«Malhas que o capital tece»
No momento em que são escritas estas palavras ainda não se desencadeou a agressão militar imperialista dos EUA ao Iraque. Agressão que é expressão brutal do imperialismo dos EUA, que não hesita em provocar a morte de muitos milhares de crianças, mulheres e homens e em ultrapassar aliados/concorrentes para procurar afirmar e assegurar o seu domínio e tentar dar resposta à crise económica com que se debate. Agressão que contou com o inaceitável e subserviente apoio do Governo PSD/CDS-PP.
Embora a actual situação internacional evidencie as contradições inter-imperialistas - seus interesses e ambições, e há muito as temos vindo a afirmar, é ainda difícil de avaliar toda a amplitude que terão as consequências directas e indirectas desta guerra criminosa e, entre outros aspectos, nas relações entre as potências imperialistas.
Contratempos?
A agressão militar dos EUA, apoiada por alguns dos seus aliados, como a Grã-Bretanha, veio travar a dinâmica até aqui existente na Convenção sobre o futuro da União Europeia (UE) colocando em questão a concretização de uma das suas principais ambições, que é o aprofundamento das Políticas Externa e de Defesa comuns, ao dividir as potências da UE quanto ao desenvolvimento e perspectiva que têm do quadro das relações com os EUA. Basta referir as significativas disputas em torno da indústria de armamento, de que é exemplo o avião de transporte militar Airbus A400M.
França e Alemanha procuram criar as condições e assegurar os meios que possibilitem um quadro de relações em «parceria» com os EUA no domínio do Mundo. Para tal avançaram com propostas que dão concretização às suas ambições, procurando concretizar um salto qualitativo na integração política da UE, obviamente sob o seu domínio.
Ora o desenvolvimento da actual situação internacional, e a afirmação dos EUA como potência imperialista hegemónica, veio de novo baralhar as cartas até aqui lançadas na Convenção. Pelo que se perspectiva um compasso de espera. França e Alemanha deram sinais que reavaliarão as propostas que co-assinaram, nomeadamente quanto a aspectos tão cruciais como o poder ou os caminhos da concretização da integração política e da Política Externa e Defesa comuns. Ressurgem «saídas» como o recurso às «cooperações reforçadas» ou mesmo ao avanço de um «núcleo duro» de países, em torno da França e da Alemanha, que não integraria os futuros 25 países da UE.
O Conselho deverá, por isso, alongar o prazo de trabalho da Convenção que possibilite uma concertação entre as grandes potências. Aliás, muitos são aqueles que procurarão utilizar a actual situação, manipulando as aspirações tão fortemente demonstradas nas grandes manifestações pela paz, para justificar e alicerçar a necessidade de uma UE mais federalista e militarista, como «contraponto» aos EUA. Procurando avançar na criação de um bloco político-militar. De qualquer forma a Convenção já deu passos muito significativos nesta direcção. O grande capital na Europa não desistirá de procurar criar os instrumentos que lhe possibilitem uma melhor posição na relação dicotómica - rivalidade/convergência - com os EUA. Por outro lado, o imperialismo norte-americano tudo fará para assegurar a sua hegemonia.
Acelerar «Lisboa»
O grande patronato e as forças políticas que representam os seus interesses procurarão igualmente aproveitar a guerra como pretexto para intensificar a ofensiva contra os direitos e as conquistas sociais e políticas dos trabalhadores. Daí a extrema importância de dar atenção às conclusões da denominada Cimeira da Primavera, que hoje se inicia em Bruxelas.
Não é demais salientar que este tipo de Cimeira foi inaugurada e baptizada por Guterres em 2000, tendo como objectivo dar um ímpeto à concretização da agenda do capitalismo neoliberal na UE, consubstanciada na denominada «Estratégia de Lisboa».
Tem sido apontado, pela UNICE - que representa os interesses do grande patronato na UE e que integra a Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) e a Associação Industrial Portuguesa (AIP) - e pela Comissão Europeia, o objectivo de acelerar a concretização de tal «estratégia», o que significa acelerar as liberalizações, as privatizações e a flexibilização do trabalho, assim como reafirmar as políticas económica e monetária de direita, que tem no Pacto de Estabilidade um dos seus instrumentos, com a consequente contenção de salários dos trabalhadores e ataque ao sector público. «Estratégia» que encontra no Governo PSD/CDS-PP um fiel executor.
Coloca-se a necessidade de um profundo e pronto acompanhamento dos desenvolvimentos imediatos e a médio prazo e de uma pronta e firme resposta política, pela paz e contra a política de direita.