Marx e a fábula do lacrau

Aurélio Santos

Conta uma velha fábula que o lacrau pediu à rã para o ajudar a atravessar um rio. A meio da cor­rente cravou-lhe no dorso o seu ferrão, dizendo enquanto ambos se afogavam: «Que queres? eu não posso fugir à minha natureza».

O capitalismo, instalado nas costas do mundo, está fazendo como o lacrau da fábula: Que querem? Ele não pode fugir à sua natureza...

Marx e Engels, no seu «Manifesto do Partido Comunista», essa obra que marcou a nossa época, já apontavam a natureza maléfica do capitalismo:

A burguesia – dizia o Manifesto – «é incapaz de assegurar ao seu escravo (o assalariado) a própria existência no quadro da escravidão, porque é obrigada a deixá-lo afundar-se numa situação em que tem de ser ela a alimentá-lo em vez de ser alimentada por ele». A sua dominação – concluía – «já não é compatível com a sociedade».

Basta um mergulho na história do capitalismo para lhe sentir a natureza exploradora, farejadora de lucros, com o internacionalis­mo latente, permanente e determinado de ladrão profissional.

O capital não possui qualquer ideal que vise o bem estar da sociedade. Nos dias de hoje, como se está vendo, a sua principal produção é a pobreza.

Desde o século XVI ele é o grande roubador da riqueza feita de actividade humana. Roubando trabalho e ideias, que também são trabalho. Faz promessas eufóricas a quem aceite obedientemente a sua natureza: explorar para uns quantos privile­giados; ser explorado para a esmagadora maioria produtora do trabalho real que faz mover o mundo.

Obviamente, o capital concentra no socialismo o alvo preferencial da sua raiva, promovendo com ódio campanhas anticomunistas, que pretende utilizar como vacina pelo terror, caluniando-o como ideia utópica de sonhadores loucos, levada à prática por ditadores cruéis. Campanha que abocanhou raivosamente a experiência breve de construção do socialis­mo em menos de um século, enquanto o capitalis­mo, após quatro séculos de dominação arras­ta o mundo para o seu afogamento: que querem, ele não pode fugir à sua natureza...

Que o nosso mundo não se resigne a ser a rã transportando docilmente no seu dorso o lacrau capitalista.



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