Cancioneiro da mediocridade

José Casanova

«Fernanda Câncio, jornalista», são nome e alcunha da autora de uma peça dada à luz no Diário de Notícias e onde se pretende insultar o Avante! e quem nele trabalha. Pretensão desde logo condenada ao fiasco, já que tais insultos, vindos de quem vêm, constituem, isso sim, um rasgado elogio aos insultados.

Trata-se de uma peça confeccionada com os ingredientes de uso recorrente pelos jornalistas-tipo da nova ordem mediática, de que a Câncio é um triste exemplar. Trata-se, por isso, de uma peça que em nada se distingue, na forma como no conteúdo, das prosas que a autora habitualmente assina – a confirmar que os efeitos da desinformação veiculada pelos média dominantes não são menores nos que a produzem do que nos leitores que constituem o seu alvo.

São assim os média dominantes: enquanto propriedade dos grandes grupos económicos e financeiros, servem, exclusivamente, os interesses do patrão.

São, por isso, uniformes na opinião divulgada e gémeos na desinformação organizada (podendo dar-se ao luxo de, num gesto «plural», abrir as portas a uma ou outra voz diferente).

Chegam todos os dias a todo o lado, num eficiente serviço combinado, tendo como objectivo principal fabricar a «opinião pública» através da opinião muitas vezes publicada.

São «isentos» e «imparciais» - patranha que, por efeito de repetição exaustiva, vão transformando em «verdade»...

Para serem o que são, exigem fidelidade canina a quem os serve. E quem os serve – os «novos cães de guarda» do sistema, na feliz designação de Serge Halimi - cumpre festivamente a tarefa. Por vocação e salário.

(há, também, os jornalistas – os que para isso estudaram e isso desejam ser – mas que para assegurar o emprego têm que se sujeitar à «liberdade de informação» dominante expressa na já celebrizada declaração de princípios: «no meu jornal, os jornalistas têm toda a liberdade de escrever o que eu penso»)

Com os seus nome e alcunha, «Fernanda Câncio, jornalista» integra a turba canora que, à frente dos média dominantes, entoa, em coro síncrono, o vasto reportório do cancioneiro da mediocridade e da abjecção que é o conteúdo dos média dominantes.

Daí o que escreve.



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