Eles têm medo da paz

Albano Nunes

A paz é favorável à luta libertadora dos trabalhadores e dos povos

Sim, a classe dominante na União Europeia tem medo da paz. Há muito que prescreveu a própria palavra e que aqueles que se batem contra o militarismo e contra a guerra são silenciados, caluniados e mesmo perseguidos. O chamado “abandono do chapéu de segurança da Europa” pelos EUA, por um lado, e a “ameaça de Moscovo” por outro, estão a servir de justificação para impor um brutal aumento das despesas militares a coberto de slogans como “sem segurança não há liberdade nem estado social”. A adopção pelo Conselho Europeu de 6 de Março do plano de 800 mil milhões de euros em despesas militares constitui uma decisão de extraordinária gravidade.

É conhecido o que tem significado para a “Europa” (na realidade a União Europeia) o tal “chapéu” norte-americano: o mesmo padrão neoliberal de exploração capitalista, alinhamento com a estratégia de hegemonia mundial dos EUA, transformação da UE em pilar europeu da NATO, sujeição a imposições ruinosas como no caso da Alemanha que já leva dois anos de recessão. Foi ao abrigo de tal “chapéu”que a UE acompanhou a cavalgada da NATO para o Leste da Europa e que se empenhou a fundo numa guerra por procuração dos EUA contra a Rússia, guerra de que agora a nova administração norte-americana procura desembaraçar-se no quadro de um reajustamento táctico apontado para a região Ásia-Pacífico para “conter” a China.

As contradições e incertezas que estão a perturbar o “atlantismo” poderiam em teoria constituir uma oportunidade para sacudir o domínio dos EUA no continente europeu e enveredar por um caminho de paz e da cooperação no grande espaço euro-asiático. Mas não, não é por aí que vai o grande capital, pois isso seria contrário à sua natureza. Perante os graves problemas económicos e políticos que atravessam e a braços com a “crise na e da UE” que há muito o PCP apontou, as grandes potências capitalistas da Europa vêem no desenvolvimento do complexo militar-industrial “europeu”, no reforço do federalismo e na agitação do espectro de uma “guerra inevitável”, o caminho para abafar o descontentamento popular e ultrapassar as dificuldades em que se debatem.

Entretanto, apanhadas a contra-mão, desmultiplicam-se em “cimeiras”, mendigam junto da administração norte-americana moderação dos seus ímpetos disruptivos, competem entre si por protagonismo e influência no processo em torno da guerra na Ucrânia. O Reino Unido (Keir Starmer) depois do acordo com a Ucrânia “para 100 anos”, do encontro com Trump e da pífia “cimeira” de Londres, promete “botas em terra e aviões no ar”; a França (Macron), sempre na primeira linha da “autonomia estratégica” da UE e do envio de forças militares para a Ucrânia, põe à disposição da “defesa europeia” o arsenal nuclear francês; a Alemanha (Scholz e Merz), que procura recuperar a liderança da UE, propõe-se rever a Constituição para acabar com o “travão da dívida” e poder gastar à tripa forra em armas. “Estamos na era do rearmamento”, proclama a falcão von der Leyen.

Sim, eles temem a paz e fogem como o diabo da cruz de acordos sobre segurança e cooperação na Europa porque a sua política exploradora e opressora seria mais rapidamente desmascarada. A paz é favorável à luta libertadora dos trabalhadores e dos povos.



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