Juntos contra a guerra

Manuela Bernardino

O último fim de semana ficou assinalado por importantes mobilizações contra a guerra, nos EUA, Canadá, França, Japão, entre outros países. Por todo o mundo cresce a consciência dos imensos perigos que os preparativos militares dos EUA para agredir o Iraque comportam, não apenas para a própria região. E que só um vasto e amplo movimento de oposição à guerra a poderá impedir.


Dentro de dias, o Conselho de Segurança apreciará o relatório dos inspectores da ONU que, no quadro da Resolução 1441, investigam se o Iraque possui armas de destruição massiva. Sobre as possíveis conclusões desta missão, também, no último fim de semana, dirigentes de vários países multiplicaram-se em declarações em que se expressaram discrepâncias entre a posição dos EUA («início da última fase», « o tempo esgotou-se para o Iraque» - Condolezza Rice, «não devemos fugir às nossas responsabilidades e obrigações...»- Colin Powell) e da Grã-Bretanha («se o Iraque não cumprir a Resolução terá que ser forçado, o que só poderá ser feito através duma acção militar» – Jack Straw, MNE britânico) por um lado, e a da França e Alemanha, por outro, que apontam para o desarmamento do Iraque através do prolongamento do trabalho dos inspectores, procurando evitar um apoio imediato a um cenário de guerra. A Turquia, neste momento, com 90% da população contra a guerra, não só demonstra dificuldades em garantir um quadro de facilitações logísticas que os EUA tinham como certo, como procura, através, da realização duma Cimeira com países árabes da região uma alternativa ao conflito. Ainda, no fim de semana, por ocasião da visita de Hans Blix e M. El-Baradei, chefes das missões dos inspectores da ONU, a Bagdad, o Iraque subscreveu uma declaração em que se compromete a reforçar a cooperação com os inspectores «para que se assegurem que o Iraque está livre de armas de destruição massiva».


À propaganda da inevitabilidade da guerra contrapõe-se hoje uma opinião pública que se apercebeu que não é a defesa da democracia no Iraque, nem o seu desarmamento, que move os EUA. No centro desta «campanha» está o objectivo de controlar as importantes reservas petrolíferas do Iraque, desestabilizar a região e poder assim alargar o seu domínio numa vasta zona geoestratégica onde se concentram enormes recursos energéticos. Subjacente ao pretexto de combate ao terrorismo estão não apenas projectos de hegemonia mundial, mas a própria necessidade de salvaguardar o complexo militar industrial dos EUA, numa situação de crise económica, ainda não refeita dos três trimestres consecutivos de recessão de 2001, que se defronta com a maior taxa de desemprego dos últimos 8 anos. No projecto para a «democratização» do Iraque, proposto recentemente a Bush pela sua assessora para a segurança nacional, Condolezza Rice, estão bem claros os planos de invasão e ocupação (um general norte-americano «assumirá todo o poder», e «um destacamento militar permanecerá, pelo menos, durante 18 meses no país») e «procurar-se-á reconstruir com rapidez a infra-estrutura petrolífera». Mais claro não se pode ser...


É nosso dever contribuir para criar as condições que evitem que os EUA se lancem nesta aventura belicista. Por isso apelamos para que todos participem na jornada de 15 de Fevereiro «Juntos podemos impedir a guerra» que, em Lisboa, afirmará bem alto a PAZ como um bem inestimável para todos os povos.



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