Síria e Irão no centro da campanha de mentiras

Imperialismo prepara novas agressões

Imersas nas contradições de um sistema em crise profunda, as potências imperialistas procuram nas guerras de agressão garantir a sua hegemonia planetária. Síria e Irão são os alvos que mais sobressaem numa campanha de mentiras cujo guião recorda o seguido nos casos da ex-Jugoslávia, Iraque e Líbia.

A propaganda da NATO assemelha-se aos casos da ex-Jugoslávia, Iraque e Líbia

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Na Síria, as botas cardadas que na última década o imperialismo fez soar nos Balcãs, Médio Oriente e Norte de África já ecoam. Episódio mais próximo foi a conferência de imprensa que a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, promoveu antes da sessão especial do Conselho dos Direitos Humanos, realizada sexta-feira, dia 2, em Genebra.

Sem pudor, Pillay falou da «necessidade urgente» da Síria «prestar contas» por alegados crimes contra a humanidade, agitando o relatório, divulgado dia 28 de Novembro, no qual se fala em pelo menos 4 mil vítimas civis em resultado da repressão por parte das autoridades dos alegados protestos populares massivos.

Pillay acrescentou ainda ao léxico da campanha uma suposta situação de «guerra civil» e um alegado fracasso evidente do regime em proteger os seus concidadãos para chegar à conclusão de que cabe à comunidade internacional «tomar medidas urgentes e eficazes para proteger o povo sírio», e ao «Conselho de Segurança relatar a situação na Síria ao Tribunal Penal Internacional».

As semelhanças com a intoxicação da opinião pública na antecâmara das agressões imperialistas contra a ex-Jugoslávia e a Líbia não carecem de legenda. Mas se dúvidas persistirem, atentem-se as denúncias feitas no site Rede Voltaire pelo jornalista Thierry Meyssan.

 

Propaganda da NATO

 

Em artigos enviados a partir da Síria, onde se encontra a investigar a situação, Meyssan sustenta que o que tem sido dito não passa de propaganda da NATO. As supostas manifestações populares em curso desde 8 de Março não só são circunscritas a escassas cidades como têm mobilizado muito poucos sírios, sobretudo quando comparadas com as multidões que se têm concentrado na capital, Damasco, e noutras grandes cidades em defesa da unidade, soberania e integridade territorial do país.

Meyssan denuncia igualmente que, para mais, nos protestos ocorridos com o carimbo da oposição (os que merecem cobertura noticiosa, portanto), as exigências não são nem democracia nem liberdade, mas a instauração de um regime islâmico.

Como dizia o poeta António Aleixo, «p’ra mentira ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade», e o facto é que os participantes destes protestos exigem ao presidente Bashar Al-Assad que se demita. Mas contrariamente ao que tem sido dito e escrito pela generalidade da comunicação social, a reivindicação resulta do desconforto para com o regime laico que este dirige. Os instigadores dos protestos consideram Assad um herege, frisa Meyssan, e pretendem instaurar um regime confessional extremo.

No campo da propaganda, acresce que, de acordo com a Aliança Atlântica e os seus sequazes no Golfo, na Síria cerca de 15 milhões de pessoas estão a passar fome. O argumento é estafado, mas no passado provou-se eficaz na neutralização da resistência dos povos à abertura dos chamados «corredores humanitários» protegidos por zonas de exclusão aérea asseguradas pelo bloco político-militar.

Ora segundo relata Thierry Meyssan, o estatuto de país auto-suficiente ao nível agrícola e com uma produção contínua não se alterou significativamente na Síria, apesar dos acontecimentos recentes. As diminuições na produção e as carências na rede de distribuição de bens essenciais, onde existem, não são fruto do isolamento de regiões sublevadas, mas dos ataques de grupos de bandoleiros e do sedimento criado pelas sanções económicas impostas pelo imperialismo, particularmente contundentes nas exportações de combustíveis fósseis e no turismo.

Mais exacto seria dizer que «sem a ajuda do governo de Bashar Al-Assad, 1,5 milhões de sírios encontrar-se-iam hoje em situação de desnutrição», conclui Meyssan que revela que combustíveis e alimentos têm sido distribuídos pelo Estado.

 

Mentiras descaradas

 

O correspondente da Rede Voltaire considera ainda falso o número de mortos apresentado, inclusivamente pela Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Mesmo admitindo que o total de vítimas se cifra em metade do que é propagandeado, as suas investigações junto de hospitais e morgues civis e militares permitem-lhe afirmar que a maioria são soldados e polícias atingidos por franco-atiradores em emboscadas, os quais, para instalar o caos, não poupam também civis.

Os desertores de que tanto se tem falado, estimados em 1500 soldados sírios que se terão recusado a reprimir o próprio povo, não excedem as dezenas, salienta Meyssan. Estes, prossegue, não ficaram na Síria mas fugiram para a Turquia, onde operam às ordens de Rifaat el-Assad y Abdel Hakim Khaddam, publicamente vinculados à CIA, e sob a bandeira do auto-intitulado Exército Sírio Livre.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com sede em Londres, é a fonte predilecta citada desde o início da campanha mediática contra a Síria. E aqui reside a mentira mais descarada em toda esta história.

Também em artigos publicados na Rede Voltaire, é possível obter o contraditório das mentiras imperialistas. As alegadas 4 mil vítimas de que fala a Alta Comissária Navi Pillay não foram objecto de comprovação sequer pelas Nações Unidas. Assumiram-se como verdadeiros e incontestáveis os dados do OSDH.

Ora, a verdade é que segundo o Russia Today, a maioria das supostas 3500 vítimas do regime sírio estarão vivas. A lista, acusa-se, terá sido elaborada pela organização de «opositores» retirando o nome dos mortos… da lista telefónica.

A RT relata que a OSDH raramente revela o nome das vítimas. Quando o fez, após muita insistência dos jornalistas, o apuramento feito pelos profissionais da comunicação social indicou que os indivíduos dados se encontravam vivos e de boa saúde.

Parece valer tudo para os imperialistas, que confrontados com a crise profunda do sistema capitalista, procuram nas guerras de agressão e saque perpetuar a sua hegemonia mundial.

Mas a Síria não é o Iraque arrasado por uma guerra e definhado por mais de uma década de sanções. O país onde como nenhum outro do Médio Oriente convivem harmoniosamente comunidades de fé e crenças diversas, tem ainda o apoio da China e Rússia.

Esta última, forneceu mesmo sistemas de defesa litoral e reforçou a capacidade naval da sua base em Tartus, sinal de que não está disposta a aceitar mais este avanço imperialista para próximo das suas fronteiras.

 

Filme já visto

 

No Irão, a investida militar encontra-se em fase menos acelerada, embora, como sublinhou, quinta-feira, à rádio pública do país o ministro da Defesa israelita, Ehud Barak, todas as opções se encontrem em cima da mesa.

A cautela por parte dos EUA estará relacionada com a necessidade de não afectar de forma prolongada as exportações de petróleo iraniano (Lusa), cuja interrupção do fluxo poderia fazer disparar o preço do crude reflectindo-se nas economias capitalistas em crise.

Por outro lado, o regime de Teerão não se encontra isolado como se pretende fazer crer. Para além da Rússia e da China se manifestarem abertamente contra uma aventura militar dirigida ao território, o conjunto dos países não-alinhados veio criticar recentemente o relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) sobre o programa nuclear iraniano, e defendeu o direito da nação persa a desenvolver aquela tecnologia com fins pacíficos.

O Irão é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear e nenhuma prova é apresentada no documento da AIEA que indique que tal está a ser violado, o que torna tão defensáveis as acusações sobre a capacidade do Irão em produzir armamento nuclear quanto as que diziam que o Iraque possuía armas de destruição em massa.

Não obstante, a pressão da comunidade internacional e as campanhas mediáticas continuam a cumprir o seu papel de sufocar e diabolizar o regime, respectivamente.

No primeiro plano, sinalize-se a aprovação, a semana passada, no Senado norte-americano, de um novo projecto que sanciona qualquer instituição que se relacione com o Banco Central do Irão, isto depois de a 21 de Novembro o Tesouro dos EUA ter declarado o território «jurisdição de preocupação prioritária por causa da lavagem de dinheiro».

Quinta-feira, 1, também a União Europeia decidiu acrescentar outras 180 entidades e responsáveis iranianos à sua lista negra.

Entretanto, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, foi à Turquia acertar agulhas com o governo local sobre a situação na Síria e aproveitou a ocasião para tratar da instalação na Turquia do chamado escudo antimíssil norte-americano, projecto que o Irão (mas também a Rússia) consideram uma ameaça directa à sua segurança e à paz na região.

Já no plano mediático, o relevo dado por estes dias à invasão da embaixada britânica em Teerão contrasta com o silêncio face às misteriosas explosões que têm atingido as instalações nucleares iranianas e o assassinato de cientistas daquele país nos meses precedentes.

É chocante a tímida difusão informativa quando o ministro da Defesa de Israel se congratula com aqueles incidentes dizendo, segundo nota da Lusa, que «tudo aquilo que atrase o programa nuclear iraniano, seja proveniente do céu ou produzido por outros meios, é bem-vindo», ou quando o máximo responsável da AIEA, Yukiya Amano, difunde publicamente a lista dos cientistas nucleares iranianos, tornando-os vulneráveis a novas investidas homicidas.



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