Os jovens cubanos estão mobilizados
Aproveitando a presença em Portugal da União de Jovens Comunistas de Cuba (UJC), organização que participou na Assembleia da Federação Mundial da Juventude Democrática, o Avante! conversou com duas jovens dirigentes comunistas que garantiram que em Cuba a juventude não é espectadora das transformações em curso no País, mas parte activa na decisão e execução das orientações políticas.
«Na nossa sociedade existe um diálogo permanente»
O processo de mudanças que está a ser levado a cabo no país, com o objectivo, dizem, de impulsionar a produção, garantir as conquistas revolucionárias e avançar para novos patamares de desenvolvimento económico e progresso social, tem nos jovens cubanos protagonistas centrais.
É o que assegura Liudmila Dueñas, primeira secretária da UJC, para quem «há uma participação real dos jovens, não apenas como militantes da nossa organização mas enquanto estudantes ou trabalhadores».
Exemplo disso mesmo, afirmou, foi a sua ampla disponibilidade para o debate que antecedeu o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba, realizado em Abril deste ano. Durante esse período, «as suas opiniões, críticas e sugestões foram expressas livremente e, sobretudo, tidas em conta», o que «acabou por reflectir-se na proposta final aprovada», acrescenta.
No concreto, frisa, estão à vista as alterações promovidas no que diz respeito ao acesso à habitação e na reforma estrutural do sistema educativo. Neste último caso, concluiu-se que ainda que a formação superior se mantenha como um direito inalienável de todos os cubanos, é necessário tornar atractiva «a formação média vocacionada para a produção industrial e agrícola.
Desde o início do processo de debate, «cerca de 30 mil jovens foram incorporados no trabalho da terra». O seu contacto com a realidade permitiu afinar melhor as mudanças neste sector de actividade, por exemplo «quanto à política de preços» ou à «diversidade de cultivos», o que, por sua vez, teve resultados positivos na diminuição das importações, permitindo libertar recursos necessários na «consolidação do nosso sistema social», explicou Liudmila Dueñas.
«É evidente que nem todas as preocupações e anseios dos jovens cubanos vão ter uma resposta imediata», admite a primeira secretária da UJC. Mas o que se observa é que os apelos à «eficiência e à disciplina no trabalho» têm colhido nos jovens.
Reforçar a consciência
Parte central deste processo é o fortalecimento da consciência da juventude quanto «ao contexto internacional em que se enquadra Cuba –
país pobre e bloqueado há mais de 50 anos – e à construção de soluções para avançar, pesem todas as dificuldades que nos são impostas», salientou também a dirigente.
«Mais de 70 por cento da população de Cuba nasceu após a revolução», recorda, por seu lado, Leira Valdivia, responsável da secção internacional da UJC. «Isto quer dizer que nunca viveram qualquer período de desafogo económico, defrontando-se sempre com o bloqueio dos EUA e com as suas consequências».
Ora, prosseguiu Leira Valdivia, «em todos os processos de ajuste a que fomos obrigados, sempre os jovens cubanos assumiram a primeira linha na tomada de decisões e na sua execução». Desta vez não é diferente, insiste, para concluir que «na nossa sociedade existe um diálogo permanente entre instituições e povo», o qual, «neste momento, se observa na avaliação dos resultados pelo conjunto das nossas organizações políticas», na «aplicação das orientações gerais adequadas aos obstáculos e potencialidades de cada província ou centro produtivo», na «responsabilização de todos» pela obra colectiva.
Importante na manutenção da consciência quanto à situação de Cuba, tem sido, igualmente, «a informação constante para que os jovens não olvidem que é a política norte-americana de sanções que impede Cuba de se desenvolver plenamente», e a sua legislação extraterritorial que impede muitas nações e empresas de se relacionarem com o nosso país», refere Leira Valdivia.
«Os jovens têm de perceber as reduzidas possibilidades de acção que temos, para que sejam mais efectivos e coerentes», salienta.
Exemplos a não esquecer
Papel importante na formação dos jovens cubanos têm também os Cinco patriotas cubanos detidos ilegal e injustamente nos EUA. Esgotadas as vias legais, resta «insistir na amplificação da solidariedade e da reivindicação da sua libertação», em especial «entre os jovens norte-americanos», que são os que vão «prosseguir a batalha», lembrou Liudmila Dueñas.
Também os jovens cubanos o farão, aduziu, se «mantivermos intenso o esclarecimento sobre o caso destes Cinco heróis», e o «exemplo que nos oferecem», dado que, «mesmo nas mais difíceis condições, nunca traíram o seu povo e os seus ideais».
«Se o conseguirmos – acrescentou Leira Valdivia – os jovens cubanos vão manter-se ao lado daqueles que, quando jovens, defenderam o exercício pleno da soberania e o direito de um povo decidir o seu próprio destino».
E isso é mais que exigir a libertação de cinco combatentes, mas manter todo um povo livre, concluímos nós.