Peniche dá rosto e nome aos que morreram pela liberdade
No passado domingo, 27, decorreu uma sessão comemorativa do 51.º aniversário da libertação dos presos políticos, organizada pelo PCP. Esta sessão contou com a presença do Secretário-Geral, Paulo Raimundo, assim como do histórico dirigente comunista, Domingos Abrantes.
«Disseram não para que a água da vida corresse limpa»
Volvidos 51 anos da libertação dos presos políticos de Peniche, as portas do forte abriam-se para acolher muitos comunistas e resistentes antifascistas que se juntaram para prestar uma justa homenagem a todos aqueles que deram a vida pela democracia. O forte de Peniche é representativo da violência assassina do fascismo, mas é também prova da heróica resistência de todos os que lhe fizeram frente, e também de momentos singulares de vitórias contra o regime como, por exemplo, a fuga de Peniche de vários dirigentes comunistas.
Milhares de presos
Todo este espaço envolto em que milhares de lutadores foram aprisionados e torturados está repleto de história e simbologia que é necessário não esquecer. Na batalha pela reposição da verdade histórica daquilo que o fascismo representou para o nosso povo, a existência do Museu Nacional Resistência e Liberdade, localizado no forte, foi conquistada através de uma longa e dura luta da população de Peniche, da URAP e do PCP, que nunca desistiram da urgência de lembrar a resistência. Da fonte central onde lemos «disseram não para que a água da vida corresse limpa» ao mural que assinala os mais de 2626 presos políticos em Peniche, coberto por 51 cravos colocados antes da sessão, são muitos os símbolos de resistência espalhados por este espaço que devemos valorizar e recordar, para que nunca mais aconteça fascismo.
Partido da Liberdade
Chegada a hora da sessão, vários dirigentes do Partido posicionaram-se em frente a um novo mural do museu onde podemos ler os nomes de 222 pessoas assassinadas pelo regime fascista. Muitas delas, ainda hoje, sem que o seu local de enterro tenha sido descoberto.
Introduzindo a iniciativa, Clara Abrantes, lembrou o dia em que as portas do forte se abriram e os presos deram de frente com uma «multidão que os recebia» cheios de «esperança no futuro». A libertação dos presos políticos significou para os muitos encarcerados a confirmação da liberdade conquistada escassos dias antes, dava-se mais um passo no derrube do fascismo e na construção de um país diferente.
De seguida, foi a vez de Domingos Abrantes, um dos mais de 2000 presos políticos desta mesma cadeia, dar o seu testemunho. Lembrando os mais de 200 que «apodreceram na cadeia», Domingos Abrantes frisou que, mesmo com estes nomes todos, o mural está ainda longe de corresponder à verdade. «Muitos outros morreram e desapareceram» sem nós «sabermos onde estão enterrados». Perante isto, continua a ser urgente «dar rosto e nome aos que morreram pela liberdade», tarefa dos comunistas que, sendo do «Partido da Liberdade», «pagaram um preço como nenhuma outra força». Apesar dos muito mortos homenageados no mural serem de diversas origens sociais, «a grande maioria são trabalhadores» que «morreram nas greves, nas manifestações, na luta popular contra o fascismo», trabalhadores que, a par dos comunistas, assumiram sempre o seu papel histórico na luta contra a exploração e pela construção da sociedade nova.
Por sua vez, Paulo Raimundo, começou por saudar todos os resistentes anti-fascistas, suas famílias e todo o povo português e de Peniche que «em nenhum momento deixaram os presos e as famílias sozinhos». Lembrou ainda que, dos 222 nomes inscritos no Memorial do Museu “Em memória dos que morreram pela liberdade”, 91 eram militantes comunistas, desde os que foram torturados até à morte como José Moreira ou Germano Vidigal, nas prisões como Militão Ribeiro, ou em plena rua, como Dias Coelho ou Catarina Eufémia. Só esta luta com uma «causa tão nobre e tão justa» da «democracia, do socialismo e do comunismo» poderia fazer nascer tão belos ideais como os de Abril, celebrados de forma tão expressiva nas comemorações populares da passada semana. Concluindo, apontou que os tempos exigem «coragem e determinação para retomar essa extraordinária obra de construção colectiva que foi a Revolução de Abril» esse «Abril que é mais futuro» e que «todos nós, em particular a juventude, não vamos permitir que ande para trás.»