Uma certa maneira de fazer política

Vasco Cardoso

Beneficiando de apaparicos e simpatias por parte da generalidade da comunicação social, há quem julgue estar acima do escrutínio crítico do povo, permitindo-se com a maior das frescuras dizer com a mesma cara séria uma coisa hoje e o seu contrário amanhã.

Vem isto a propósito das afirmações que ao longo do mês – inclusive na entrevista desta semana à TVI 24 – Francisco Louçã foi fazendo para justificar o apoio do BE ao candidato do PS nas eleições presidenciais: «Os candidatos presidenciais nada têm a ver com partidos», o BE não se «engana no adversário», aliás, é o «único partido que se empenha convictamente na derrota de Cavaco Silva»…

Estas sonantes afirmações, bem ao estilo da tão frequente autoproclamada «nova forma de fazer política», tropeçam na primeira esquina com evidentes contradições.

Comecemos pelo papel dos partidos nestas eleições e pelo enorme jeito que agora dá, sobretudo quando se decidiu dar o apoio ao candidato do partido do governo, fingir que Cavaco Silva nada tem a ver com o PSD ou que Jorge Sampaio e Mário Soares nem sequer foram secretários-gerais do PS, já para não falar dos candidatos Fernando Rosas e F. Louçã, apoiados em 2001 e 2006 sabe-se lá por quem.

Olhemos ainda para o tal «engano» no adversário que agora se diz não existir, mas que, por maioria de razão, parece ter acontecido há cinco anos quando, em semelhantes circunstâncias – incluindo a já existente candidatura de M. Alegre –, foi o próprio Louçã, o candidato do BE à presidência sendo que, já na altura, eram evidentes os perigos de CS ganhar as eleições.

Terminemos com um banho de humildade, os tais «únicos» que se empenham nisto e naquilo (recentemente o mesmo Louçã disse que em Portugal só o BE combatia a NATO), numa verdadeira recuperação da tese: antes de nós, o deserto. Toda uma revelação que torna difícil explicar como é que o povo português foi capaz de lutar e derrotar CS sem o BE, como aconteceu com o fim de 10 anos de maioria absoluta do PSD em 1995 e com a sua derrota nas eleições presidenciais de 1996.

Aqui chegados, importa fazer a justa separação das águas. Nestas eleições, o PCP assumiu mais uma vez as suas responsabilidades. Não só os comunistas têm o seu candidato – Francisco Lopes – como o têm todos aqueles que querem uma efectiva mudança na vida nacional. Uma candidatura com projecto próprio que, ninguém duvide disso, contribuirá para derrotar efectivamente Cavaco Silva. Uma candidatura que está com a luta e que não está nem ao lado nem calada perante a actual ofensiva do PS e do PSD. Uma candidatura, essa sim, que não engana!



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