Portugal sem portos
A alteração do regime laboral do sector marítimo-portuário, desencadeada pelo Governo com apoio de patrões e estruturas da UGT, lançou o alarme e teve resposta firme dos trabalhadores, que levou à paralisação do sector.
A revisão prejudica os trabalhadores e o País
A esta luta e, em geral, à situação que se vive no sector marítimo-portuário, foi dedicada uma audição que o grupo parlamentar do PCP realizou anteontem, na AR, com a participação de representantes dos trabalhadores e de especialistas. Os deputados comunistas, como explicou Bruno Dias, num depoimento publicado no sítio do Partido na Internet, quiseram assim dar voz a quem combate a proposta de lei de revisão do regime de trabalho portuário, que o Governo aprovou dia 20, uma semana depois de ter obtido o acordo de organizações minoritárias.
Os portos de todo o País estão encerrados há mais de uma semana, devido às greves dos pilotos de barra e pessoal do controlo marítimo, nos dias 17, 18 e 25; dos estivadores, a 19 e 20 (apenas não encerrou o porto de Leixões, por acção do divisionismo sindical); dos trabalhadores das administrações portuárias, nos dias 21 e 24.
No dia 25, terça-feira, trabalhadores portuários de vários países da Europa (Espanha, Itália, França, Dinamarca, Grécia, Chipre, Suécia, Malta) realizaram uma greve simbólica de uma hora, em solidariedade com a luta no nosso País.
A grande adesão à greve e os seus efeitos noutros sectores da economia acabaram por ser uma clara resposta ao pretenso acordo que o Governo obteve dia 13 e que usou como fundamento para aprovar, uma semana depois, a proposta de lei que vai ainda fazer o percurso legislativo na AR.
As greves foram convocadas pelos sindicatos que integram a Frente Comum Sindical Marítimo-Portuária, entre os quais está um sindicato filiado na Fectrans/CGTP-IN, e que já tinham realizado uma paralisação a 14 de Agosto, considerando que as modificações pretendidas pelo Governo põem em causa os interesses e o emprego dos trabalhadores do sector, e contrariam também os interesses do País.
Rodoviárias
No dia 19, a greve na Rodoviária do Alentejo e na Trevo (Transportes Rodoviários de Évora), que fazem parte do Grupo Barraqueiro, teve uma adesão superior a 85 por cento, segundo a Fectrans/CGTP-IN, e foi «uma manifestação clara e inequívoca da disposição dos trabalhadores», pela negociação e defesa do Acordo de Empresa. Em plenário, foi aprovada nova paralisação, a 24 de Outubro, caso as negociações não avancem. A Direcção Regional de Évora do PCP saudou a luta dos trabalhadores, como «exemplo a seguir nas empresas e locais de trabalho, nas ruas e praças, de modo a travar este rumo de retrocesso laboral, social e económico».
A Fectrans reafirmou o seu empenhamento em alcançar um contrato colectivo para todos os trabalhadores da Barraqueiro Transportes, que resultou da fusão de oito empresas do Grupo Barraqueiro. Em comunicado, no dia 21, a federação apresentou o ponto da situação das negociações do novo AE e rejeitou recomeçar este processo conjuntamente com organizações sindicais que vão agora iniciá-lo. Salientou a necessidade de negociar também aumentos salariais.
Na Scotturb, num plenário que foi o mais participado dos últimos anos, foi decidida uma greve para 3 de Outubro, caso não haja resposta às reivindicações aprovadas.
Lisboa
No dia 20, no Metropolitano de Lisboa, em plenário, foram confirmadas as greves para hoje e dia 4, de manhã. Também na Transtejo e na Soflusa, os plenários de anteontem paralisaram a circulação e aprovaram novas lutas.