Um olhar sobre a situação social nos EUA revela a que ponto está pervertido «o país da liberdade e da democracia»

Direitos pouco humanos

A população prisional nos EUA, a maior do mundo, duplicou desde 1990. Os dados oficiais, aquém da realidade, apontam para mais de dois milhões de presos.
A defesa dos direitos humanos é uma constante no discurso norte-americano, mas a realidade mostra que nem os mais elementares são respeitados. Não falamos da mais recente lista negra onde foram incluídos intelectuais e artistas que ousaram manifestar-se contra a guerra, mas do que os próprios dados oficiais revelam sobre a discriminação e desigualdade reinantes na sociedade norte-americana, uma das mais violentas do mundo.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou recentemente que, em Junho de 2002, estavam nas cadeias norte-americanas 2 019 234 pessoas, 34 235 a mais do que no ano anterior, o que representa um crescimento de 5,4%, o maior desde 1997. Fontes não oficiais contestam este número, garantindo que no final de 2001 cumpriam penas nas prisões dos EUA, conhecidas por excederem em muito a sua capacidade de lotação, cerca de 6,6 milhões de pessoas.
Os negros constituem a maioria dos presos. Segundo as estatísticas, cerca de 12% dos negros, 4% dos latinos e 1,6% dos brancos com idades entre os 20 e os 35 anos estão atrás das grades. A discriminação racial para que estes dados apontam torna-se mais clara se tivermos em conta que os negros representam apenas 12,9% do total da população dos EUA, mas que a porcentagem de negros presos é de 46%. Segundo um relatório recente divulgado pela China sobre a situação dos direitos humanos nos Estados Unidos em 2002, um em cada cinco negros já esteve preso. O documento traça um paralelo chocante: no ano passado, havia mais negros na prisão (800 000) do que nos estabelecimentos de ensino superior (600 000).

Pena de morte

Os dados dos tribunais mostram, por outro lado, que pessoas acusadas de assassinar cidadãos brancos são mais frequentemente condenadas à morte do que as acusadas de matar cidadãos de cor, e que um acusado negro corre ainda maior risco de pena capital. Quem for acusado de matar um branco tem 1,6 vezes mais probabilidades de ser condenado à morte do que se a vítima for um negro; um negro acusado de assassinar um branco tem 2,5 vezes mais possibilidades de ser condenado à pena capital do que um branco que mata outro branco, e 3,5 vezes mais de receber a mesma pena do que nos casos em que tanto as vítimas como os assassinos são negros.
De acordo com as próprias autoridades norte-americanas, dos condenados à morte, desde 1973, pelo menos 99 vieram a ser considerados inocentes.
De referir ainda que a legislação norte-americana é uma das poucas do mundo que admite a pena capital para delinquentes juvenis e com enfermidades mentais. Um terço das execuções de adolescentes realizadas durante a última década ocorreu nos EUA.

Ricos e pobres

A violência aparece intimamente ligada com o aumento do fosso entre ricos e pobres. Entre 1998 e 2001, a diferença entre os 10% das famílias mais ricas e as 20% mais pobres aumentou em 70%.
As mulheres e as crianças aparecem como os elementos mais desprotegidos da sociedade norte-americana. Segundo os dados divulgados pela China, entre 1988 e 1997, um total de 6817 crianças foram assassinadas a tiro nos 50 estados dos EUA, e 58 000 crianças foram sequestradas.
A mesma fonte revela ainda que, em 2001, se registaram 11,8 milhões de delitos, o que representa um aumento de 2,1% em relação ao ano anterior. Em média, ocorreu um delito em cada 2,7 segundos, e registaram-se por dia 44 assassinatos e 248 violações (no total, 15 980 pessoas foram assassinadas e 90 491 mulheres foram violadas).
A taxa de assassinatos nos EUA é entre cinco e sete vezes maior do que a da maioria dos países industrializados. Acresce ainda que existem mais de 200 milhões de armas privadas nas mãos dos norte-americanos, sendo frequentes os tiroteios, que causam uma média de 30 000 feridos por ano.
A delinquência juvenil continua igualmente elevada nos EUA, sendo da responsabilidade de adolescentes cerca de 20% dos crimes violentos registados no país.

A democracia dos ricos

Em termos globais, a taxa de pobreza nos Estados Unidos aumentou para 11,7% em 2001, mas entre os afro-americanos e os hispânicos a mesma taxa é quase duas vezes maior, ascendendo a 22,7% e 21,4%, respectivamente.
Os dados disponíveis revelam ainda que os negros recebem pior assistência médica do que os brancos. A taxa de mortalidade de cancro entre os negros é 35% superior à dos brancos, e no caso da SIDA o número registrado entre as mulheres e crianças negras é 75% maior do que entre os brancos. A expectativa de vida média dos negros é 7% menor que a dos brancos.
A discriminação racial nos EUA aumentou após os ataques terroristas de 11 de Setembro. Cerca de 48% dos muçulmanos que vivem nos Estados Unidos indicam que suas vidas pioraram desde aquela data. Um ano depois dos ataques, 60% desses muçulmanos tinham sido vítimas de acções discriminatórias públicas como assaltos, agressões ou danos a propriedades. Registaram-se cerca de 2000 crimes contra cidadãos muçulmanos, incluindo 11 assassinatos e 56 ameaças de morte.


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