora voltou a pôr o narrador a brandir com o Olha ao seu interlocutor), mas 38, 37.5 que seja, em cada 100 pessoas é praticamente a penetração do fixo - ele é que tinha começado com esta das penetrações, e eu a aproveitá-las para esta estocada. E a aprofundá-la: E se as famílias chinesas forem constituídas por três pessoas (não podem ter mais que um filho), 3 x38=114, o telefone fixo cobrirá mais que todos os chineses.
Ufano, eu, com estas «descobertas» e por poder deitá-las sobre a cara do meu interlocutor. Contudo, a minha consciência a chamar-me à Razão, baixinho para o outro não ouvir: Atão, os telefones fixos são todos residenciais? E os institucionais e empresariais? E a partilha entre móveis e fixos é metade para cada lado? E se for, por exemplo dois móveis para um fixo, como acontece, por exemplo, em Portugal? Calculando, dividindo por três, chega-se a 25% dos chineses com telefone fixo, supondo que eram todos residenciais. E 25%, supondo famílias de três elementos, dá uma cobertura residencial de ¾ dos lares. E os outros, os do interior, como é? Esquece, Razão minha.
Os jogos de números têm destas coisas. Contudo, para um País, como a China, que, no início dos anos 90, dispunha de menos de 1 linha telefónica por 100 habitantes é [magna] obra!


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