Mais necessária face a novas ameaças

Segue a luta nos transportes

Com greves que pararam o Metropolitano de Lisboa nas duas últimas terças-feiras, de manhã, e com uma grande manifestação que trouxe à rua a persistente luta no sector ferroviário, o Governo manda pôr em marcha centenas de despedimentos. Os trabalhadores dos transportes respondem com a intensificação da luta em unidade.

Esta política coloca em causa a segurança e qualidade do serviço público

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«O sector dos transportes e comunicações vai estar sob “fogo cerrado” nos próximos meses, pelo que urge reforçar a unidade e acção», afirmava na segunda-feira a Fectrans/CGTP-IN, num comunicado a informar que tinha convidado todos os sindicatos e comissões de trabalhadores para uma reunião, ontem, com o objectivo de «analisar todas as implicações da ofensiva do Governo e avaliar a hipótese de acções comuns ou convergentes».
A Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações explica que, nas empresas privadas e públicas do sector, os trabalhadores «estão a ser alvo de um enorme roubo nos seus salários e de um ataque sem precedentes nos seus direitos», alertando que, se tais objectivos forem concretizados, as relações de trabalho serão colocadas «ao nível dos piores anos do fascismo».
Por outro lado, o Governo está a preparar «legislação que se traduzirá num novo roubo dos salários, para entregar aos grandes grupos financeiros aquilo que tira a quem trabalha».
Com a proposta de lei 117/XII, em discussão pública até 4 de Fevereiro, o Governo «retoma a pretensão antiga de substituir os trabalhadores da revisão e fiscalização das empresas de transportes, por empresas de segurança e vigilância privada». Neste intento vê a federação explicado «o súbito interesse do secretário de Estado dos Transportes pela fraude, quando ao longo de muitos anos os governos ficaram mudos perante a exigência das estruturas de trabalhadores para se reforçar esta área de actividade, dotando as empresas dos efectivos necessários para um eficaz combate à fraude e fuga ao pagamento dos títulos de transporte». Observa ainda que, «ao mesmo tempo, ouvimos notícias de redução de postos de trabalho (despedimentos) no Metropolitano de Lisboa, na Carris, no Metro do Porto e STCP, na CP e outras», incluindo a Rodoviária de Lisboa, que começou já por despedir quatro trabalhadores, entre os quais estão representantes eleitos.

Ferroviários unidos

De um esforço em unidade, que também é reflexo do ambiente que se foi consolidando nos locais de trabalho, resultou a grande manifestação nacional de trabalhadores do sector ferroviário, no activo e reformados, realizada no dia 17, em Lisboa. Convocada pelas comissões de trabalhadores da CP, da CP Carga, da Refer e da EMEF, pela comissão de reformados, pelo SNTSF, da Fectrans/CGTP-IN, e por mais doze estruturas sindicais, a jornada de quinta-feira à tarde começou com uma concentração, junto à sede da CP, seguindo-se um desfile até à Praça de Luís de Camões, para deixar no Ministério da Economia a resolução aprovada pelos manifestantes.
O protesto, mesmo debaixo de chuva, juntou «diversas gerações que hoje se uniram, numa grande jornada de luta, a que o Governo não pode ficar indiferente, mas que foi apenas uma etapa de uma luta que está a ser prolongada e cuja solução só passa pela alteração de Governo e de políticas», como destacou o sindicato, na saudação que publicou ao fim do dia.
O deputado Bruno Dias expressou aos manifestantes a solidariedade do PCP.
Na resolução, recorda-se que, com as medidas impostas desde 2010, a redução de rendimentos dos trabalhadores já sofreu perdas equivalentes a, pelo menos, três salários mensais em cada ano. Novos cortes estão previstos na proposta de lei 106/XII (para as empresas públicas). Este «ataque brutal aos ferroviários e à ferrovia» ocorre «num quadro de preparação das empresas para processos de privatização». A par de uma forte redução de trabalhadores, tem aumentado o número de administradores e membros de comissões executivas, «num processo que ainda não terminou e feito sem critério e sem acautelar a transmissão de conhecimento especializado». A declarada intenção de reduzir ainda mais o pessoal «coloca em causa a garantia de um serviço ferroviário de qualidade e seguro».
Nas empresas do Grupo CP, mantém-se a greve ao trabalho extraordinário e em dias de descanso e feriados.

 

Razão e coragem

Conscientes da razão que lhes assiste e de que a sua luta, por salários, emprego e direitos, vai ao encontro dos interesses dos utentes e do País, trabalhadores de várias empresas de transportes têm acções marcadas para os próximos tempos.

No Metropolitano de Lisboa, vai ter lugar mais uma greve, das 6 às 10 horas, na próxima terça-feira, dia 29, realizando-se de tarde um plenário. Os trabalhadores exigem que seja respeitado o acordo de empresa, notando a Fectrans que, enquanto são exigidos sacrifícios e anunciados despedimentos, ficou-se a saber que houve aumentos de salários de quadros superiores e até do próprio presidente da empresa.

Na Carris, foi convocada uma concentração para dia 31, em defesa dos direitos que a administração quer retirar a partir de Fevereiro e em solidariedade para com Luísa Bota, representante dos trabalhadores alvo de despedimento.

Na STCP está marcada uma greve de 24 horas, para 1 de Fevereiro, em defesa dos direitos contratuais.

 

Pressa

Na edição online do Jornal de Notícias teve destaque, na manhã de anteontem, uma notícia cujo título clamava que «Chuva acentua revolta em manhã de greve no Metro». Entre outros depoimentos de utentes e histórias a propósito, lá se escrevia, a dada altura: «”Então não era só até às 10?”, perguntavam vários passageiros do Metro, inconformados, quando o relógio já marcava mais 20 minutos que aquela hora.»
Segundo apurámos, leitores mais atentos repararam que, junto ao título, as novas tecnologias permitiam ler «publicado às 09.29», o que os levou a interrogar-se sobre os motivos desta pressa em dar notícia da «revolta»... ainda antes de ela «acontecer».

 

Acidente porquê?

«A culpa não pode morrer solteira», protestou anteontem a Fectrans, numa nota em que exigiu «total esclarecimento» sobre o acidente de segunda-feira à noite, perto da estação de Alfarelos.
A federação salienta que milhões de euros foram investidos na modernização da linha. Trabalhadores, utentes e contribuintes «merecem saber o que falhou», já que «de acordo com o investimento feito no sistema de segurança, este acidente não tem razão de existir».




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