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Presidentes jardineiros

• José Brinquete

Há dias participei numa reunião cujo objectivo central era dar início à formação das listas municipais e de freguesia, num dos concelhos do Nordeste Transmontano. A certa altura o ambiente na reunião estava pesado e o estado de espírito não era o melhor. Eis quando um camarada, que não é de muitas falas, pede a palavra e diz «eu não estou de acordo com o argumento de que as condições são difíceis e que não é possível fazer muito...» e acrescentou «os presidentes de câmara no distrito de Bragança não passam de presidentes jardineiros, veja-se o caso concreto do nosso presidente de câmara que, para além de ter feito uns jardins, só trabalha para a sua própria imagem» e rematou «no essencial está sempre de acordo com as políticas do Governo, que é como se sabe o seu governo».

A intervenção deste camarada, que foi curta, acabou por mudar o rumo da discussão. Os restantes participantes, mesmo os mais pessimistas, ganharam ânimo novo e, a partir desse momento, a reunião debruçou-se com alguma profundidade sobre o balanço da actividade do actual mandato autárquico, passando em revista o que têm sido as políticas municipais das sete maiorias do PS e cinco do PSD, no distrito de Bragança.

De facto, a obra apresentada e visível a olho nu perde-se por uns jardins, passeios e arruamentos, de preferência no centro dos principais núcleos urbanos, e na bajulice bacoca e subserviente perante o poder central.

Os representantes do Governo, nestes últimos tempos (com o aproximar das eleições autárquicas acontecerá ainda mais), até se atropelam uns aos outros, trazendo pequenos e míseros cheques a estes servos famintos, formados na tradicional escola da vassalagem.

Em outros artigos recentes, relatei alguns episódios, que são lapidares deste comportamento, como sejam: a ida a Macau, de dois edis, pela mão do Governador Civil, à procura de investidores; ou a ida a Lisboa, pela mão da mesma personagem, jantar com um ministro com o objectivo de lhe pedir favores. São os únicos gestos colectivos que se conhecem e são tristes exemplos de como não se deve exercer o cargo de presidente de uma Câmara Municipal. Aliás, destas iniciativas o resultado foi zero, o que humilha ainda mais o Poder Local.

Entretanto, o que lhes falta em inteligência, capacidade reivindicativa e autonomia no exercício do cargo para que foram eleitos democraticamente, sobra-lhes na esperteza em processos de compadrio, tráfico de influências, caciquismo e outras manigâncias semelhantes a estas.

O curto espaço deste artigo não permite descrever os inúmeros episódios conhecidos por toda a região e que ilustram à saciedade o que afirmamos. Sendo assim, resta-me seleccionar um ou outro mais recente, para melhor compreenderem como estes guichos trabalham:

- O candidato à Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta pelo PSD, resolveu apresentar a sua candidatura, no passado dia 10 de Março, com a presença de Durão Barroso e, vai daí, não esteve com meias medidas: convocou esse evento em papel timbrado da Câmara Municipal, enviou a convocatória pelo fax da Câmara Municipal e assinou a mesma convocatória na qualidade de Presidente da Câmara.

- No concelho de Bragança, o Governo e o PS têm no terreno um candidato que pretendem tornar conhecido junto da população, fazer esquecer o miserável trabalho que o PS desenvolveu durante os oito anos que esteve à frente do município e ignorar a ausência de trabalho e de propostas dos actuais três vereadores do PS. Perante esta situação, o que está a fazer o PS e o seu governo e, no mínimo, um escândalo de dimensão nacional. Se não vejamos: a ministra da Economia, Cristina de Sousa, veio a Bragança assinar um protocolo com uma empresa de escapes para automóveis. A cerimónia foi marcada para o Instituto Politécnico de Bragança. Á última hora o PS e o Governo tentaram impor que esta cerimónia se realizasse no Nerba, onde esse candidato é presidente da Direcção, para lhe dar visibilidade. Mais recentemente o ministro do Emprego, o tal do escândalo dos boys de Évora, veio a Bragança lançar um Programa de Formação Profissional (a que, indevidamente, deu o nome de Programa de Emprego para Trás-os-Montes). O mais lógico e acertado era que esta cerimónia se realizasse no Instituto Politécnico de Bragança ou no Centro de Emprego e Formação Profissional, onde se encontra uma enorme massa de jovens que brevemente entrará no mercado de trabalho. Infelizmente assim não aconteceu. A cerimónia realizou-se no Nerba, claro! Assim, o candidato fez o discurso...

Estes dois curtos exemplos demonstram, para quem ainda não percebeu, que a gestão democrática das autarquias e a participação popular, o desenvolvimento sustentado e o ordenamento dos espaços urbanos para uma vida de qualidade das populações, são valores que não passam pela cabeça desta gente.

No Nordeste Transmontano, nas próximas eleições autárquicas, onde os meios do poder dominante são avassaladores, também vale a pena participar em listas CDU para construir a alternativa que mais tarde ou mais cedo se sobreporá ao compadrio, ao jogo de influências e ao caciquismo.

Esta alternativa terá de passar inevitavelmente pela CDU..

«Avante!» Nº 1434 - 24.Maio.2001