Electricidade, rendas de casa, portagens e seguros sobem

Ano novo, preços caros

Miguel Inácio

Com a chegada do ano novo, o Governo entra a matar com novos aumentos em vários bens e serviços. A partir do dia 1 de Janeiro, a subida dos preços atingiu, para além das rendas de casa, as portagens, os transportes, os medicamentos e as contas de gás e electricidade. Trata-se quase sempre de aumentos muito acima da inflação, ou seja, 2003 será um ano em que os portugueses vão perder, ainda mais, poder de compra.

Aos portugueses que apertam o cinto resta lutar por melhores dias

O maior agravamento de preços verificou-se ao nível dos seguros automóveis, que sofreram um aumento entre os 10 e os 12 por cento, um valor três vezes superior à inflação prevista pelo Governo. Para justificar o aumento, as seguradoras usam o argumento da elevada sinistralidade que se verifica nas estradas portuguesas.

Perante esta situação, a DECO considera estranho o facto de todas as companhias de seguro terem decidido aumentar, na mesma percentagem, o seguro automóvel, entendendo que existe, neste caso, uma lógica de cartelização.

No que diz respeito às rendas de casa, o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Habitação decidiu aumentá-las em 3,6 por cento. A alteração atinge os contratos de arrendamento firmados desde 1980, ou seja, há mais de 20 anos.

A electricidade subiu em média 2,8 por cento, mas só no território continental, o que aponta para um valor de 0,3 por cento acima da inflação. Mais «sorte» tiveram as ilhas, onde o preço sofreu uma redução: nos Açores é de 5,1 por cento e na Madeira de 4,4 por cento.

No gás, nem todas as distribuidoras apresentaram o novo tarifário, mas, no caso da Gascan (empresa de distribuição de gás canalizado propano e natural), o aumento foi de 5,5 por cento. A Gigalgás e a GalpEnergia contrariaram esta posição e já afirmaram que os custos dos seu produto vão manter-se. O preço do água não vai sofrer alterações, mas só primeiros meses de 2003, já que em Julho de 2002 sofreu um aumento de 3,6 por cento. São então esperadas mudanças nos preços entre Março e Maio.

Nos combustíveis, o ano começa com uma descida ligeira da gasolina. O preço máximo da gasolina sem chumbo de 95 octanas desceu para 95 cêntimos e o preço indicativo para a gasolina sem chumbo de 98 octanas caiu para 1 euro. Quando ao preço do gasóleo, este manteve-se inalterado.

Mas as noticias internacionais são pouco animadoras. Com o petróleo a atingir picos máximos de quase dois anos e com a intensificação da instabilidade, por factores «externos», - na Venezuela a braços com a destabilização causada pela reacção e pelo imperialismo e no Iraque onde se aguarda a agressão dos Estados Unidos - dá-se como certo um novo aumento de preços para o próximo mês de Fevereiro.

 

Portagens mais caras

 

Os preços das portagens nas pontes 25 de Abril e Vasco da Gama também sofreram um aumento de 4 por cento. O maior agravamento incide na classe 1, aquela que representa o maior volume de tráfego.

Na Ponte 25 de Abril, os veículos desta classe começaram a pagar 1,05 euros (mais 0,5 cêntimos), ao passo que, na Vasco da Gama, esse valor subiu dos 1,75 euros para os 1,85. Na classe 2, os preços oscilam entre os 2,65 euros, na 25 de Abril, e os 4,50 euros, na Vasco da Gama. Já na classe 3, os condutores pagam agora 3,90 euros para atravessar a 25 de Abril e 6,70 euros, para percorrer a Vasco da Gama. Na classe 4 os preços aumentaram para 5,05 euros, na 25 de Abril, e para 8,75 euros, na Vasco da Gama.

Utilizar a auto-estrada também passou a ser mais caro. A partir do primeiro dia do ano, as portagens sofreram um aumento médio de 3,3 por cento. A polémica reposição das portagens da CREL é outro dos problemas dos lisboetas. Atravessar a Circular Regional Externa de Lisboa passou a custar 2,5 euros. Os portugueses não se fizeram esperar (ver página seguinte).


«Exagerada carga fiscal»

As vendas de veículos automóveis caíram 14 por cento em 2002, para 310 809 unidades, segundo a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP).

Em Dezembro, face a igual mês de 2001, as vendas desceram 32,2 por cento. Para a ACAP, foi o pior dos últimos seis anos em vendas de veículos ligeiros, que registraram uma queda de 13,7 por cento (para 305 375 unidades), com as vendas de comerciais ligeiros a baixarem 19,7 por cento e as de ligeiros de passageiros a reduzirem-se 11,4 por cento. Em 2002 as vendas de pesados desceram 28,2 por cento, com uma queda de 23,7 por cento em Dezembro.

A ACAP assinala, em comunicado, que a situação das vendas de ligeiros foi no ano passado muito mais gravosa em Portugal do que no conjunto da União Europeia, observando que os últimos dados conhecidos para a UE, relativos aos primeiros 11 meses de 2002, indicavam uma quebra de 3,7 por cento nas vendas de ligeiros, muito menos pronunciada do que a verificada em Portugal.

Para a ACAP, a queda das vendas em Portugal reflecte «a exagerada carga fiscal», com estagnação da política fiscal automóvel em Portugal nos últimos 14 anos e torná-la «desadequada» em relação às actuais tendências na Europa.

«A ACAP exige que o Governo tome as medidas necessárias no sentido de promover a imediata reforma do imposto automóvel, substituindo-o por um imposto que reflicta em termos médios a carga fiscal automóvel na União Europeia», conclui a associação.

No entanto é de assinalar que os topo de gama das marcas mais caras não sofreram com a «crise». Pelo contrário, aqui registou-se mesmo uma subida. É que apertar o cinto não é para todos...



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