Balanços de fim de ano
É certo e sabido: aproximando-se o fim de cada ano, não há órgão de comunicação social que resista a fazer balanços sobre os acontecimentos do ano que passou. Nada contra o exercício, que até é útil para recordar as imagens e os acontecimentos dos últimos 12 meses.
O que está em causa é o critério. Vê-se, ouve-se e lê-se os balanços mais variados – os acontecimentos políticos, as maiores tragédias, as mais espantosas conquistas científicas, artísticas e desportivas – com a escolha de especialistas, com base nas opiniões das redacções ou em modelo «opinião pública» nas rádios e nas televisões nacionais. E falta sempre qualquer coisa – luta.
É verdade que numa ou noutra escolha lá aparecem imagens de manifestações em França ou na Grécia – quanto mais longe, melhor –, de preferência mostrando violência, gente encapuzada e coisas a arder. Sempre sem referir a razão, a dimensão e o objectivo do protesto.
Sobre a luta em Portugal – nada. E caramba! – se houve anos em que a luta dos trabalhadores e das populações esteve acesa no nosso país, 2010 foi um deles. Manifestações de dimensão histórica – a de 29 de Maio em Lisboa, para só referir uma – ou uma das maiores greves gerais de sempre não parecem ter espaço nestes balanços oficiais do regime.
Ainda cheios de espírito natalício, podemos condescender e pensar que as listas, sendo feitas com base na cobertura noticiosa dos últimos 365 dias, não podiam incluir o que teve tão pouco destaque logo na altura. Mas estas coisas não são feitas por acaso, nem por inocência.
A invisibilidade da luta, no dia a dia como em tempos de balanço, cumpre um objectivo bem definido: alimentar a ideia de que não há alternativa, que temos que nos conformar, que quem pensa e age diferente está não só enganado como isolado. Sozinho. Mostrar as tais imagens «violentas» da luta noutros países só pretende contribuir exactamente para o mesmo objectivo.
A solução não passa por truques de magia. Passa por protestar e intervir sempre que se possa nos órgãos de comunicação social. Passa por envolver cada vez mais e mais gente na luta. E passa por divulgar cada vez mais o Avante! – o único jornal que relata, estimula e valoriza a luta.