Não nos assustam…

Aurélio Santos

No pas­sado dia 1 de Ou­tubro, cerca de 200 000 pes­soas ma­ni­fes­taram-se nas ruas das ci­dades de Lisboa e Porto – 180 mil pes­soas que estão can­sadas de tanta aus­te­ri­dade, de tanta in­jus­tiça, de tanto sa­cri­fício inútil. 180 mil pes­soas que já não su­portam mais ser as vítimas per­ma­nentes de um ca­pi­ta­lismo sel­vagem, que re­clamam uma dis­tri­buição mais justa da ri­queza, que exigem uma outra política e um outro rumo para o seu país.

Com quantos e quantos mi­lhões de euros con­tri­buirão estas pes­soas ao longo do ano para o PIB deste país? Com quantos mi­lhões con­tri­buíram de im­postos? Se­gu­ra­mente com muitos e muitos mi­lhões. Mas para o Go­verno nada acon­teceu, nem uma pa­lavra, nem o mais leve co­men­tário. Aliás, re­cen­te­mente dizia o sr. pri­meiro-mi­nistro, num tom dis­pli­cente, «as pes­soas podem ma­ni­festar-se à von­tade desde que não pro­vo­quem dis­túr­bios» – não re­sisto a daqui mandar um re­cado – «não pre­ci­samos da au­to­ri­zação do sr. pri­meiro-mi­nistro para nos ma­ni­fes­tarmos, esse foi um di­reito que ad­qui­rimos com o 25 de Abril e com a Cons­ti­tuição que ele nos trouxe, dele não abri­remos mão e ma­ni­festar-nos-emos sempre que o con­si­de­rarmos útil e im­por­tante.

Mas, não deixa de ser per­ti­nente per­guntar: se o Go­verno ig­nora li­mi­nar­mente tão gran­diosa ma­ni­fes­tação, que de­verão fazer os ma­ni­fes­tantes para que as suas justas rei­vin­di­ca­ções sejam ou­vidas? Po­derá o sr. pri­meiro-mi­nistro ex­plicar?

E outro cu­rioso facto acorreu pre­ci­sa­mente no dia da ma­ni­fes­tação e no dia se­guinte os te­le­jor­nais e a im­pressa es­crita trouxeram a público a no­tícia de um re­la­tório dos co­man­dantes das po­lí­cias sobre pre­visão de mo­tins e tu­multos nos pró­ximos tempos em Por­tugal em con­sequência das me­didas de aus­te­ri­dade. Como ti­veram os media acesso a esse re­la­tório? Porque foi jus­ta­mente di­vul­gado a par das ima­gens da ma­ni­fes­tação? Porque se tentou juntar as duas coisas? Pa­rece que anda al­guém a querer meter medo a al­guém.

Tais mé­todos cheiram a fas­cismo. Mas podem estar certos não nos as­sus­tarão.



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