Baralhar e dar de novo
Os EUA tentam “mudar as regras durante o jogo”
O significativo e diferenciado aumento das tarifas comerciais imposto pela Administração Trump aos parceiros comerciais dos EUA constitui mais uma medida de carácter coercivo – como o são as sanções económicas – com que o imperialismo norte-americano tenta contrariar tendências que têm determinado a evolução da situação internacional, desde logo o declínio relativo dos EUA, expressão do processo de rearrumação de forças no plano mundial, no qual a República Popular da China assume um papel central.
Este “baralhar e dar de novo” por parte da Administração Trump intenta determinar um “mudar de regras durante o jogo”, obviamente a partir da constatação de que, a continuarem as actuais regras globais no plano comercial – também elas determinadas anteriormente pelos EUA –, se está a perder, logo de que outros o estão a ganhar. Ou seja, para manter os intentos do imperialismo, há que ditar novas regras.
Pelo que, apesar de continuar a tirar partido do domínio que exerce sobre as instituições financeiras internacionais e do bloqueio que impõe ao mecanismo de resolução de litígios no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), esta tentativa por parte dos EUA de retomar a iniciativa, para além dos custos e riscos que para si também comporta, traduz antes demais as profundas contradições e sérias dificuldades com que estes se debatem e que não conseguem superar, o que igualmente revela desespero.
A imposição das tarifas é discricionária, embora não poupando aliados, tem um alvo preferencial que é a China, mas também outros países, incluindo do Sudeste Asiático, com quem a China tem vindo a desenvolver importantes laços comerciais.
As ondas de choque poderão ser significativas e repercutir-se por um período tanto mais longo, quanto os EUA tenham condições políticas e económicas para manter a “guerra económica”, atingindo os países cujas economias estejam mais dependentes das exportações, nomeadamente para os EUA. É ainda difícil de prever a extensão dos efeitos das medidas anunciadas, pois não só a imposição das tarifas é utilizada como instrumento de chantagem negocial para extorquir a outros países mais vantajosas condições – no plano comercial e, em geral, económico, incluindo dos recursos – para o grande capital norte-americano, como esses efeitos dependerão da postura que cada país adoptar (ou não) em defesa dos seus legítimos interesses. No entanto, tal como noutras situações anteriores, o grande capital procurará repercutir nos trabalhadores os custos da deterioração da situação económica em cada país, ao mesmo tempo que acumula fabulosos lucros, agravando ainda mais as injustiças e as desigualdades sociais.
Consciente dos intentos e da forma de proceder da Administração Trump, a China assumiu uma postura firme e confiante, afirma estar preparada para o embate e procura articular uma resposta conjunta com outros países às medidas coercivas e disruptivas impostas pelos EUA que visam desagregar as cadeias globais de abastecimento e recuperar as rédeas do sistema de comércio internacional – veja-se, entre outros exemplos, a reunião conjunta entre a China, a Coreia do Sul e o Japão.
Entretanto, outra face do imperialismo norte-americano expõe-se de forma inequívoca: Trump anuncia, durante um encontro em Washington, com a presença de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, que o total das despesas militares dos EUA para 2026 se aproximaria de um milhão de milhões de dólares...