Guerra na Ucrânia

Combates em toda a linha

As autoridades antigolpistas do Donbass respondem à intensificação da campanha militar de Kiev com uma contra-ofensiva destinada a repelir o assédio de Kiev no Leste do país.

Kiev considerou, anteontem, a Rússia um «Estado agressor»

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O conflito nas regiões de Donetsk e Lugansk agravou-se substancialmente na última semana, primeiro com a retirada do derradeiro contingente golpista do aeroporto de Donetsk. Recuo confirmado quer por Kiev quer pelas autoridades do Donbass, embora com versões diferentes. Enquanto o presidente Petro Porochenko afirmava que «o nosso inimigo pagou um alto preço» e prometeu prontidão das forças armadas para «atingi-los nos dentes», os antigolpistas informaram que os combates pelo controlo da infra-estrutura e de toda a área adjacente tinham provocado, em três dias, cerca de um milhar de soldados ucranianos mortos e outros 1500 feridos, e resultado na destruição de 42 tanques e 34 blindados. Detalhes que sugerem ser exacta a versão dos antifascistas, segundo os quais foi Kiev quem lançou uma vasta operação armada para retomar Donetsk e em particular toda a zona do aeroporto, violando, assim, o cessar-fogo acordado em Setembro em Minsk, capital da Bielorrússia.

Na quinta-feira, 22, um autocarro de passageiros foi atingido por um bombardeamento na cidade de Donetsk, causando a morte a 13 civis. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia e os imperialistas concordam em qualificar o atentado de «crime», mas divergem no resto. Para Sergei Lavrov, tratou-se de uma «provocação grosseira destinada a minar os esforços de paz».«As perdas humanas não vão parar o “partido da guerra” em Kiev e os seus apoiantes estrangeiros», considerou ainda. O primeiro-ministro golpista, Arseni Iatseniuk, por seu lado, atribuiu o ataque a «terroristas russos», responsabilidade que o presidente da República Popular de Donetsk, Aleksandr Zakharchenko, devolve apontando o dedo a «um grupo subversivo» fiel à junta fascista.

Contra-ofensiva

O segundo bombardeamento de um autocarro de passageiros em Donetsk este mês, bem como a intensificação do assédio das forças governamentais ucranianas na cidade e na região – caso dos ataques a infra-estruturas eléctricas que, segunda-feira, 26, deixou centenas de mineiros presos durante horas nas galerias de uma mina devido ao corte de energia –, terão sido a gota de água para as autoridades do Donbass.

Sexta-feira, 23, Zakharchenko anunciou uma contra-ofensiva que se vai estender «até à fronteira da região da Donetsk». O objectivo é a criação de uma única linha de frente entre Lugansk, no Nordeste, e o Sul da cidade de Donetsk, visando afastar o mais possível a artilharia pesada às ordens da junta fascista e evitar os bombardeamentos indiscriminados de Kiev.

É neste contexto que se explicam as manobras militares em curso dos insurrectos contra Debal'tseve, sensivelmente a meio caminho entre as cidades de Donetsk e Lugansk, e, simultaneamente, ponto de confluência de importantes vias de comunicação entre as repúblicas populares e local estratégico usado por Kiev para fustigar a vizinha cidade de Gorlovka.

É também tendo em conta o referido propósito que se enquadra a tentativa de tomada da cidade portuária de Mariupol, a Sul de Donetsk. As autoridades antigolpistas negam, no entanto, a autoria do bombardeamento que, sábado, 24, provocou cerca de trinta mortos e dezenas de feridos. Garantem que não dispõe de lançadores de mísseis Grad, que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e o executivo de Kiev afirmam terem atingido um bairro residencial.

Rússia na mira

O ministro da Defesa russo veio, entretanto, denunciar como uma peça de propaganda dos serviços secretos ucranianos o vídeo de um alegado «rebelde» infiltrado em Mariupol que «confessa» que o bombardeamento da cidade foi feito sob comando russo. Se alguma conclusão se pode retirar do «testemunho» é que foram as forças de Kiev quem bombardeou Mariupol, defende o Kremlin.

A acusação de envolvimento directo da Rússia no conflito não é nova, mas conheceu, por estes dias, uma escalada paralela ao recrudescimento dos combates no Donbass. Anteontem, o parlamento ucraniano aprovou, em sessão extraordinária, uma resolução na qual apelida a Rússia de «Estado agressor», facto que eleva o nível de confrontação.

Em Bruxelas, anuncia-se reuniões dos estados-membros sobre a crise e insiste-se no «continuado e crescente apoio dado aos separatistas pela Rússia». Entre Washington/NATO e Moscovo decorre um ping-pong sobre quem tem «legiões estrangeiras» a combater na Ucrânia, sobre a quem pode ser atribuída a instigação desta guerra, numa sucessão de palavras ásperas que os EUA dizem decorrer da «ocupação» de parte da Ucrânia pelos russos, e a Rússia sustenta ser parte de uma nova «guerra fria» destinada a fazer capitular o país e a promover a prevalência norte-americana no mundo.

 



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