Não existe

Henrique Custódio

Há uma coisa a que Passos Coelho nunca respondeu: que programa de governo propõe? A resposta, que nunca é dada, torna-se flagrante, na sua inexistência.

Não que Passos Coelho não tenha um programa – tem-no, só não quer divulgá-lo, porque é o mesmo que aplicou na sua chancelaria.

(Verdade seja dita que isso mesmo parece ter compreendido a generalidade dos jornalistas que lhe fornecem tempo de antena, dado que nenhum ainda o confrontou directamente com a pergunta.)

Ora, até Passos percebeu que a população portuguesa lhe pregará um rotundo «não» na cara se, de novo, lhe acenar com mais austeridade.

Aliás, quando se candidatou à governança apenas prometia um enigmático «novo paradigma», que rapidamente se revelaria uma catástrofe para o povo português – mas já era tarde.

Daí que a trajectória do ex-chanceler, desde que foi apeado do poder, tenha vindo a dar mais volteios do que uma gincana de desnorteados.

Entrou em estado de negação com a derrota e o seu problema central é nunca ter saído daí. Ameaçou com novo resgate, garantiu o falhanço de todas as metas no défice, no desemprego ou na dívida, jurou que todas as estimativas estavam erradas e até prometeu o diabo em pessoa.

Debalde. Nenhuma desgraça anunciada lhe correu bem.

Recentemente tentou nova abordagem e começou a dizer que os sinais positivos verificados na generalidade dos resultados – défice, desemprego, etc. – se devem «à política do seu governo». Como o descaramento do homem não tem limites, resolveu também manifestar «profunda indignação» (por interposto Luís Montenegro) devido ao Governo de António Costa não ter aceitado um nome indicado pelo PSD para um cargo da escolha exclusiva do Executivo.

Começando por este episódio, a «profunda indignação» do PSD devia esfarrapar-lhe as próprias vestes, lembrados que estamos (nós, o povo e o País) da governação Passos/Portas onde punham e dispunham de todos os lugares no aparelho de Estado, com enérgica sobranceria e sem darem cavaco a ninguém. E era um fartar vilanagem – até mesmo já demitidos, continuaram a atafulhar a máquina do Estado de amigos e confrades.

Quanto aos «créditos», auto-assumidos por Passos Coelho pelos bons resultados do Governo do PS, merecem uma sonora e, sem dúvida, irrevogável gargalhada, apesar da defenestração aplicada ao adjectivo por Paulo Portas. Só mesmo o infinito descaramento de Passos pode fingir não se lembrar das suas próprias palavras há um ano, precisamente a vaticinar a «vinda do diabo» que o abandono da política de austeridade do seu governo provocaria no País, «lá para Setembro ou Outubro»... do ano passado.

Enfim, Passos Coelho finge-se «remodelado» e espera que mudar os móveis de sítio bastará para esconder que a «sua casa» já não existe.

 



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