Bloco de Elástico
«Esquerda de confiança» era o lema que se podia ler no cenário de fundo verde da VII Convenção do Bloco de Esquerda que, à parte da eleição da sua Mesa Nacional foi, no essencial, marcada pela discussão da estratégia eleitoral e pelo lançamento do discurso de campanha do BE e das ideias centrais do seu programa eleitoral.
Mas, apesar dos titânicos esforços do núcleo dirigente para minimizar danos em período pré-eleitoral, esta Convenção não conseguiu esconder as profundas contradições, indefinições e conflitos que caracterizam a sua vida interna e o seu posicionamento político, e que põem a nu as suas incongruências, o seu oportunismo e crescente falta de credibilidade.
No meio das altercações entre a Ruptura/FER e a corrente social-democrata, a convenção do BE lembrou-nos a fase da adolescência. Desde logo pela ziguezagueante hesitação de Louçã sobre o que é o seu «governo de esquerda» afirmando na sexta-feira que este incluía o PS, mas sem Sócrates! e no domingo voltando com meia palavra atrás, não deixando contudo de atirar com a «riquíssima» fórmula de que o tal «governo de esquerda» é um governo que «recusa a bancarrota, defende o emprego e uma “economia de decência”» Um adolescente indeciso dos seus primeiros amores não faria melhor.
Ao ouvir os principais dirigentes do BE lembrámo-nos de um jogo muito popular entre os adolescentes: o jogo das palavras proibidas. E nesta Convenção elas foram: balanço crítico; Manuel Alegre; ataque à Líbia, ajuda à Grécia, Moção de Censura…
Mas compreendemos que assim tenha de ser num partido onde um dos seus deputados europeus diz que é um mero «eleitor» desse Partido; onde uma das suas destacadas dirigentes afirma com grande entusiasmo que o Bloco não tem uma ideologia; ou ainda onde um dos seus deputados e destacado dirigente assina um manifesto para a criação de um «movimento social mundial», «pela regulação democrática e solidária do capitalismo». Foi só pena não vermos Daniel Oliveira e Joana Amaral Dias a jogar ao elástico… o jogo mais indicado para um Partido que estica e encolhe a «esquerda grande» à medida das conveniências e das tricas internas e que encolhe cada vez mais a «confiança» que teima em pôr à direita da palavra «esquerda».