Contra as guerras do capital
Os trabalhadores e as suas organizações de classe estiveram particularmente activas nas últimas semanas. Nunca esquecendo a preocupante situação internacional – em que uma guerra de rapina contra o Iraque está cada vez mais próxima –, os trabalhadores trouxeram para o centro das atenções uma outra guerra, a movida pelo patronato e Governo contra os trabalhadores e os seus mais elementares direitos e aspirações.
Durante quinze dias, os problemas das deslocalizações e falências, do pacote laboral, da nova lei de bases da segurança social, e dos direitos das mulheres trabalhadoras foram discutidos em diversas iniciativas.
No dia 14, o Largo de Camões foi palco de uma tribuna pública em defesa dos postos de trabalho e exigindo a adopção de políticas económicas geradoras de empregos de qualidade. Contando com a presença do secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, foram os trabalhadores os principais protagonistas da iniciativa, ao testemunharem situações vividas em diversas empresas, sobretudo aquelas que atravessam processos de deslocalização ou encerramento, mais ou menos assumidos. Das indústrias eléctricas passando pelas confecções e calçado, foram muitos os casos concretos apresentados na iniciativa, que se transformou numa manifestação que rumou à
Assembleia da República para exigir um novo rumo para a política económica nacional. Na resolução aprovada, os trabalhadores culpabilizam pelo brutal aumento do desemprego quer os patrões quer o Governo. A par desta condenação, foi também exigida a tomada de medidas de responsabilização contratual das empresas que realizem investimentos em Portugal, apoiados pelo Estado, pelo não cumprimento dos compromissos que assumiram, bem como a rápida intervenção do Governo em caso de perigo de encerramento de alguma empresa.
Antes do início da tribuna, os trabalhadores aderiram ao apelo da CGTP e realizaram cinco minutos de paralisação às 14 horas, tal como muitos outros trabalhadores portugueses. O apelo à paralisação simbólica partiu da CES, Confederação Europeia de Sindicatos, da qual faz parte a Intersindical.
Actividade intensa
No dia anterior, junto ao tribunal de Vila Franca de Xira, os trabalhadores de cinco empresas falidas, concentraram-se para exigir o pagamento dos salários em atraso e das indemnizações a que têm direito. Aos trabalhadores da Argibay, Icesa, DCP, Mevil e Porbal é devido o pagamento de um valor que ultrapassa os 9 milhões de euros. Para a CGTP, o arrastamento deste processo «acaba por se reflectir também negativamente na economia do concelho, dado que o dinheiro não circula e não é investido no quotidiano da região». Os trabalhadores concentrados exigem a adopção de medidas que armem os tribunais de meios que permitam a aplicação célere da justiça, bem como o pagamento imediato, pelo Estado, dos créditos dos trabalhadores, substituindo-se a estes na situação de credor.
Ontem, dia 19, realizava-se, à hora do fecho da edição, o encontro de trabalhadores credores do patronato, onde foi apresentada uma queixa contra o Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem por morosidade do funcionamento da justiça.
A quinzena de lua termina amanhã, com plenários, paralisações, concentrações e manifestações em diversas empresas e cidades do País. Em Lisboa, o início da manifestação está marcado para as 15 horas, na Praça do Município. No Porto, os trabalhadores estarão concentrados a partir das 14.30 horas na Praça da Batalha. Em Setúbal, pelas 10 da manhã, no Jardim do Quebedo, ocorrerá uma concentração.