Instigação ao terror
A máquina de morte estadunidense prossegue a política de terrorismo de Estado
O Paquistão voltou a exigir o fim dos ataques com drones perpetrados pelos EUA. Em nota enviada ao CS da ONU na semana passada, Islamabad relembra uma evidência gritante que a pena afiada da comunicação dominante faz por rasurar: tais actos violam a «soberania do Paquistão e o direito internacional, incluindo os direitos do homem e o direito humanitário». É verdade que a nota do governo paquistanês também afirma que as acções furtivas dos EUA «minam os esforços de luta conjunta contra o terrorismo». A resposta dos EUA não se fez porém esperar. Quatro mísseis disparados no domingo por um drone na área tribal do Waziristão do Norte provocaram pelo menos mais sete vítimas mortais. Foi a 19.ª agressão do ano com drones, só no Paquistão. A máquina de morte estadunidense prossegue metódica e impunemente a política de terrorismo de Estado, fazendo gato-sapato da autoridade e soberania paquistanesas, mas o Departamento de Estado diz-se pronto para retomar o «diálogo estratégico» com Islamabad e Washington acaba de enviar condolências pelo atentado suicida numa igreja de Peshawar. No país asiático cresce a indignação face aos crimes e intervencionismo ianques. O esfriar de relações e aprofundamento das contradições entre os dois países, traduzindo a tendência de isolamento político dos EUA, é uma realidade a seguir atentamente, mesmo sabendo-se que os vínculos de décadas de colaboração estreita das classes dirigentes paquistanesas com a manobra subversiva do imperialismo não desaparecem automaticamente por via da mera rearrumação das alianças do poder em Islamabad e no quadro regional.
Ninguém sabe ao certo o número de vítimas das operações assassinas com aparelhos guiados à distância que Bush inaugurou e Obama prossegue. Diferentes estimativas situam-no na ordem dos milhares, não apenas no Paquistão, mas também no Afeganistão, Iémen, Somália, Líbia, e outros países candidatos ao rol de «estados párias».
Bem pode Obama proclamar enfaticamente o fim da guerra infinita [contra o terror], como fez em exaltado discurso de 23 de Maio. Mas, à semelhança da prisão que continua por encerrar na base de Guantánamo, em território ocupado de Cuba, as agressões e operações encobertas comandadas pela CIA ou o Pentágono, longe de cessar, recrudesceram.
A pretexto da guerra sem quartel ao terrorismo e aos combatentes da Al-Qaeda, as acções dos EUA semeiam a desestabilização e o sectarismo, promovem forças obscurantistas e retro-alimentam a engrenagem do terrorismo, como o comprova em toda a linha a presente situação na Síria. Ao contrário da retórica securitária e humanitária que se exibe cada vez mais esfarrapada, a mancha de terror não cessa de se expandir. Enquadrada na estratégica terrorista do imperialismo que atenta hoje contra a soberania e integridade territorial dos estados e socava os princípios elementares da carta da ONU e a paz mundial.
Por ser um sintoma de fraqueza e da decadência geral do sistema com foco no centro imperialista, a ofensiva em curso torna-se mais perigosa. O poder do complexo financeiro-militar-industrial que move a política estadunidense tem razões para se inquietar. O domínio do dólar na arquitectura monetária mundial, ancorado em grande medida no sistema do petrodólar, é confrontado. O seu anacronismo faz-se patente. A monstruosa pirâmide da dívida norte-americana pende no fio da navalha.
Impedir que a estratégia de terror e da guerra do imperialismo concretize a sua agenda global é uma questão incontornável nos tempos presentes.