O nosso Congresso<br>e os dos outros
Não é só porque ainda temos na retina um Portas lacrimejante num cenário cinematográfico, com um garrafal «obrigado, Paulo» na abertura do congresso do CDS no fim-de- semana passado, numa imagem síntese da política-espectáculo. É sobretudo porque agora que se começam a realizar as primeiras reuniões de discussão do XX Congresso do PCP, merece a pena assinalar as profundas diferenças entre a preparação de um congresso de um partido revolucionário, enraizado nos trabalhadores e no povo, e dos outros todos.
O PCP é um grande colectivo de homens e mulheres
Nos congressos do PS, do PSD, do CDS, do BE, há moções, facções e outras complicações. Há facadas nas costas, chefes, caciques e claques, gente que paga as quotas a outra gente para votar como é preciso que se vote. Há empresas organizadoras de eventos, realizadores e guionistas. Há estrelas que falam à hora do telejornal e «militantes de base» que intervêm às duas da manhã. Há o voto binário, sim ou não, moção A ou moção B.
E há o Congresso do PCP. Começado a preparar em Março para se realizar em Dezembro, durante nove profundos meses – e desconta-se aqui o trabalho de elaboração prévio à decisão do Comité Central no lançamento do Congresso. Um trabalho preparatório dividido em três fases distintas: uma primeira, que decorre até final de Maio, em que a organização do Partido é chamada a contribuir com base nos tópicos lançados pelo CC, «de modo a permitir, com a máxima contribuição dos membros e organismos do Partido, a definição dos elementos essenciais a integrar na elaboração das Teses», conforme se lê na resolução do Comité Central. Uma segunda fase, em que as Teses são elaboradas tendo em conta o debate e as contribuições da primeira. Uma terceira fase, a partir de Setembro, em que a discussão se faz já com base nas Teses – projecto de Resolução Política, em que todos os militantes têm direito igual a fazer propostas de alteração, elaborar contributos, inserir esta ou aquela ideia que ainda não estava contida. A fase em que as organizações do Partido elegem os seus delegados ao Congresso, numa proporção igual para todos, em que não há distinções entre militantes de há 50 anos ou de há cinco meses, ou entre deputados, presidentes de câmara ou o mais discreto quadro do Partido.
É responsabilidade dos organismos de direcção do Partido, a todos os níveis, criar as condições e suscitar o interesse para que o máximo de membros do Partido contribuam para o êxito do Congresso, com a sua experiência, reflexão e opinião.
Um partido revolucionário
No PCP não há um chefe, iluminado e visionário, que sabe tudo e sobre tudo tem soluções. Há um grande colectivo, de homens e mulheres, inseridos na vida das suas empresas e locais de trabalho, conhecedores dos sentimentos, anseios e problemas do povo, que analisa, aprofunda, discute, decide e concretiza um projecto político transformador da sociedade portuguesa. Que organiza, mobiliza e dirige a luta dos trabalhadores e do povo, porque fazem parte dele e querem a sua emancipação.
Para quem olhe para a vida e para a política com um olhar superficial pode ser difícil compreender como nos organizamos. Pode parecer estranho que «discutir» não seja aos gritos, que eleger uma direcção não seja um jogo de toma-lá-dá-cá ou que não haja vencedores e vencidos. Mas quem olhe sem preconceitos para o PCP verá que o processo preparatório dos nossos congressos é profunda e pioneiramente democrático.
Claro que os inimigos de classe do PCP dificultam o mais que podem o fim dos preconceitos. Um pequeno exemplo: «monolíticos», «ortodoxos», «antidemocráticos», «uma unanimidade norte-coreana» – são epítetos que frequentemente se ouvem a propósito dos congressos do PCP, da sua coesão e coerência. Expressões que nunca se ouvem sobre os congressos dos outros partidos, apesar de a Comissão Política do CDS ter sido eleita com 95,59 por cento dos votos, Passos Coelho reeleito com 94,65 por cento, ou que António Costa tenha tido 96 por cento nas eleições directas para secretário-geral do PS.
O que nos outros é apresentado como «força», «competência», «conquista do partido», «dinâmica vencedora», no PCP é apoucado e caricaturado. Uma atitude de desonestidade intelectual que tem que ser desmascarada. Como desmascaradas têm de ser as leis dos partidos e do financiamento dos partidos, que procuram impor um modelo único de organização política ao povo português.
O XX Congresso do PCP realiza-se num momento especial, no plano nacional e internacional. Um momento que, como temos dito, grandes perigos convivem com grandes potencialidades. Façamos dele um processo de análise, definição de caminhos e reforço do PCP, que faça avançar a luta e a história dos trabalhadores e do povo.